Gente, estou viajando direto. Direto mesmo. Agora serão três domingos consecutivos que viajo. E pego o que compram pra mim, sem grandes preferências: Gol, Tam, Azul, Avianca. E, até agora, na minha vida, nunca voei num avião pilotado por uma mulher. Tudo bem, é apenas minha experiência pessoal, mas algo me diz que ainda são pouquíssimas as pilotos mulheres.
Segundo o Sindicato Nacional dos Aeronautas, parece haver cerca de cem comandantes mulheres em voos brasileiros. Eu é que nunca dei sorte de voar com alguma. Mas teve um passageiro que, na semana passada, no aeroporto de Confins (BH), pelas linhas aéreas Trip, calhou de ser pilotado por uma mulher. E o que fez o grande mentecapto? Falou, em alto e mau tom, que se recusaria a voar com uma comandante, que se soubesse que a piloto era mulher, não teria embarcado, e que só iria voar porque precisava ir pra Palmas, onde vegeta.
Houve tumulto. O voo atrasou mais de uma hora. O sujeito foi pra frente fazer discurso. A boa notícia é que ele foi vaiado pelos demais passageiros. A notícia melhor ainda é que, como você já deve ter lido, ele foi expulso da aeronave.
Exagero? Não mesmo. Pense se, antes de sentar, um passageiro vê de soslaio que o piloto do avião é um negro. Aí o cliente começa a manifestar seu desagravo por ter que voar com um negro. Não seria racismo da pior espécie? O cara iria preso, porque, felizmente, racismo é crime no Brasil. Machismo, ainda não. Mas o princípio da discriminação é o mesmo.
Dias depois, a piloto Betânia Porto Pinto, que tem quase vinte anos de carreira, justificou sua decisão: determinou a retirada do passageiro por uma questão de segurança. “Se acontece qualquer coisa, uma rajada, se acontece uma turbulência, que ele sinta desconfortávele e entra em pânico, ele pode colocar um avião com 100 pessoas inteiro em pânico dentro da aeronave”. A polícia teve que ser chamada pra tirar o machista.
Já vi algo parecido acontecer. Em 2004, quando eu e o maridão fomos pra Moscou jogar um torneio de xadrez, no voo de Buenos Aires pra Paris, presenciamos uma situação inusitada. O voo da Air France já estava atrasado, mas os passageiros, a maior parte russos, estavam bem ativos. Alguns deles não queriam que o avião decolasse até que chegasse um amigo. Seguiu-se uma discussão acalorada entre o piloto francês, que saiu de sua cabine, e alguns russos. A gente não conseguiu acompanhar tudo, porque nosso francês não é fluente em barracos, e porque nosso russo é inexistente. Só sabemos que o piloto ordenou que aqueles passageiros se retirassem do avião. E eles se negaram. E ele chamou a polícia. E entraram dezenas de policiais franceses no avião (nem cabe um monte de policial naqueles corredores estreitos). E só depois de mais discussão entre a polícia e os russos é que os russos saíram e o avião decolou.
Passageiros exaltados podem ser perigosos num voo. Não precisa ser gênio pra entender isso. Mas acho que, no caso do machistóide, a questão de segurança é secundária. O cara deveria ser expulso por machismo explícito mesmo.
Um empresário que estava presente no voo de BH para Palmas disse que o passageiro “levou uma vaia e desceu tranquilo, sorridente, como se nada houvesse acontecido. Um preconceito que eu nunca vi igual”. O empresário não conhece os mascus.
Por falar neles, é óbvio ululante que eles deram toda razão ao machista. Disseram que era um absurdo mulher pilotando, que eles também se recusariam voar. Ameaçaram promover um boicote contra a Trip (boicote de meia dúzia de anônimos com avatar de superherói e que provavelmente nunca entraram num avião na vida. É, ia funcionar! De fato abalaria o mercado aéreo). Acham que esta é a prova de que vivemos numa ditadura matriarcal. Afinal, não podem nem mais se manifestar em paz, discriminando uma pessoa que está trabalhando...
Um mascu foi a um fórum de aviadores profissionais botar as asinhas de fora. Chegou carregado com toda a misoginia que lhe é peculiar e foi devidamente defenestrado. Palmas para os aviadores, que sabem que mulher dirige tão bem quanto homem. Por enquanto, elas são apenas 2% do total de pilotos. Mas o número tem crescido a cada ano. Gelson Fochesato, presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, diz: “Temos mulheres pilotas há mais de 40 anos. Nunca houve nenhum tipo de discriminação ou questionamento a respeito disso. Esse passageiro chegou de Marte ontem e não sabe o que está fazendo. Nem empresa aérea de mundo árabe tem esse tipo de coisa. Nós repudiamos essa postura e incentivamos que mulheres venham a somar na aviação brasileira".
