Como disse no post de domingo pra segunda, tentei falar com a Dani, moça que foi atacada por um pitboy na boate Major Lock, em Belo Horizonte, e que com muita coragem expôs sua história no Facebook, gerando gra
nde repercussão. Não consegui, mas ontem ela entrou em contato comigo, e eu perguntei se poderia entrevistá-la por email. Ela foi muito receptiva e aceitou. Eis minhas perguntas (em negrito e itálico) e suas respostas.
Você poderia falar um pouco de você? Quem é essa Dani que pôs a boca no trombone?
A Dani é uma consultora em treinamentos, estudante de Publicidade, 28 anos, tatuada, divorciada, frequentadora da noite de Belo Horizonte desde os 16 anos. Sempre morei sozinha e nunca curti isso de que mulher é sexo frágil! Luto pelos mesmos direitos desde sempre! Abro uma lata de palmito como ninguém. rs
Explique pra gente o que aconteceu. Quando foi isso?
Na noite de sexta pra sábado por volta de 1h eu me dirigi ao Major Lock para p
restigiar uma banda de amigos. Estava uma noite agradável. Boate não tão cheia e o show maravilhoso. Até o momento em que decidi ir buscar uma bebida e fui abordada por um rapaz que quis me beijar a força, fato comum nesse tipo de boate. Me esquivei e o abusado encheu a mão na minha bunda. Eu o repreendi alertando-o que chamaria o segurança e ele me chamou de lésbica, apertou meu braço e pasmem, me puxou e ... eu estou morta de vergonha de dizer... ELE ENFIOU A MÃO DEBAIXO DO MEU VESTIDO E TOCOU EM MIM e ainda me deu um banho de energético! Fiquei molhada e estagnada no mesmo lugar! CHOCADA! O brutamontes dava dois de mim!
Eram 2 da manhã. Procurei o segurança, relatei o ocorrido e o marginal sumiu. Alguns minutos depois ele
voltou. Fui falar com ele para certificar que era ele enquanto minha amiga foi chamar o segurança. Ele me dizia que tatuadas ou são lésbicas ou p*tas e que tinha preconceito. P*tas e lésbicas também merecem respeito! Ele falava com muita ênfase a palavra "tatuada".
O segurança veio prontamente mas foi levado na conversa! Era a minha palavra contra a dele. Eu tinha três testemunhas indignadas, e bastou o cara negar que foi logo liberado e sequer advertido. Alegaram que não houve flagrante e um segurança despreparado veio me dizer que "Maria da Penha" só se aplica a casais casados! E eu nem havia falado em tal lei, mas falei sobre violência contra a mulher, que foi o que ocorreu. Em seguida me dirigi ao proprietário do estabelecimento que prontamente me disse: "Vim aqui pra curtir. Faça o mesmo".
Como alguém pode curtir algo após tal violência e falta de respeito?
O proprietário me disse que não poderia fazer nada, me ridicularizou dizendo: "Pode chamar a polícia..." Ele estava seguro demais que não teria problemas com a polícia! Procurei o agressor por 30 minutos, porém sem sucesso. Saí da boate por volta de 3 horas.
Como você está se sentindo, agora que já teve tempo para esfriar a cabeça? O que você pretende fazer?
Eu estou com sede de justiça! Estou magoada pelo que ando lendo. Mulheres ficando a favor da violência, me acusando de causar o assédio ou me acusando de ser oportunista. Mas me mantenho firme no propósito de levar até o fim tudo isso! Eu não vou permitir que pelo meu silêncio, outras mulheres sofram mais violência.
Por que você
acha que alguns homens agem tão agressivamente? De onde vem essa dificuldade em receber um “não”?
Autoafirmação. Acham que por serem homens são donos da razão. E pra falar a verdade, algumas mulheres que não têm coragem de botar a boca no trombone, encorajam esses animais a fazerem o que dá na telha. Eles ainda carregam consigo isso de que mulher tem que ser submissa! Mas comigo isso não existe! Pago meus impostos tanto quanto eles! Eu decido se digo sim ou não!
Mulher gosta de homem “com pegada”?
Só pegada consentida!
Achei relevante o que você disse sobre ter sido abusada não por um, mas por vários homens -- todos aqueles que, na boate, você procurou para tomar providências.
Como você vê essa cumplicidade masculina?
A cumplicidade masculina chega a cegar. O machismo veio tanto à tona, que homens esqueceram de ver o assunto em foco para defender uns aos outros na qualidade de homens. Uma coisa absurda. Tive que dizer um: "Alô? Atenção pro foco?" Eu vi homens se sentindo "injustiçados" por eu dizer que tenho medo de héteros. Eles só esqueceram de prestar atenção pro fato que eu também sou hétero. Por outro lado, tive um apoio muito grande de muitos homens. Mas os poucos que foram contrários a mim foram suficientes para me chocar!
Você propõe um boicote à boate que te destratou, a Major Lock?
Não exatamente um boicote! Não tenho o interesse que a casa feche, nem que nada de mal aconteça com ninguém dali. Mas eu acho válido que seja passado um pente fino na forma de administração e que se possível os proprietários mudem a forma grotesca de administração da casa e entendam que um
público seguro mantem muito mais o nome de uma casa. Quem terá interesse em ir a um lugar que não respeita o espaço do outro, que nao ouve o seu cliente, que não proporciona segurança? Quando a boate solicitou seu alvará de funcionamento, certamente foi orientada sobre regras de segurança. Mas por hora estou me defendendo dos ataques de funcionários e frequentador@s de nível duvidoso. Se necessário, tomarei uma postura mais rígida.
Você sem dúvida deve estar acompanhando o caso da estudante de Direito Rhanna, que teve o braço quebrado por um rapaz já com um histórico de violência. Rhanna disse “Meu caso virou minha causa”. Você pretende também abraçar esta causa?
O caso Rhanna com certeza me deu muita força pra prosseguir com a nota. Liguei a TV e vi que passaria no Fantástico o caso dela. Meu sangue ferveu na hora ao perceber que nos números de violência contra a mulher eu era mais uma. Não pensei duas vezes e apertei o enter. Já abracei a causa! Não paro enquanto não for feita justiça.

