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Eu noto que sou uma pré-histórica jurássica da era mesozoica quando o pessoal da nova geração fala em friendzone. Ok, antes disso também. Na minha adolescência a gente nem usava o termo “ficar” ainda. Mas é um exemplo de como aprendo com vocês. Em vários posts vocês têm deixado comentários incríveis sobre essa tal da “zona da amizade”, que é, pelo que eu entendi, o grande temor masculino de que a menina o veja apenas como amigo. Lógico que um conceito desses se baseia no mito como “homem e mulher não podem ser amigos, porque o cara sempre vai querer transar com a amiga”, que se baseia em outro mito, aquele de que mulher não gosta de sexo (porque, se gostasse, transaria com todo mundo. Imagino que o friends with benefits – que é a nossa velha “amizade colorida” – envolva mulheres também, não?). Bom, em vez de eu continuar falando besteira, vou deixar vocês com alguns comentários perspicazes de lind@s leitor@s sobre friendzone.
Beatriz: “Tenho ÓDIO dessa história de friendzone. Sou nerd, quietinha, cheia de amigos homens, que constantemente me acusam de deixá-los na friendzone e só sair com 'cafas'. Eles acham que estão sendo super legais comigo, mas querem saber? Não estão.
O amigo que tipicamente leva um fora meu sempre é um cara com quem eu até ficaria se ele não agisse que nem um maluco. Aham, maluco. Ei, conheço o modus operandi. Poderia escrever um livro.
Vc está lá vivendo sua vida, feliz alegre e contente, quando um dos seus amigos começa a se aproximar mais. No começo, é fofo e vc fica mexida. Ele te procura, manda msgs legais, chama para bons programas, ouve quando vc precisa... só que aí, invariavelmente, quando estamos próximos e começa a parecer que vai acontecer algo, o cara começa a dar maus sinais. Gruda em vc, manda msgs toda hora, quer sabe o que vc vai fazer. Se mostra magoado com as ausências mais bobas, como faltar a um cinema porque tem prova do curso de inglês. Começa a ter ciúmes do seus amigos (e a dizer isso e provocar briguinhas). Começa a falar mal de outras meninas pra vc (muitas delas suas amigas), comparando ('vc é legal, agora a X é piranha'). Começa a ser intrusivo, às vezes procurando membros da sua família constantemente na sua ausência. Começa a demonstrar carência excessiva, falando que precisa de 'apoio', te deixando apavorada em não corresponder essa demanda emocional enorme. Quando o freak-dar tá apitando alerta de emergência no último nível, ele se declara. Vc recusa porque se o cara, como amigo, já tá sugando sua vida de canudinho, namorando vc tá é f#$%##, minha amiga. E aí ele te acusa! ACUSA. Porque ele foi legal então parece que pode te EXIGIR que vc o namore. E aí, senhoras e senhores, fica claro porque vc fugiu do exu. Ele é machista. A atenção dele é machista, controladora, opressiva. Ele não quer SER seu namorado, ele quer TER a namorada.
Andei apaixonadíssima por um típico cafa na visão desses caras, que nada mais é que um sujeito legal com mulher e que, por gostar de sexo, transa sempre. Ele terminou comigo após um mês de relacionamento, após me dar todos os sinais de que era pra vida toda e me deixar caidinha. Somos super amigos hoje, BFFs [Nota da editora: Best Friends Forever -- não precisa me agradecer por decifrar as siglas, mãe] mesmo. Meus amigos friendzoned ficam indignados por eu adorar o cara, mas eu sou sincera com eles: o sujeito me confundiu, mas eu fui pra cama porque quis (não concordo com isso de mulher usada, quem usa quem? eu gozo também e adoro) e o fofo foi um cavalheiro comigo no término, não me enchendo o saco, não fazendo joguinhos, se distanciando quando precisei de privacidade para sofrer. Tudo que eles, os 'caras legais', não fazem. Sinceramente? Com todos os pesares o 'cafa' me dá menos dor de cabeça (e ainda é feminista e de esquerda, o que me conquistou a princípio, haha)”.
Anônimo: “Isso de 'Ah eu sou tão legal mas não pego ninguém' é exemplo de entitlement, de se sentir no direito de algo só porque faz isso e aquilo. Vai ficar na seca mesmo. Faz por merecer que a coisa acontece naturalmente e não porque você acha que deve”.
Anônimo: “Não fique com joguinho de dar comida pra esse tamagochi até ele me amar”.
Yulia2: “Um cara que te faz gentileza esperando favores sexuais NÃO É LEGAL NÃO É BONZINHO P*RRA NENHUMA! COM O PERDÃO DO PALAVREADO! Ele é apenas e tão somente o cafajeste que NÃO DEU CERTO! OU UM CAFA FRUSTRADO. SÓ E NADA MAIS! Um cara VERDADEIRAMENTE LEGAL é assim naturalmente com todos, sem esperar NADA em troca.”
Lord Anderson: “Pros caras que adoram falar de friendzone, eu pergunto: quantas mulheres vcs deixam lá? Quantas moças nerds, introvertidas, mais gordinhas ou que não a super-mega-hiper-gata vcs não dão atenção? Essa coisa de FD funciona para os dois lados, mas infelizmente muitos homens têm essa mentalidade de que a mulher é obrigada a se relacionar com ele só pq ele foi legal, quando gentileza e respeito deveriam ser coisas obrigatórias pra todo mundo.” [Nota da autora do blog: Quem acha que com essa postura bacana o Lord só faz amizade não sabe do papo que rola no Twitter. Outro dia uma leitora quis saber onde podia encontrar um Lord Anderson na cidade dela].
