Sou fã de cart

Venho de uma família de classe média. Sempre me considerei uma pessoa bem resolvida, de mente aberta e crítica. Ou seja, tinha crenças

Comecei a namorar aos 20 anos de idade, e namorei por 8 anos. Meu namoro era uma coisa meio indefinida, só nós encontrávamos aos fins de semana, geralmente para fazermos programas que meu namorado escolhia. Eu tinha uma postura muito passiva em relação a esse relacionamento e nas poucas vezes que colocava minhas vontades na frente dele eu encontrava um muro, uma negação ou uma postura infantil de cara amarrada e "vou fazer mas estou contrariado". Eu me submeti a isso, me submeti porque achava que precisava dele, que não era b

Como cheguei a isso? Hoje, depois de muita terapia sei que foi tudo construído ao longo da minha adolescência, onde eu era considerada a menina esquisita da escola: muito pálida, cabelo preto que geralmente escondia meu rosto, e livros, muitos livros. Eu era tímida e tinha os livros como amigos fiéis. Meus apelidos carinhosos eram "bruxa" ou "sapatona". Dentro de um grupo burguês de classe média eu era considerada totalmente fora dos padrões estabelecidos. Nem preciso dizer que demorei até os 16 anos pra beijar na boca. Minhas inseguranças eram enormes.
Na faculdade elas melhoraram um pouco, comecei a sair mais, a ficar com outros caras e a me sentir melhor comigo mesma. Porém, ao contrário das minhas colegas, eu nã

Engraçado como a vida nos prega peças e nos tornamos os prisioneiros da caverna de Platão, vivemos vendo as sombras e acreditamos que elas são reais. Eu era infeliz mas acreditava que a vida era assim mesmo e, apesar de ser consciente, de trabalhar desde os 18 anos, eu via mas não enxergava.
Durante esses oito anos meu namorado terminou duas vezes comigo. As duas foram por telefone, e depois eu soube que ele terminou porque estava me traindo. Eu voltei pra ele as duas vezes.
O problema é que eu era a menina perfeita pra casar, de boa família, trabalhadora e tinha acabado de pa

Eu era uma pessoa com duas vidas, no campo profissional era uma mulher segura, alegre e "bem resolvida", e no campo afetivo eu era uma "mulherzinha".
Apesar de tudo eu casei (importante dizer que minha família foi contra e que eles enxergavam o que eu não queria ver) e tentei. Durante quase dois anos fiz tudo pro casamento dar certo. Minha infelicidade era uma coisa apertada no meu peito, algo que eu não conseguia definir. Admitir que meu casamento não me fazia feliz era admitir um grande

Engordei. Fiz dieta. O problema é que à medida que eu perdia peso eu comecei a ter dores, dores nos ombros, no pescoço, enxaquecas. Eu vivia com dor. Fui ao médico e me viraram do avesso, nem preciso falar que não encontraram nada, afinal meu problema não era físico. Meu pai, que é médico, já tinha sacado o que eu não queria admitir: meu problema era depressão. Ele me levou a um colega e eu comecei a tomar antidepressivos. Me senti horrível, sempre fui agitada e brincalhona, e o remédio me deixava sonolenta. Era uma cópia sem graça de mim mesma.

Meu marido achava que eu estava ficando maluca, era o que ele falava pras pessoas. Um dia consegui tomar coragem para falar pra ele que eu era infeliz, falar tudo que estava sentindo. Ele se mostrou compreensivo, e no dia seguinte ligou pro meu pai. A pergunta que ele fez é se o remédio tinha mudado meu comportamento, se eu tinha virado outra pessoa. Meu pai, morrendo de raiva, respondeu que o remédio só tinha me dado forças pra falar o que sentia. Os dois nunca mais se falaram, meu marido passou a criticar muito meu pai. O nome dele era proibido lá em casa, assim como o da minha mãe. Pra estar casada eu tinha que ter uma vida dividida em que minha família e meu marido não

Pouco depois saí de casa e voltei pros meus pais. Passei um fim de semana chorando sem parar. Minha mãe, em desespero, conseguiu o telefone de uma terapeuta e marcou uma consulta: foi a melhor coisa que eu fiz.
Voltei pra casa pra terminar direito aquele casamento, eu devia isso pra mim. Saber que não tinha mais volta.
Depois de encerrado o casamento, saí de casa e voltei pra casa dos meus pais. Voltei me sentindo livre, voltei jogando fora a cartela e remédios e com a certeza de que não preciso mais, voltei conhecendo a mim mesma, voltei sabendo que sou capaz de muitas coisas e que sou dona da minha vida. Voltei a ser feliz.
Nem pr

Lola, escrevo isso porque sei que muitas mulheres vivem o que eu vivi e não têm a sorte que eu tive: de contar com uma família maravilhosa que me apoiou muito. Escrevo isso porque olho pra minha história e penso que ela poderia ter sido escrita por uma mulher da década de 1950, 60 ou 70, mas que foi escrita por mim, uma mulher independente e crítica. Uma mulher que apesar de tudo não conseguia enxergar que estava presa nas amarras de uma sociedade machista e que reproduzia conceitos que abomino.

Chego ao fim desse relato com um agradecimento pra ti, você com seus textos foi capaz de abrir meus olhos. Foi conversando sobre um post seu (o da menina estuprada numa boate) e ouvindo a opinião do meu ex-marido que eu pensei de maneira clara: que diabos estou fazendo com esse MACHISTA?
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