O que você acha que os homens podem fazer para que essas situações não se repitam?
Darem uma boa lida na mudança das leis! O que eu sofri caracteriza estupro, mas acho que nem todo homem sabe disso!
Por outro lado, vendo tantos homens abraçando minha causa, acho que pode servir como um tapa de luva para os demais que acham que eu só estou fazendo barulho. Ver um homem abraçando uma causa dessas é no mínimo gratificante sim.
E as mulheres, nós podemos fazer alguma coisa?
Não ficarem caladas! Abrirem a boca! Não permitirem nenhum tipo de abuso! Elas não devem ter medo!
O que você tem
a dizer para quem acha que “balada não é lugar de moça direita”? Quer dizer, merece resposta?
Nem merece resposta, mas eu o farei: qualquer lugar hoje é lugar de todo mundo! Respeito tem que existir em todos os lugares. Pago meus impostos e tenho o direito de ir onde eu quiser sem que eu tenha que ser assediada.
Assim como a Rhanna, você também vem se expondo bastante. Você tem medo?
Não vou mentir: Tenho. Muito! Mas não vou me calar. Nao posso morrer na praia!
Você se considera feminista? Como este caso afetou sua visão de mundo?
Muito! As coisas mudam quando acontece com alguém próximo. Mas aconte
ceu comigo! Eu estou com medo de pessoas e há três dias sem sair de casa. Estou assustada.
Força, Dani! Você não está sozinha! Chega de abusos! Conte conosco: mexeu com uma, mexeu com todas.

Você poderia falar um pouco de você? Quem é essa Dani que pôs a boca no trombone?
A Dani é uma consultora em treinamentos, estudante de Publicidade, 28 anos, tatuada, divorciada, frequentadora da noite de Belo Horizonte desde os 16 anos. Sempre morei sozinha e nunca curti isso de que mulher é sexo frágil! Luto pelos mesmos direitos desde sempre! Abro uma lata de palmito como ninguém. rs
Explique pra gente o que aconteceu. Quando foi isso?
Na noite de sexta pra sábado por volta de 1h eu me dirigi ao Major Lock para p

Eram 2 da manhã. Procurei o segurança, relatei o ocorrido e o marginal sumiu. Alguns minutos depois ele

O segurança veio prontamente mas foi levado na conversa! Era a minha palavra contra a dele. Eu tinha três testemunhas indignadas, e bastou o cara negar que foi logo liberado e sequer advertido. Alegaram que não houve flagrante e um segurança despreparado veio me dizer que "Maria da Penha" só se aplica a casais casados! E eu nem havia falado em tal lei, mas falei sobre violência contra a mulher, que foi o que ocorreu. Em seguida me dirigi ao proprietário do estabelecimento que prontamente me disse: "Vim aqui pra curtir. Faça o mesmo".
Como alguém pode curtir algo após tal violência e falta de respeito?