O Ramon, um leitor que chegou a comentar bastante por aqui, e depois parou, me mandou um email que me deixou muito feliz. Já faz um tempinho. Pedi permissão para
publicá-lo, e ei-lo. Ah, no post que escrevi respondendo uma pergunta do Ramon, eu não estava sendo sarcástica em nenhum momento! Incrível como a gente não tem controle sobre como as pessoas vão interpretar o que dizemos... Muito obrigada pelo retorno, Ramon.Confesso que sinto um certo nervosismo ao lhe mandar um e-mail pela primeira vez! Também não estou seguro se você irá lê-lo ou não, imagino que você deva receber de
zenas de mensagens todos os dias e você certamente deve ter mais a fazer da vida. Ainda assim, sinto-me na obrigação de agradecê-la pelo post sobre ofensas dirigidas a mulheres, especialmente por você ter compreendido a essência da ideia (fiquei com medo de você me considerar um discípulo do Bolsonaro). Alguns amigos e amigas leram o post e lhe acharam desrespeitosa demais, mas confesso que gosto mais quando você põe seu sarcasmo ácido em ação (mesmo que seja comigo). Gostei especialmente dos comentários, rio só de lembrar deles!Peço desculpas por lhe agradecer só agora, infelizmente o timing do post nã
o foi bom para mim pois estava na quinzena de provas e eu costumo me desligar da rede durante esse período para me concentrar. Mas o que importa é que eu li e voltei a ler o blog em dia.É interessante como as pessoas mudam, quando estão dispostas a mudar. Há um ano, eu provavelmente estaria ameaçando lhe processar agora mesmo e também já teria denunciado seu blog ao Blogspot por violação das regras de conduta. Ainda me lembro da repulsa que sentia quando comecei a ler seu blog. "Como esta p*** v**** p****** tem coragem de me chamar de MISÓGINO? Logo eu, que me esforço TANTO para ser liberal e respeitar os direitos humanos?" Lia suas palavras como se tivessem sido escritas pelo Ali Kamel ou pelo Diogo Mainardi.Com o passar do te
mpo, seus argumentos foram me vencendo pouco a pouco. Você deve muito às suas leitoras, aliás! Confesso que nunca vi tower defenders (gíria da internet para os comentaristas que defendem o blogueiro) tão leais e tão decididas quanto as suas! Hahahahahaha!Aprendi muito com elas e com você também. Acredito que a ficha tenha caído nos posts sobre os privilégios da "maioria" branca, heterossexual e do sexo masculino. É interessante porque eu sou "branco" -- se é que eu tenho o direito de me chamar deste jei
to num país tão miscigenado como o Brasil, mas é como eu me vejo e, principalmente, como sou visto pelos outros -- e homem. Eu sempre achei que fosse parte da "minoria", mas não, não sou. Não recebo os olhares de desprezo ou piedade dos professores geralmente dirigidos aos alunos cotistas (afinal, se um negro está na faculdade, só pode ter sido por cota!) e, olha só que interessante!, se eu tirar 10 numa prova, foi porque eu me esforcei, e não porque dei mole para o professor. É tão fácil apontar os defeitos dos outros quando se é vítima de um abuso, mas o praticante do preconceito dificilmente se apercebe disso. Para falar a v
erdade, se não fosse pelo seu "bloguinho", jamais teria sido capaz de mudar.Não passei a frequentar seu blog com a melhor das intenções, mas aqui estou eu, agradecendo-lhe e, por que não, reforçando o pedido para que você nunca pare de escrever: as pessoas mudam! Elas só precisam de alguns (milhares de) empurrões!
Semana passada recebi o telefonema carinhoso da minha editora no jornal. Este é o texto que foi publicado ontem no jornal.Tenho boas e más notícias pra contar. Qual você quer ouvir primeiro? Ok, a má: esta é minha última coluna no A Notícia. E agora a boa: esta é minha últi
ma coluna no A Notícia. Claro, dependendo de quem lê, a mesma notícia é boa ou má. Pra quem me considera meio diferente, anti-convencional, feminista demais, de esquerda, ateia, e várias outras coisas que sempre fui e continuarei sendo, não deixa de ser uma boa notícia que eu pare de colaborar pro jornal. Mas pra quem gostava de me ler, e principalmente pra mim, é uma péssima notícia. Eu adorava escrever aqui. Comecei em março de 1998 e de lá pra cá, quase que ininterruptamente, enviava ao menos um texto por semana pro jornal. Passei por vários editores do Anexo, e gostei de todos, sem exceção. Sempre fui muito bem tratada. Nunca fui censurada, mesmo sabendo que minha linha de pensamento está distante da linha editorial da grande imprensa. E, pelo que me consta, não fui cortada por nada que escrevi ou deixei de escrever, mas por razões orçamentárias mesmo. Também pesou que eu não moro mais em Joinville. De fato, agora em janeiro vai fazer dois anos que me mudei pra Fortaleza. O jornal era meu último vínculo com a cidade das flores, e isso me deixa triste, porque nos quinze anos que vivi aí, eu amei Joinville. E ainda amo.
