Esta vem do blog I Blame the Patriarchy, de um post de 2006 (eu li faz um tempão, achei interessante, traduzi, e o esqueci numa dessas gavetas também conhecidas como arquivo de computador):

Se você é um homem, e não estupra mulheres, bom pra você, mas se você me mandar um comentário elaborando como o seu autocontrole nobre e pessoal invalida a afirmação de Brownmiller, você estará apenas se envergonhando. Independente do tipo de homem que você é, você se beneficia de mil formas diferentes da subordinação feminina perante a violência sexual. Os estupradores de verdade criam o choque e o espanto, mas eles são apenas a infantaria; cabe a você acabar o trabalho.
Você faz isso demonizando feministas, alugando mulheres para lap dances, deixando que os estupradores sejam absolvidos em corte, comprando lingerie sexy pra sua mulher, parabenizando sua namorada na plástica pros seios que fez, ignorando estupros em massa em lugares onde há guerra, passando o endereço virtual do último vídeo-sensação pornô, encarando sem parar a menina no ponto de ônibus, deixando que sua mãe lave sua roupa, “dando” sua filha em casamento, votando em gente que quer controlar os úteros, pressionando sua namorada a fazer anal porque todos seus amigos fazem, tendo uma opinião sobre o tamanho dos lábios vaginais, argumentando que striptease dá poder às mulheres [...], por sua inabilidade em conceber sexo sem dominação, e pela recusa, mesmo após trinta anos de mulheres inteligentes e estudadas te falando o contrário, em conceder que você não vê verdadeiramente as mulheres como você vê a si mesmo.
Mas a situação pras mulheres, você pode querer discutir, já que ouviu falar que homens começaram a compartilhar o trabalho doméstico, melhorou muito. Você acha? Então por que uma mulher americana é estuprada a cada dois minutos, e como 78% dos estupradores são maridos, namorados, ou paqueras? Menos de 16% desses estupros são notificados. O tempo médio que os poucos condenados cumprem de pena: onze meses.”
Se você achou o pedaço do post acima provocativo, espere até ler este, que é de um post de 2008 de outro blog feminista radical americano, Rage Against the Man-chine. Uma feminista sugere, apenas como exercício de pensamento (não pra levar a cabo), que, em casos de estupro, a lei seja mudada. Ao invés da vítima ter que provar que foi estuprada (o que em muitos casos não dá pra provar), o acusado é que deveria ter que provar que não estuprou:
“Há um perigo inerente nesse sistema que alguns homens inocentes seriam punidos, e isso é lastimável. Não é mais lastimável, porém, que o fato dos homens estuprarem com impunidade em proporções epidêmicas simplesmente porque suas vítimas não conseguem provar a uma sala cheia de misóginos que elas não consentiram a um ato sexual. As vítimas determinarão se um crime ocorreu, não os réus. Isso pode assustar os homens, e alguns deles dirão que as mulheres usarão a lei para puni-los, só por vingança. Isso pode acontecer raramente, mas a intenção é proteger o máximo de pessoas possíveis, e acusações falsas de estupro representam um centésimo dos estupros que não são punidos.”
“Há um perigo inerente nesse sistema que alguns homens inocentes seriam punidos, e isso é lastimável. Não é mais lastimável, porém, que o fato dos homens estuprarem com impunidade em proporções epidêmicas simplesmente porque suas vítimas não conseguem provar a uma sala cheia de misóginos que elas não consentiram a um ato sexual. As vítimas determinarão se um crime ocorreu, não os réus. Isso pode assustar os homens, e alguns deles dirão que as mulheres usarão a lei para puni-los, só por vingança. Isso pode acontecer raramente, mas a intenção é proteger o máximo de pessoas possíveis, e acusações falsas de estupro representam um centésimo dos estupros que não são punidos.”
Ela apresenta a ideia revolucionária de que, assim, os homens só poderiam fazer sexo com as mulheres que querem fazer sexo com eles: “estupro é uma punição por ser mulher”.
Como você pode imaginar, muitos comentaristas sentiram-se ultrajados por sua sugestão. E isso realmente é uma constante em qualquer discussão sobre estupro: os homens sentem-se acusados, acuados, dizem que não têm nada a ver com o tema, que não são estupradores e acabou. Não seria mais interessante canalizar essa revolta não contra quem te lembra que estupro existe, mas contra o crime do estupro em si? Nos EUA, por exemplo, há grupos de Men Can Stop Rape (Homens Podem Parar com o Estupro). Espero que sejam muito mais numerosos que grupos de Acusações Falsas de Estupro, quase sempre formados por mascus (pra eles, todas as acusações de estupro são falsas. Estupros só acontecem nas cadeias, entre prisioneiros. E quem liga pra eles? Não os mascus).
Este comentário entre os 202 deixados no post da Rage deve ter sido escrito por um mascu: “Se as mulheres não querem ser estupradas elas deveriam parar de beber. Sinto muito que homens são mais fortes e podem estuprar mulheres mas isso é genético e foi Deus quem quis assim”. Aham. Pelo menos ele sente muito.
Isto também é um pouco antigo, mas talvez sirva de inspiração pro grupo (já com mais de 270 membros) iniciado poucas semanas atrás pra combater in loco a propaganda sexista. Sei que vocês não fazem apologia à pichação, meninas. Foi assim: uma empresa acostumada a fazer comerciais e anúncios machistas, a American Apparel, teve que trocar um de seus outdoors nos EUA. Ele mostrava uma mulher sem rosto em pose insinuante.
Um carinha passou lá, viu o anúncio, ficou indignado com o tratamento que a propaganda dá às mulheres, foi pra casa, pegou tinta grafitti, voltou pro local, esperou até as 4 da manhã, e deixou lá o seu protesto: “Gee, I wonder why women get raped?” (“Puxa, eu me pergunto por que as mulheres são estupradas”). A empresa teve que trocar o outdoor. Detalhe: o presidente da empresa já foi acusado cinco vezes de assédio sexual.
Um carinha passou lá, viu o anúncio, ficou indignado com o tratamento que a propaganda dá às mulheres, foi pra casa, pegou tinta grafitti, voltou pro local, esperou até as 4 da manhã, e deixou lá o seu protesto: “Gee, I wonder why women get raped?” (“Puxa, eu me pergunto por que as mulheres são estupradas”). A empresa teve que trocar o outdoor. Detalhe: o presidente da empresa já foi acusado cinco vezes de assédio sexual.
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