O proprietário me disse que não poderia fazer nada, me ridicularizou dizendo: "Pode chamar a polícia..." Ele estava seguro demais que não teria problemas com a polícia! Procurei o agressor por 30 minutos, porém sem sucesso. Saí da boate por volta de 3 horas.
Como você está se sentindo, agora que já teve tempo para esfriar a cabeça? O que você pretende fazer?
Eu estou com sede de justiça! Estou magoada pelo que ando lendo. Mulheres ficando a favor da violência, me acusando de causar o assédio ou me acusando de ser oportunista. Mas me mantenho firme no propósito de levar até o fim tudo isso! Eu não vou permitir que pelo meu silêncio, outras mulheres sofram mais violência.
Por que você

Autoafirmação. Acham que por serem homens são donos da razão. E pra falar a verdade, algumas mulheres que não têm coragem de botar a boca no trombone, encorajam esses animais a fazerem o que dá na telha. Eles ainda carregam consigo isso de que mulher tem que ser submissa! Mas comigo isso não existe! Pago meus impostos tanto quanto eles! Eu decido se digo sim ou não!
Mulher gosta de homem “com pegada”?
Só pegada consentida!
Achei relevante o que você disse sobre ter sido abusada não por um, mas por vários homens -- todos aqueles que, na boate, você procurou para tomar providências.

A cumplicidade masculina chega a cegar. O machismo veio tanto à tona, que homens esqueceram de ver o assunto em foco para defender uns aos outros na qualidade de homens. Uma coisa absurda. Tive que dizer um: "Alô? Atenção pro foco?" Eu vi homens se sentindo "injustiçados" por eu dizer que tenho medo de héteros. Eles só esqueceram de prestar atenção pro fato que eu também sou hétero. Por outro lado, tive um apoio muito grande de muitos homens. Mas os poucos que foram contrários a mim foram suficientes para me chocar!
Você propõe um boicote à boate que te destratou, a Major Lock?
Não exatamente um boicote! Não tenho o interesse que a casa feche, nem que nada de mal aconteça com ninguém dali. Mas eu acho válido que seja passado um pente fino na forma de administração e que se possível os proprietários mudem a forma grotesca de administração da casa e entendam que um

Você sem dúvida deve estar acompanhando o caso da estudante de Direito Rhanna, que teve o braço quebrado por um rapaz já com um histórico de violência. Rhanna disse “Meu caso virou minha causa”. Você pretende também abraçar esta causa?
O caso Rhanna com certeza me deu muita força pra prosseguir com a nota. Liguei a TV e vi que passaria no Fantástico o caso dela. Meu sangue ferveu na hora ao perceber que nos números de violência contra a mulher eu era mais uma. Não pensei duas vezes e apertei o enter. Já abracei a causa! Não paro enquanto não for feita justiça.

O que você acha que os homens podem fazer para que essas situações não se repitam?
Darem uma boa lida na mudança das leis! O que eu sofri caracteriza estupro, mas acho que nem todo homem sabe disso!
Por outro lado, vendo tantos homens abraçando minha causa, acho que pode servir como um tapa de luva para os demais que acham que eu só estou fazendo barulho. Ver um homem abraçando uma causa dessas é no mínimo gratificante sim.
E as mulheres, nós podemos fazer alguma coisa?
Não ficarem caladas! Abrirem a boca! Não permitirem nenhum tipo de abuso! Elas não devem ter medo!
O que você tem

Nem merece resposta, mas eu o farei: qualquer lugar hoje é lugar de todo mundo! Respeito tem que existir em todos os lugares. Pago meus impostos e tenho o direito de ir onde eu quiser sem que eu tenha que ser assediada.
Assim como a Rhanna, você também vem se expondo bastante. Você tem medo?
Não vou mentir: Tenho. Muito! Mas não vou me calar. Nao posso morrer na praia!
Você se considera feminista? Como este caso afetou sua visão de mundo?
Muito! As coisas mudam quando acontece com alguém próximo. Mas aconte

Força, Dani! Você não está sozinha! Chega de abusos! Conte conosco: mexeu com uma, mexeu com todas.