Acho que lembro de tudo relacionado a minha trajetória na Notícia. Lembro da primeira crítica que enviei pro jornal, por email. Era falando horrores de Amistad, filme do Spielberg. A crítica foi publicada, e outras também, às vezes, sem que eu recebesse um email ou telefonema de resposta. Lembro quando fui à redação pela primeira vez, e o pessoal queria saber quem era essa figura misteriosa que escrevia bem sem ser jornalista. Lembro de quando eu redigia duas crônicas semanais curtinhas, fofas, pro AN Verão, que tinha um público totalmente diferente do do Anexo. Lembro do Alex, um menino de 14 anos que fez um site meio fã-clube só pra colocar minhas crônicas na internet, e da minha preocupação em estar corrompendo a juventude. Lembro da Mica, uma leitora que publicou uma resposta bem educada a minha crítica de O Colecionador de Ossos (eu odiei, ela amou); ainda nos falamos pelo Twitter; ela se tornou advogada,
mora em Floripa e continua nerd. Lembro de respostas não tão educadas, como a de um sujeito do sindicato dos jornalistas que me odiou por eu ter detestado Shrek, e apostou que eu era uma velhinha de 80 anos que vivia fazendo compras em shoppings (ainda hoje isso me faz rir: eu, pão dura miserável e anti-consumista, fazendo compras em algum lugar!). Lembro de quando quase fui linchada (de verdade!) na faculdade onde cursava Pedagogia por uma crônica em que falava mal do estágio. Lembro de ter feito uma piadinha estúpida e ter ofendido o Aldo, que então era revisor. Ele nunca me perdoou, e eu tampouco. Lembro de leitoras assanhadas que queriam compartilhar o maridão! Lembro de quando passei um ano em Detroit fazendo doutorado-sanduíche, e comecei o Cartas da Lola. E pouco depois comecei o meu blog, que hoje é um dos maiores blogs feministas do Br
asil. Sem a minha disciplina de escrever toda semana pro jornal, eu duvido que teria um blog hoje. Lembro de vários leitores que conheci pessoalmente. Tinha uma época (bons tempos!) em que alguns iam até a escola de inglês onde eu dava aula pra me dar chocolate durante a páscoa. Um deles, tadinho, foi objeto de grandes especulações entre meus queridos aluninhos adolescentes: “Seu marido sabe que você tem fãs?”, perguntavam eles. E, ao mesmo tempo: “Esse leitor sabe que você é argentina? E ele ainda assim gosta de você?”. Semanas atrás recebi este email do Rhuan, um jovem que estuda Direito em Joinville: “Muito provavelmente você não deve se lembrar de mim, afinal já faz muitos anos, e nos vimos pessoalmente apenas uma vez. Foi na seguinte situação -- você ainda morava em Joinville, e um dia foi interpelada por mi
m na saída do banheiro do shopping, acredito que no alto dos meus 15/16 anos, querendo saber se você era a Lola Aronovich e, para minha grata satisfação, era realmente quem eu achava, soltei alguns elogios ao seu trabalho e foi isso, cada um seguiu seu rumo, e acho que logo em seguida trocamos um ou outro email. Sou seu fã desde a época que você escrevia as crônicas de cinema no caderno Anexo do A Notícia e pode parecer bobagem, mas aquele rápido encontro no shopping foi marcante para mim, pois já era um entusiasta das suas crônicas de cinema e as recomendava para os meus amigos. Você deve estar se perguntando qual o intuito desse email, e para ser sincero, nem eu sei. Acompanhei toda sua trajetória para o ambiente virtual, o Escreva Lola Escreva, vi o leque de temas sobre os quais você escrevia aumentar, e junto aumentava meu interesse. Foi o que você disse num post que me motivou a lhe enviar esse email - 'Eu já disse algumas vezes: escrevo pra quem gosta de mim, pra quem gosta do que escrevo, pra quem me lê. São nessas pessoas que penso quando crio um post. São pra elas que faço o blog.'
Então eu pensei, uau, sou fã da Lolinha há tantos anos, sempre acompanhei seus posts, mas nunca me manifestei nos comentários ou por algum outro meio para lhe dar feedback/suporte, e concluí que isso era muito injusto. Então gostaria que soubesse que além dos seus declarados 'fãs'/seguidores, deve haver, assim como eu, muitos outros que lhe acompanham e torcem silenciosamente por seu sucesso e vibram junto com suas conquistas.Não se desmotive com os trolls, ameaçadores e cia, lembre-se sempre dos que gostam do seu blog quando estiver de saco cheio.Lola, gosto MUITO do seu trabalho, e não posso negar que lá no fundinho torci para que ficasse em Joinville, para eu poder esbarrar mais vezes contigo pelas ruas daqui, haha. Fiquei um pouco órfão quando você se mudou para Fortaleza, mas ao mesmo tempo feliz por sua conquista.”Rhuan ficou surpreso ao saber que eu me lembrava perfeitamente dele, e não só porque ele era bonitinho (todos os leitores e leitoras que tive o prazer de conhecer são lindos, não sei o que acontece). E
u lembro porque todos que me mandaram um email, que me deram um abraço, que me presentearam com chocolate, foram e vão continuar sendo importantes pra mim. Só tenho a agradecer aos leitores, ao jornal, aos meus colegas de redação que eu raramente via, por esses quase 14 anos em que vocês me motivaram a escrever. Obrigada, de coração.
