
Não sou go

Enfrento também uma batalha na compra de roupas: Calças que ficam curtas e não acomodam meu bumbum e quadris ― generosa herança africana. Blusas curtas na barriga, mangas que não chegam aos punhos, camisas que não abotoam.
E vendedoras que sempre se espantam quando as roupas da loja não me servem. Elas dizem: "Mas você não é gorda! Como não serviu?"

"Não, você não pode usar 48, vai ficar grande pra você!" (Isso quando há 48 na loja. Geralmente a numeração cessa no 44).
E depois...
"Ué... não é que precisa de um número maior mesmo?"
"Você é alta e tem um corpo bonito, não entendo!"
Uma mostra de que não há NADA DE ERRADO COM NOSSOS CORPOS. A indústria é que não fornece a variedade necessária para a diversidade humana. Não há como um mesmo manequim servir

Também já escutei muita coisa desagradável em relação à minha aparência. Comentários de espanto pela altura são o de menos.
A impressão que fica é que todas nós mulheres somos encaixadas em determinados “rótulos” e estes sempre tem papel de grilhões, de prisão. Ai daquela que quiser ser mais que o clichê que lhe foi imposto. O que me incomoda mais é o estereótipo de "globeleza", "mulata do carnaval" (argh) como já ouvi. E como ouvi...
Uma amiga de longa data (cursamos faculdade juntas e ela convive comigo

E que não, isso não me faz obrigatoriamente querer calçar uma plataforma purpurinada e sair me exibindo com pouca ou nenhuma roupa.
Quantas e quantas vezes já não ouvi acerca da minha escolha profissional: “Professora?! Ah, vai ser modelo! Com o corpo que você tem...”
Uma professora durante o magistério chegou ao cúmulo de falar "Vai pra Globo menina, que aqui você está perdendo tempo!"
E isso sempre me incomodou demais, porque nunca quis ser definida pelo corpo que tenho, por uma aparênc

Esta não era a única questão: ser vista como um objeto, um cabide no qual a roupa desfila, e todo o ambiente de menosprezo à mulher, não era o que queria para mim.
Cheguei a ser convidada para trabalhar como modelo aos 16 anos. Eu era incrivelmente magra ― coisas da adolescência, um corpo em formação, estirão de crescimento etc ― e pesava 20 kg a menos que hoje. Puro osso. Mesmo assim, quando fui à agência, o cara que ia a

Eu tinha CERTEZA de que não tinha barriga coisa nenhuma, era magra até demais, e o cara querendo por nóia na minha cabeça. Fui embora e não voltei mais. Tinha certeza de que não queria aquela maluquice na minha vida.
Boa remuneração é bom? Com certeza. Mas a que custo? Sempre gostei muito de ler, de aprender, e sempre quis que o meu papel no mundo fizesse alguma diferença para melhor na vida das pessoas. Não quero ofender quem trabalha na indústria da moda, mas da maneira como está, do jeito como o sistema funciona, não é uma indústria a favor das pessoas e sim do capital.
Gosto de usar roupas bonitas, me enfeitar, pois aprecio a beleza em tudo o que me cerca, como aprecio a be

Penso que eles não fabricam roupa para nenhuma mulher feliz. Há que ser infeliz para agradar a indústria da moda. E como as irmãs de Cinderela, cortar fora dedões e calcanhares para caber no sapatinho de cristal.
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