É uma lástima que, em pleno século 21, ainda exista gente tão retrógrada a ponto de duvidar da capacidade profissional de uma mulher. Um dos vários comentários machistas de leitores em fóruns de jornais dizia: “Nem dirigir carro elas sabem direito....avião então, tô fora....devem se prostituir em pleno voo”. Por favor, alguma comandante dá uma carona de avião pra esse mascu e o joga lá de cima sem paráquedas? Grata.
Segundo o Sindicato Nacional dos Aeronautas, parece haver cerca de cem comandantes mulheres em voos brasileiros. Eu é que nunca dei sorte de voar com alguma. Mas teve um passageiro que, na semana passada, no aeroporto de Confins (BH), pelas linhas aéreas Trip, calhou de ser pilotado por uma mulher. E o que fez o grande mentecapto? Falou, em alto e mau tom, que se recusaria a voar com uma comandante, que se soubesse que a piloto era mulher, não teria embarcado, e que só iria voar porque precisava ir pra Palmas, onde vegeta.
Houve tumulto. O voo atrasou mais de uma hora. O sujeito foi pra frente fazer discurso. A boa notícia é que ele foi vaiado pelos demais passageiros. A notícia melhor ainda é que, como você já deve ter lido, ele foi expulso da aeronave.
Exagero? Não mesmo. Pense se, antes de sentar, um passageiro vê de soslaio que o piloto do avião é um negro. Aí o cliente começa a manifestar seu desagravo por ter que voar com um negro. Não seria racismo da pior espécie? O cara iria preso, porque, felizmente, racismo é crime no Brasil. Machismo, ainda não. Mas o princípio da discriminação é o mesmo.
Dias depois, a piloto Betânia Porto Pinto, que tem quase vinte anos de carreira, justificou sua decisão: determinou a retirada do passageiro por uma questão de segurança. “Se acontece qualquer coisa, uma rajada, se acontece uma turbulência, que ele sinta desconfortávele e entra em pânico, ele pode colocar um avião com 100 pessoas inteiro em pânico dentro da aeronave”. A polícia teve que ser chamada pra tirar o machista.
Já vi algo parecido acontecer. Em 2004, quando eu e o maridão fomos pra Moscou jogar um torneio de xadrez, no voo de Buenos Aires pra Paris, presenciamos uma situação inusitada. O voo da Air France já estava atrasado, mas os passageiros, a maior parte russos, estavam bem ativos. Alguns deles não queriam que o avião decolasse até que chegasse um amigo. Seguiu-se uma discussão acalorada entre o piloto francês, que saiu de sua cabine, e alguns russos. A gente não conseguiu acompanhar tudo, porque nosso francês não é fluente em barracos, e porque nosso russo é inexistente. Só sabemos que o piloto ordenou que aqueles passageiros se retirassem do avião. E eles se negaram. E ele chamou a polícia. E entraram dezenas de policiais franceses no avião (nem cabe um monte de policial naqueles corredores estreitos). E só depois de mais discussão entre a polícia e os russos é que os russos saíram e o avião decolou.
Passageiros exaltados podem ser perigosos num voo. Não precisa ser gênio pra entender isso. Mas acho que, no caso do machistóide, a questão de segurança é secundária. O cara deveria ser expulso por machismo explícito mesmo.

Por falar neles, é óbvio ululante que eles deram toda razão ao machista. Disseram que era um absurdo mulher pilotando, que eles também se recusariam voar. Ameaçaram promover um boicote contra a Trip (boicote de meia dúzia de anônimos com avatar de superherói e que provavelmente nunca entraram num avião na vida. É, ia funcionar! De fato abalaria o mercado aéreo). Acham que esta é a prova de que vivemos numa ditadura matriarcal. Afinal, não podem nem mais se manifestar em paz, discriminando uma pessoa que está trabalhando...
Um mascu foi a um fórum de aviadores profissionais botar as asinhas de fora. Chegou carregado com toda a misoginia que lhe é peculiar e foi devidamente defenestrado. Palmas para os aviadores, que sabem que mulher dirige tão bem quanto homem. Por enquanto, elas são apenas 2% do total de pilotos. Mas o número tem crescido a cada ano. Gelson Fochesato, presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, diz: “Temos mulheres pilotas há mais de 40 anos. Nunca houve nenhum tipo de discriminação ou questionamento a respeito disso. Esse passageiro chegou de Marte ontem e não sabe o que está fazendo. Nem empresa aérea de mundo árabe tem esse tipo de coisa. Nós repudiamos essa postura e incentivamos que mulheres venham a somar na aviação brasileira".
É uma lástima que, em pleno século 21, ainda exista gente tão retrógrada a ponto de duvidar da capacidade profissional de uma mulher. Um dos vários comentários machistas de leitores em fóruns de jornais dizia: “Nem dirigir carro elas sabem direito....avião então, tô fora....devem se prostituir em pleno voo”. Por favor, alguma comandante dá uma carona de avião pra esse mascu e o joga lá de cima sem paráquedas? Grata.
No comments:
Post a Comment