Clique para ampliar e ver todas as atraçõesComeçou ontem em Fortaleza, e vai até terça, o II Festival Latino-Americano das Juventudes, organizado pelo J
uventude da CUT no Brasil. Hoje, das 14:30 às 17, estarei numa mesa sobre internet como política pública da juventude, junto a Gabriel Medina e Alex Capuano. Foi principalmente por causa dessa mesa que realizei a enquete ao lado: pra saber quão jovens são minhas leitoras e leitores. Eu já havia feito uma pesquisa dessas, mas faz tempo, em junho de 2009. Na ocasião, 506 pessoas responderam, e descobri, para minha surpresa, que 27% do meu leitorado tinha 19 anos para baixo; a maior parte, 41%, tinha entre 20 e 30 anos. Os resultados desta nova enquete não são muito diferentes. A maior mudança é que muito mais gente votou. Desta vez foram 6446 pessoas, quase treze vezes mais gente que dois anos atrás. Agora são só 13% @s leitor@s com menos de 19 anos. Só! É muita gente! E pensar que quase cinquenta minileitor@s com menos de 12 anos me leem me deixa muito preocupada! Mas fico muito feliz em poder atrai-los. Incríveis 60% do pe
ssoal que me lê encontra-se na faixa etária dos 20 aos 30 anos. Ou seja, vocês são uns brotos! (forcei, tá? Essa gíria é mais antiga que eu!). 15% estão na faixa seguinte, dos 31 aos 40. E só 5% é da minha idade, ou seja, entre 40 e 50 (estou com 44 até junho). Acima de 51 anos, 2%. Pode isso? Vocês parecem tão adultos, tão maduros! Bom, eu já sabia que vocês eram jovens, só não imaginava tanto. Não estou reclamando: sei que a internet é um luga
r de jovens pra jovens. E eu sempre me dei muito bem com adolescentes, por exemplo. Dei muita aula de inglês pra fofinh@s de 13 anos! Meus queridos alunos na faculdade têm em média 20, 22 anos, suponho. Super novos também! E até agora nosso relacionamento tem sido ótimo, porque eles são muito receptivos, muito abertos, interessados e divertidos. Fiquei contente com o convite da Juventude da CUT. Por causa da minha agenda frenética, eles mudaram a data da minha participação duas vezes. É que terça à tarde vou pra SP participar de um
evento sobre Consumo e Criança que acontecerá na quarta de manhã. O pessoal da organização prefere falar do evento apenas depois. Prometo anotar tudo que aprender, e comentar com vocês em breve.E nem contei sobre as duas palestras que dei na Unicamp no final de setembro (veja uma delas aqui; é longa). Foi bárbaro! O pessoal, muito querido, me recepcionou muito bem (a pessoa na foto ao lado é a Renata, uma das poucas com mais de 30 anos por lá). Quase rivalizou com minha acolhida na UnB. Quase! (também adorei a da USP, mas lá o auditório não lotou).
Olha, adoro muito isso tudo: conhecer gente, ser ouvida, trocar ideias. Só que falta tempo. Eu gostaria de ter fins de semana e feriados, essas coisas que as pessoas juram que existem. Mas isso vai ficar pras férias. Chega logo, fim de dezembro!
Ontem meu humilde bloguinho chegou à marca dos 50 mil comentários, o que me deixa muito feliz. A maior parte deles é inteligente, mas tem os neandertais de sempre. Um leitor, o Viktor, que nunca mais apareceu (e não deixou saudades), está incluso nesta segunda categoria.Quem é Vikt
or? Longa história. Ano passado escrevi um texto criticando a posição de um psicólogo evolucionista. Ele dizia que as feministas fazem as mulheres infelizes por insistirem em deturpar a ordem natural das coisas, que é, simplesmente, que mulheres sempre procuram homens poderosos, mas isso não significa que os homens tenham poder. Quem tem poder é a mulher, que, graças a seus atributos físicos, consegue manipular o homem poderoso a fazer tudo que ela quer. Enfim, aquela ladainha que ouvimos sempre, e que ainda por cima é vista como ciência (e, não por acaso, a ciência mais divulgada pelos meios de comunicação desde a década de 80, que, por outra mera coincidência, f
oi quando o backlash, a reação conservadora ao feminismo, veio com tudo). Pois bem, no meio dos muitos comentários a esse post apareceu uma figura exótica, um tal de Viktor, que já apareceu dizendo que nós, feministas, não poderíamos nunca nos sentir sexualmente atraídas por nossos companheiros, já que, por sermos feministas e, consequentemente, anti-naturais, procuramos homens iguais a nós, não superiores. Mas o nosso desejo ainda age no nosso inconsciente, segundo ele, e como nós mulheres só nos sentimos atraídas por machos superiores, adeus sexo. Algo assim. Este é um breve resumo, porque Viktor deixou montes de comentários naquele texto. Dei destaque pra um deles em outro
post sobre comentários cretinos. E aí ele escreveu mais besteira ainda – toda na linha “Quem gosta de sexo é gay, mulher gosta é de dinheiro” (se tiver tempo, leia os comentários). Na ocasião, a Ana Flávia já resumiu o alcance desse tipo de pensamento limitado: “O casamento é o sacrificio do homem pelo sexo, e o sexo é o sacrificio da mulher pelo casamento". O chato é que um monte de gente acredita nessa asneira, de psicólogos evolucionistas a mascus. Viktor escreveu na
