Tuesday, October 12, 2010

Operação Massacre...Rodolfo Walsh

Em 9 de junho de 1956, dez meses depois do golpe de Estado que derrubou Juan Domingo Perón da presidência da Argentina, o general Juan José Valle liderou uma sublevação destinada a reconduzir o líder, então exilado, ao poder. Rapidamente reprimido, o movimento não durou 72 horas e teve como trágica consequência a morte de 27 pessoas, entre civis e militares, quase todos fuzilados sob os auspícios da Lei Marcial que o governo do general Pedro Eugenio Aramburu decretou na ocasião.

O “putsch” fracassado do general Valle tinha tudo para se alojar numa nota de rodapé da história, como mais um entre tantos outros golpes e contragolpes militares ocorridos na América Latina durante o século 20. Mas a curiosidade de um repórter acabou elevando-o a uma outra categoria. Tornou-se um episódio exemplar a respeito da truculência do Estado e, não menos importante, uma aula de jornalismo
No final de 1956, Rodolfo Walsh (1927-1977) jogava xadrez e bebia cerveja num bar em La Plata quando ouviu a frase que determinou novo rumo a sua carreira e vida. “Um fuzilado está vivo”. Autor de novelas policiais, Walsh foi fisgado por aquelas poucas palavras, que referiam-se a um sobrevivente do golpe frustrado de junho. Ao resolver ouvi-lo, acabou mergulhando numa investigação jornalística fantástica.
“Operação Massacre”, publicado pela primeira vez em 1957, descreve em detalhes a saga kafkiana de uma dezena de cidadãos que, reunidos para ouvir uma luta de boxe pelo rádio na casa de um conhecido na noite do golpe, foram presos pela polícia e fuzilados, na madrugada do dia seguinte, sem saber por quê.
Walsh reconstitui em detalhes o perfil de cada um dos doze homens presos, depois descreve minuto a minuto os acontecimentos que os levaram a um descampado, onde foram fuzilados. Com a ajuda de outros sobreviventes, que localizou, e de sua investigação detetivesca, o jornalista consegue provar que a maioria não tinha ligação alguma com a tentativa de golpe e mesmo aqueles que sabiam não tiveram envolvimento direto com a ação do general Valle.
Walsh também consegue provar que a ação de captura e morte deste grupo foi ilegal, uma vez que ocorreu horas antes da decretação da Lei Marcial, que o Estado usou como justificativa oficial para os acontecimento
As primeiras reportagens de Walsh sobre o assunto foram recusadas por todos os principias jornais e revistas argentinos. Publicadas em órgãos independentes e de pequena tiragem, tiveram pouca repercussão. Em inúmeros prólogos, introduções e epílogos adicionados à edição original do trabalho em livro, o escritor descreve a sua brava saga solitária.
Vinte anos depois de publicada a primeira edição de “Operação Massacre”, em 1977, Walsh escreveu uma carta-aberta à ditadura militar então de plantão, comandada pelo general Jorge Videla, denunciado os seus crimes e sua contribuição para o desastre da economia argentina. Desapareceu no dia seguinte e integra, desde então, as estatísticas de uma das ditaduras mais cruéis da América Latina.

Publicado pela primeira vez no Brasil, dentro da coleção Jornalismo Literário, “Operação Massacre”
 (Companhia das Letras, 284 págs., R$ 46) traz um esclarecedor estudo de Natalia Brizuela, mostrando como a investigação jornalística de Walsh é devedora de seu interesse pela literatura policial, e uma “nota biográfica” de Ruy Castro, que acrescenta elementos ao seu perfil.
Tags: Jornalismo Literário, Operação Massacre, Rodolfo Walsh

por Mauricio Stycer às 13:11

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