

Estamos presenciando atualmente, nas redes sociais, vlogs e blogs humorísticos brasileiros, o crescimento de uma onda de alfacismo ora piadístico, ora claramente ofensivo contra o vegetarianismo e o veganismo. Ela segue um padrão Rafinha Bastos de “humor”, divulgando ora pôsteres reacionários sobre produtos à base de gado e comer alface, ora vídeos xingadores, cativando os internautas onívoros que antipatizam com a possibilidade de ser persuadidos a pararem de comer carne.
Nos últimos meses a mania vem crescendo ineditamente. Os principais motes vêm sendo videoclipes amadores, cujas músicas possuem letras chulas dirigindo ofensas aos v

Até o momento essa modinha tem sido algo relativamente centralizado e pouco criativo, com uma variedade pequena de conteúdo alfacista reproduzindo-se e atraindo muitas visitas. No que se refere às imagens, dois memes têm sido viralmente reproduzidos: o pôster “Esta alface morreu só para que você pudesse ser vegetariano. Tenha compaixão, coma pedras” e o cartaz “Produtos à base de gado/Sua vida é uma ilusão, seu vegetariano chato!” (versão light da que chamava “vegan chato do car…”). Já os vídeos que encabeçam a mania são os clipes “Carnívoro Song” e o “Vegan, minha comida caga na sua”, ambos de um mesmo autor.
Essas “atrações”, embora transmitam pouco ou nenhum argumento (o único conteúdo que ainda dá par

Ou, caso não esteja aberto a qualquer debate, usa os clichês ofensivos do tipo “minha comida caga na sua”, “enfia seu húmus na casa do car…”, “vegetariano não gosta de buc…”, aprendidos nos vídeos alfacistas, seja defensivamente quando um vegetariano o questiona, seja ofensivamente quando este está quieto.
Por enquanto a nova mania reacionária não se estende ainda sob forma de textos, sendo a grande maioria dos artigos alfacistas existentes no momento anteriores à ascensão do escracho antivegetariano. Mas talvez seja só uma qu

Alguns blogs com número robusto de visitas parecem já estar a postos, esperando a moda evoluir do mero escracho a um movimento conservador sério para então começarem a dar embasamento aos recusadores mais agressivos do vegetarianismo. Isso deverá acontecer em poucos meses ou alguns anos. Mas não se espera deles uma maturidade lógica e emocional (leia-se textos sem agressividade e sem falácias). Deverão certamente seguir o mesmo padrão de argumentação falha e ofensiva dos textos hoje existentes.
É previsível que esse movimento alfacista cresça, e muito, nos próximos meses ou anos, mas felizmente esse não é um motivo de desânimo ou uma evidência de retrocesso da conscientização semeada pelos defensores dos Direitos Animais. Pelo contrário, é um ótimo sinal. Indica que o vegetarianismo e o veganismo estão crescendo muito e praticamente já não podem mais ser ignor

Não comer animais e suas secreções é um assunto que chama cada vez mais a atenção da mídia, seja tratado com aparente imparcialidade, seja difamado por manipulação. O vegetarianismo e o veganismo entram em pauta em quase todos os fóruns de discussão e em muitas rodas de conversa. E a tendência é propagar-se mais e mais pela sociedade.
Assim sendo, os que rejeitam visceralmente a ideia de parar de comer carne e desfrutar do paladar dessa mescla de músculo, gordura e tempero já não podem mais fingir que nós vegs não existimos. Como não podem mais nos ignorar, lançam-se no reacionaris

Isso já era esperado, uma vez que os Direitos Animais confrontam os interesses e prazeres de muita gente e desafia as crenças e tradições hegemônicas. Assim como os homofóbicos contra a ascensão do movimento LGBT, os misógino-machistas contra o progresso e aprofundamento do feminismo e o os cristãos intolerantes contra o crescimento do ateísmo e do movimento neoateísta, os alfacistas apareceriam e cresceriam em notoriedade de qualquer jeito.
E o melhor de tudo é que, por mais que atrapalhem e tentem impedir os progressistas de promover os avanços nos direitos dos historicamente dominados, os conservadores não conseguem deter

Ao invés de nos desanimar, a crescente mania do alfacismo deve nos dar forças, por ser um indicativo de que nossa luta pelos direitos dos animais não humanos está obtendo progressos exponenciais e é superior ao nervosismo alfacista, e também por nos fazer corrigir ou descartar argumentos falhos. Se dogmatismo –- vide o uso de poucas imagens como “verdades inquestionáveis” -–, ofensas anti-intelectuais ou travestidas de cientificidade e falácias são tudo o que o reacionarismo antivegetariano tem para oferecer, é muito difícil que vá ao menos arranhar a luta pelo respeito aos animais.
*A imagem “Produtos à base de gado” deve ser questionada com

- Todas as marcas de todos os produtos listados no pôster usam restos mortais bovinos? Ou há substitutos?
- Realmente todos os produtos listados usam ainda hoje ingredientes de origem bovina? Ou tem aqueles que usavam no passado e não mais hoje?
- Tendo sido a tal imagem traduzida do inglês (título original “Products made from cattle/Conclusion: There’s no such thing as a vegan”), não existe a possibilidade de alguns dos produtos listados terem ingredientes bovinos apenas nos EUA, e não no Brasil?
- Quais produtos listados não têm substitutos veganos no Brasil?
- Como comprovar a veracidade da mensagem passada (“Todos estes produtos, em todas as suas marcas, usam ingredientes derivados do gado e não têm nenhum substituto vegano, logo o veganismo é uma farsa”)?

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