quele post: “Se a mulher for visualmente atraente para o homem, não importa se ela é analfabeta, desempregada, extremamente acanhada, o homem vai querer transar com ela. Se ela não for visualmente atraente, ela pode ser a mulher mais bem sucedida do mundo, como a Oprah, que os homens estão se lixando do ponto de vista sexual.”Impressionante. Viktor fala de atração sexual como se houvesse um padrão único, e como se isso fosse acessado apenas pelo aspecto visual. Não somos animais complexos, com vários sentidos, como olfato, tato e audição. Não, somos apenas
visuais. Quer dizer, os homens são. Como bem respondeu uma leitora, “Para o Viktor, um homem cego é um homem castrado”. Touché. E a pobre Oprah provavelmente não consegue pegar ninguém. Fico muito incomodada com essa história de que homens fazem sexo pelo sexo e, portanto, gostam de sexo muito mais que as mulheres, e de que homem está sempre pronto pra transar. Por favor, levante a mão a mulher que gosta mais de sexo que o companheiro. Ótimo. Agora levante a mão a mulher que afugenta homens por gostar mais de sexo que eles e por dizer que só quer sexo, sem envolvimento emocional. Parece que só homem pode dizer isso. Experimente dizer isso pra um homem e observe o terror nos seus olhos (eu passei por isso durante toda a minha adolescência). Mulher gosta de sexo – não é que nós apenas o toleramos. Homens e mulheres se casam por um monte de motiv
os, e sexo é apenas um deles. Além do mais, casais com mais anos de casados costumam transar bem menos com o correr do tempo. Casais com filhos, então, nem se fala. Isso só pode ser culpa da mulher, lógico. O homem continua prontíssimo pra transar, mas a mulher, depois de conseguir o que quer (uma aliança no dedo e um marido para sustentá-la), passa a regular sexo. Certo. Por que um homem nunca pode estar cansado, né? Mas o pior mesmo é essa história de que homens não querem casar, de que só mulheres querem casar. É uma das mentiras mais descaradas. Primeiro que ninguém tá arrastando um cara pro altar. Os héteros se casam porque podem (o que é negado aos gays, num claro desrespeito à qualquer constituição) e porque têm vontade de ficar junto, de construir uma vida juntos.
Isso inclui mulheres e homens, sabe? Homem também quer ter filhos, quer alguém pra conversar, pra dar e receber carinho e, lógico, pra transar. Sinceramente? Não parece tão diferente do que as mulheres querem. A menos que a gente acredite no que a mídia nos dita – que homem é um ser em estado pré-evolutivo ainda plenamente comandado pelo seu pinto e que, se pudesse, passaria o dia bebendo cerveja com os amigos (não amigas – mulher é só pra transar). Ou que homem é um pateta a la Homer Simpson (e mesmo o Homer é apaixonadíssimo pela esposa). Por incrível que pareça, estudos mostram que um casamento saudável (sem violência doméstica, entre outras pragas) é bom pro homem. Homens casados costumam ser mais felizes que os solteiros. E vivem mais! Ironicamente, essa equação não se repete pra m
ulher casada. Mulheres casadas não vivem mais que as solteiras (mas vivem mais que homens em geral), nem são mais felizes. Então, vamos pensar: quem é mais favorecido pelo casamento? E o negócio de garantia de sexo (casamento não é bem garantia de nada), se for verdade, vale tanto pro homem quanto pra mulher. Eu acho ótimo ter um maridão quase sempre disposto a transar comigo. Porque aí esbarramos num outro clichê: de que mulher solteira pode ter sexo o tempo todo, se quiser. Não é bem assim. “Arranjar” sexo pra quem não tem alguém exige um mínimo de esforço (sair, colocar-se em evidência, e sei lá mais o quê, porque ando completamente fora de forma nesse quesito e, hum, em outros também). Como o homem, a mulher
também precisa sentir-se atraída. E a oferta não costuma ser tão fantástica. Pode acreditar que, assim como não falta homem pra Gisele, não falta mulher pro Gianecchini. Mas isso, segundo o Viktor, é porque o Giane é rico e famoso, não porque é bonito. Ahn, a Gisele também é rica e famosa. E imagino que, beeem antes de serem ricos e famosos, não devia faltar parceiro sexual pra nenhum dos dois. Esse discursinho altamente preconceituoso e elistista de que mulher só se sente atraída por homens superiores dá a entender que homens com pouca instrução, poucos dentes, pouca beleza convencional, e nenhum dinheiro, não se casam. Hello? A maior parte da população mundial é pobre. E a maior parte é casada. Na maior parte das vezes, pessoas se
casam com gente do seu próprio meio social. Sei que é um choque, mas homens pobres também fazem sexo! No entanto, Viktor diz que mulheres só procuram “homens especiais”. Putz, todo mundo, homem e mulher, quer alguém especial. Duvido muito que alguém pense: “Quero me envolver com a pessoa mais comum do mundo”. Se a pessoa é ou não especial, não importa: pra quem a escolhe, fica sendo. Muitas mulheres talvez não achem meu maridão um lindo tesudo (espero que não mesmo, suas assanhadas!), mas eu acho. E continuo muito atraída sexualmente por ele, mesmo após vinte anos juntos, mesmo eu sendo feminista e agora tendo mais estudo e ganhando mais que ele (e pesando mais -- isso conta?). Ele não se tornou inferior ou menos especial por causa disso.Viktor fica indo de um espectro ao outro, dependendo do que lhe convem. Primeiro, ele fala de noitadas, de sexo pelo sexo. Depois, fala de relacionamentos mais sérios, casamentos. Pra ele, toda mulher é
