Thursday, May 31, 2012

A nossa luta é todo dia


Esse post foi escrito pela Mary Astrus, uma vadia muito valente que teve a ousadia (!) de atentar contra o puritanismo mineiro utilizando uma arma letal, perigosa e profana: o próprio corpo. 
Tanto ela quanto as demais garotas que participaram da intervenção realizada por diversos artistas de Belo Horizonte na Marcha das Vadias tiveram suas fotos removidas do facebook
Não somente a remoção das fotos mostra o quanto somos ainda imaturos para lidar com as diversas possibilidades de utilização do nosso corpo - para além de fins sexuais ou de reprodução. Várias de nós sofremos um verdadeiro linchamento virtual, com direito a fotomontagens incitando a violência contra nós.
Tudo isso porque... expusemos nosso próprio corpo. 
Mas não coberto do festivo glitter do carnaval ou da marca de um desodorante que patrocina nossos seios. Mas sim, coberto de palavras de luta, evocando a liberdade, a autonomia e o respeito.
De tudo, ainda somos assombradas por essa ambivalência hipócrita com a qual a sociedade trata o nosso corpo: se é para servir ao gozo de outrem, pode ser mostrado. Se é para servir à nossa própria luta, é feio, é grosseiro, é vadio. É censurado. Porque autonomia é imoral!


A nossa luta é todo dia, por Mary Astrus

Refletindo sobre todas as discussões que têm se formado aqui no face no que diz respeito a marcha das vadias ocorrida no sábado, o que consigo enxergar é o quanto sofremos de um analfabetismo cultural, social e artístico. 
Mary Astrus, Livre.
Foto por Pablo Capilé
As discussões que se seguem são de arrepiar, pessoas que não sabem o que dizem e sobre o que dizem. Confundem um simples ato de expressão artística, de direitos, emancipação e libertação de ideias e comportamento, em um simples ato de pornografia. A discussão não é sobre os peitos expostos em uma rede social mas sim de uma falsa moral que muitos assumem e defendem sem mesmo saber ao certo o que ela acarreta. O olhar já está tão carregado da futilidade que mal conseguem enxergar algo simples que está diante dos próprios olhos, enxergando apenas os que os seus olhares limitados querem ver. 
A liberdade que pensamos ter, não a temos, basta ver todo o burburinho que um simples ato é capaz de transformar. 
O triste, amoral e vergonhoso é o discurso que muitos oprimidos tomam-no como seu e fazem disso uma verdade absoluta e inquestionável. Tudo que nos empurraram pela garganta afora agora é vomitado de forma escroto e fútil. 
Na verdade a discussão não é sobre peitos expostos, porque se fosse assim teria muita gente protestando em frente a globo por causa da globeleza ou qualquer outra celebridade que se expõe no carnaval, sem falar nos corpos expostos nas bancas por 10, 1,99 ou 0,25 centavos, a discussão aqui gira em torno de uma moral que já está há muito em ruínas. 
O mais importante é que apesar de uma mídia manipuladora, de um jornal apático a realidade e uma rede social que nada tem de social, a nossa luta prossegue e a cada dia dá mais um passo grande ou pequeno. 
Nossas vozes não se calam e nossos peitos não se escondem em frente à luta, o que interessa não são fotos postadas, compartilhadas ou criticadas e sim nossa luta, coragem e conquistas.
 A relação que tenho com meu corpo não vai mudar diante de discursos machistas, fascistas e fundamentalistas. Enquanto uns preferem parar no caminho outros avançam e enxergam novos horizontes. 
Por mais que existam pensamentos limitados, mais peitos serão expostos, mais vísceras gritaram por liberdade e mais corpos inteiros ocuparam as ruas.
Pra quem tem peito e coragem, meu afeto pra quem não tem, minha lamentação!

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