hipergâmica, ou seja, procura um macho superior. Se o macho não for superior em algum sentido, não sentiremos atração sexual por ele. Essa é a psicologia evolucionista que eu odeio. Por que procuramos um macho superior? Ah, porque somos guiadas pelo nosso instinto de escolher um parceiro com os melhores genes pro nosso bebê. Tudo em nome do bebê! Se você passa a vida toda dizendo que não quer filhos e nem vai tê-los (meu caso), ou você é uma mentirosa, ou está fugindo da sua natureza. Aí o Viktor diz que até pra transas eventuais, sexo pelo sexo, sem envolvimento (coisa que mulheres não fazem, já que gostam de sexo muito menos que os homens), as mulheres são hipergâmicas e guiadas pelo instinto de receber o esperma de melhor qualidade. Viktor diz à certa altura: “O homem comum, mediano em tudo, não tem lugar nas fantasias femininas, e quando as feministas dizem estar buscando um homem igual a elas para relacionamento,
considerando que a maioria das mulheres também são medianas em tudo (em beleza, em condição financeira, e status, etc.), vemos que elas mentem, ainda que inconscientemente, pois no fundo elas estarão buscando homens que sejam superiores no máximo de atributos que elas puderem exigir. Isso do ponto de vista de ATRAÇÃO SEXUAL, que fique bem claro. Do ponto de vista emocional, um homem mediano em tudo poderá satisfazer a mulher, e até ponto de vista sexual, mas não será por meio daquela atração fatal que a mulher sentirá diante de homens superiores, mas sim pela capacidade de despertar emoções na mulher, seja levando-a para fazer sexo em lugares proibidos, seja em uma viagem exótica, seja fazendo outras loucuras, pois o sexo pelo sexo, sexo rotineiro, será enfadonho para a mulher. É neste ponto que eu digo que o desejo sexual da mulher está atrelada a fatores de ordem emocional.”Ah, senti uma mudança de
rumo. Antes um homem mediano não poderia satisfazer a mulher do ponto de vista sexual, agora “até pode”? Mas não será a mesma atração "fatal" sexual que uma mulher sentiria se visse o Brad Pitt, é isso? Mas pra homem é tudo a mesma coisa, seja transar com sua esposa, seja transar com a Angelina Jolie! Aí Viktor fala de levar a mulher para fazer sexo em lugares exóticos ou proibidos (mulher não pode ir sozinha ou levar o homem!). Imagino que isso seja pra relacionamentos longos, certo? Tipo casamento?
Porque numa noitada é raro ir pro Havaí transar. E sexo no casamento, com o mesmo parceiro durante décadas, só é enfadonho pra mulher! Pro homem, tudo bem, que vagina é vagina. E se a gente for casada com o Brad Pitt durante trinta anos, o sexo nunca ficará rotineiro! Porque, né? O Brad é um macho superior! Ele tem uns genes e tanto! Não, confessem, fêmeas: quando vocês olham pro Brad Pitt, a primeira coisa que vem à mente é: “Hmmmm.... Que genes!...”. Não adianta mentir!
Entrem em extinção rápido, please.
Recebi o email abaixo de um leitor do jornal, onde publiquei um texto muito parecido com este sobre o Bolsonaro. Dá pra mais ou menos entender como pensa um Bolsonaro boy. Eu digo mais ou menos porque a lógica não costuma ser o ponto forte dessa gente dominada pelo ódio. O que sobressai é uma homofobia intensa, ligada, pra variar, a um enorme machismo. E também uma
obsessão por armas de fogo. (Assine uma petição pela lei anti-homofobia). Uma das coisas mais interessantes nessa discussão sobre o que fazer com o Bolsonaro é a negação da direita de que Bolsonaro é de direita. O pessoal precisa se decidir: direita e esquerda não existem mais, como só quem é de direita costuma dizer? Ou existe, mas é uma direita bacanérrima e séria, distanciada do fascismo bolsonariano? Porque, sei lá, com quem este cara e o deputado têm mais pontos em comum? Comigo, que sou de esquerda orgulhosamente assumida, ou com os demais reaças?
Publico este email (tudo sic) também pros meus trolls se identificarem com um exemplar da espécie. Vocês estão em ótima companhia, rapazes. Assim vocês vão longe.
Sra.Lola,
OSr. Deputado pode não ser politicamente correto, agradeço a coluna, não sabia dos fatos, mas na epóca da ditadura que nem era tão ditadura, pois era possivel até andar armado, hoje em dia, só o Zé... pode ter uma arma, nós do povo antes de comprar temos que pedir autorização se podemos COMPRAR uma arma..., não sou dono de minha vontade, nemdo meu dinheiro, mas dar o r... é bonito, é normal... só o que faltava, vou descobrir a opinião do deputado politicamente incorreto, sobre isso.Fumar maconha era crime, hoje.. "unzinho não dá nada".
Agora se V.Sa. acha lindo os GLS, e afins, sinto muito, mas considero V.Sa. como apenas mais um dos que pretendem dar uma opinião para a massa de manobra, para que divulgam, incentivam a opção gay ora dar o c... é normal, , dos que manobram os incautos, afinal casamento gay não gera filhos, quer que adotem? Novo gay. novamente sem filhos, é a extinção da raça humana em poucos séculos, opa, os heteros vão ter que manter a espécie, ou para V.Sa. o mundo que termine em fogo depois de v.sa.??disseminação de doenças, não vai acontecer, afinal o povo, V.Sa. inclusa, paga as camisinhas para eles não se sujarem de m*rda, vamos torcer para que usem, e que não arrebentem...Que tal essa. O G
overno dar coquetel HIV, só para quem contrair aids no exercício da função, Ex. enfermeiras, laboratoristas, médicos, socorristas, etc. Que tal.???Uma boa não? Aborto? Ótimo, elas vão poder dar a vontade, engravidou?Sem problemas. O SUS aborta, o povo paga. POr mim se o coquetel for pago por quem contraiu a doença dando,ou usando drogas que se ferrem, querem abortar, que abortem, contrate um médico, um veterinário que se ferrem, querem liberar as drogas, danen-se que liberem, mas liberem a compra e porte de arma, e que se matar um drogado que me ameaçe, seja também descriminalizado. Vá se ferrar dona Lola, v.sa. e umas e outras opinões suas, tem umas que até dá para compreender, mas tem outras... que...
Recebi a indicação de um livro, e vou repassar a indicação, O Imperio de Niall Ferguson. Vai lhe esclarecer algumas idéias.Só para lhe comunicar, a imprensa que manobra as opiniões, não recebe as opinões do "chão da fábrica", só divulga as que interessa, só para lhe lembrar, lembra do referendo das armas em 2005? A imprensa dizia que o SIM ganhava com mais de 50%, e perderam por quase 70%, alguns estados a diferença chegou a passar de 80%... em certos assuntos povo também pensa dona Lola, embora tentem manobrar.... fora as outras pesquisas que sairam todas erradas...Hasta la vista, Lola.
E esses fascistas -- não tem outro nome -- planejam parar parte da Av. Paulista este sábado em defesa do seu deputado querido (afinal, nenhum político presta, só o Bolso) e de seus ideais. Um dos grupos de apoio de Bolso no orkut tem quase 4 mil membros. Infelizmente, não é só o louco acima. São muitos.
No post que escrevi sobre os masculinistas, entre as dezenas de aberrações em forma de comentários que recebi (os repetitivos eu apaguei), este me chamou a atenção. É de um tal de Lord Insanus (nome bastante adequado). Não alterei nada no comentário, tudo sic, nem a paixão pelas maiúsculas: “Olha só, EU NÃO
SOU FEMINISTA NEM MASCULINISTA. Acho que as mulheres devem ter sua liberdade(inclusive o fim do casamento arranjado foi ótimo PARA HOMENS E PARA MULHERES QUE NÃO SÃO MAIS OBRIGADOS A CASAR À FORÇA PELOS PAIS), contudo POR EU POSSUIR A MINHA LIBERDADE ASSIM COMO AS MULHERES TEM AS DELAS eu não me casaria com uma mulher vadia (sim elas existem!!!). Então se uma mulher resolver sair por aí curtindo o sexo à toa bom pra ela (eu até gosto, teria mais opção sexual), mas nem por um acidente eu me casaria com uma mulher assim (POR ESCOLHA PESSOAL MINHA E SOMENTE MINHA) assim como, segundo vocês mesmas dizem não gostam de homens cafajestes. E NÃO VEJO NENHUM MACHISMO NA MINHA ATITUDE POIS É UMA QUESTÃO DE ESCOLHA E DE LIBERDADE PESSOAL”. Adoro quando alguém fala um amontoado de besteiras e termina dizendo “Não vejo nenhum preconceito/machismo/racismo/homofobia/gordofobia etc etc na minha opinião/atitude
porque é só minha escolha pessoal”. Bom, começando, porque estou curiosa: o que é uma “mulher vadia”? Você certamente acredita que elas existem, ou não teria jogado fora três pontos de exclamação. Uma mulher vadia é uma que gosta de sexo? Imagino que não, pela sua definição. Afinal, suponho que quando você estiver casado com a sua esposa recém-saída da virgindade, você achará de bom tom que ela goste de sexo (só com você, lógico). Então uma mulher vadia deve ser a que tem vários parceiros. Quantos, assim? Há uma fórmula exata, uma equação que a gente possa fazer pra determinar cientificamente se uma mulher é ou não vadia? E se a mulher tiver mais de um parceiro ao mesmo tempo, ela é mais vadia que uma mulher que tenha 24 parceiros por ano, digamos, dois por mês? E se de repente ela pular algum mês, ela deixa
de ser vadia naquele prazo? Não, né? Aposto que não importa se ela teve vinte parceiros num ano e depois apenas um pelos próximos 50 anos. O que conta são aqueles vinte. Porque fazer sexo deve gastar muito! E também, imagina você, a mulher que transou com dois ou cinco ou vinte ou cem deu pra eles, permitiu ser usada. Como mulher não gosta de sexo, pregam os mascus, ela só pode ter transado esperando alguma coisa em troca. E não há a menor possibilidade que ela quis, que ela procurou, que ela não foi passiva (“dar” é uma palavra meio passiva, não acha?), que ela “usou” tanto ou mais do que “foi usada”. Aliás, falar em uso já remete a essa ide
ia absurda de gasto. Vou revelar um segredo pra você: a gente (nem homens nem mulheres) não nasce com um número máximo de transas, com um placar oculto que fica marcando quantas vezes a gente foi pra cama com alguém. Não é assim que funciona. E nossos órgãos sexuais são bem elásticos. Eles não gastam não, coração.E se já é difícil decifrar o que diabos seria uma mulher vadia, eu gostaria de saber o que é um homem vadio. Ele existe? Porque eu desconfio (e recomendo que você faça o mesmo) de termos que só existem para um dos gêneros, sabe? Inclusive quando há tantos termos ofensivos para mulheres baseados apenas na sua sexualidade (por exemplo, existem duzentos termos em inglês pra chamar mulher de promíscua, e só vinte para o homem -- sendo que os termos pros homens são elogiosos, não ofensivos!). Mas, pra falar a verdade, eu nunca conheci alguém que use termos como “va
dia”, “vagabunda”, “piranha”, “galinha” que acredite que a liberdade sexual das mulheres deva ser a mesma que a dos homens. Não. Pessoas que empregam esses termos costumam crer que mulheres não gostam de sexo, apenas o toleram, que homens têm alguma missão incontrolável de espalhar a sementinha (e vocês contam com toda uma ciência pra dar suporte a esse conceito), e que é assim que os homens são (e que as mulheres não são), então fazer o quê? Se você nasce com um pênis, você recebe uma espécie de certificado de privilégio de poder transar com quem e quantas (quantos é outra história) quiser sem ser julgado por isso. Claro, talvez seus amigos te critiquem se você transar com uma mulher fora do padrão de beleza. Mas você certamente não ficará mal falado por isso, principalmente se compensar com uma m
ulher bonita pra exibir. Já as mulheres precisam cuidar de suas vaginas como se tivessem a chave do tesouro secreto. Devemos ser super-duper-hiper seletivas porque, né, a gente não pode entregar esse tesouro pra qualquer um. Porque vagina é diferente de pênis. Vagina a gente só tem uma, enquanto o homem tem uma infinidade de pênis. Opa, desculpe, me confundi com as sementinhas. Porque tudo na nossa vida sexual é movido pelo instinto de engravidar (e já falei da ciência que vocês têm pra validar essas ideias?).Esse modelo de sexualidade que você defende até podia combinar com os anos 50. Mas meio século depois, ele soa um tanto datado. A virgindade de uma mulher ainda era assunto quando eu era adolescente, na década de 80. Hoje, felizmente, vejo cada vez menos gente dando importância a esse “lacre de validade”. Só gente muito, muito conservadora, da espécie que acredita que o mundo e
ra lindo e maravilhoso até os anos 60, e que hoje, depois de todas as reinvindicações por direitos iguais das minorias, ele está um lixo.Agora vamos falar do orgulho que você demonstra por ter sua liberdade baseada unicamente na sua escolha pessoal. Desculpe te decepcionar, mas por que você se acha tão único e individual, cara pálida? Quem colocou na sua cabecinha que as suas opiniões são suas? Você faz o que o senso comum te manda fazer desde o seu primeiro dia de vida, que é igual ao que falavam pro seu pai e sua mãe fazerem, e se estende aos seus avós e bisavós, e você pensa, “Putz, graças a deus que tenho minhas escolhas pessoais!”?! Sério que você faz exatamente tudo que te mandam, tudo que teus pais fazem, tudo que a mídia ensina assim que você liga a TV, e você ainda se considera livre?Além do mais, há diferenças entre seguir a sua “escolha pessoal” (que de pessoal
não tem nada) e decidir que você só quer casar com uma mulher virgem porque você é inseguro pra caramba e não admite comparações e chamar de vadia qualquer mulher que não seja virgem. É aquele negócio: você pode não se sentir sexualmente atraído por uma mulher gorda porque o seu “gosto pessoal” foi construído em cima de um padrão de beleza absolutamente estanque. Tudo bem. Você não precisa transar com uma mulher gorda (ela provavelmente nem está muito a fim de você). Mas daí a sair xingando uma mulher gorda ou xingando quem transa com uma mulher gorda vai uma certa distância, não acha? Mas você quer tudo. Você quer chamar mulheres que saem “por aí curtindo o sexo à toa” de vadias e não aceita ser chamado de machista. Aí já não é possível, filho. Você tem todo o direito a sua “escolha pessoal”, mas você deve entender que há consequências. Dividir mulheres entre as boas pra casar e as boas pra transar é machismo. Achar que você pode sim curtir o sexo à toa, por ser homem, mas mulheres não podem, é machismo. Até pensar que mulheres que gostam de sexo vão necessariamente querer transar com você (o que você quer dizer quando menci
ona que teria mais opção sexual) é machismo.Portanto, ache o que quiser, case com quem quiser, mas seja honesto: não se considere tão especial. E, minha dica: apague do seu vocabulário termos ofensivos referentes à sexualidade feminina. A menos que você não se incomode de ser chamado de machista.