Thursday, May 31, 2012

TOCAIA - REVISTA GRAPIÚNA DE LETRAS E ARTES



TOCAIAR É PRECISO

(Editorial  Revista Tocaia)


“Berilo levanta o olhar, perscrutando. Natário estende o braço, firma a pontaria — com sua licença, Coronel — atira para acertar na cabeça. O tiroteio irrompe no alto da colina e a confusão se estabelece no lodaçal, embaixo; os jagunços respondem a esmo, sem saber para onde dirigir as armas. Uma carnificina, como comprovou o coronel Elias Daltro. Não se tinha notícia de tocaia de tal envergadura, nem nos tempos das primeiras lutas, as de Basílio de Oliveira e dos Badaró. Ia ficar na história, a tocaia grande.”
(Tocaia Grande, Jorge Amado).


          Este é um periódico cultural que nasce sob o peso de uma palavra: tocaia. Originário do tupi guarani, o termo designava o abrigo onde os índios se ocultavam para surpreender a caça ou os inimigos. Tocaiar é estar à espreita, em um ponto de visão privilegiada, para atacar. Tocaia-se para matar um animal, ou uma pessoa. Tocaia-se para assustar, ou dar uma surra. Tocaia-se para raptar, seduzir, desnortear, tirar do caminho. Decidimos tocaiar.
         Tocaiamos ideias, atitudes, ações. Tocaiamos o belo e o não tão belo. Tocaiamos o feio. Montamos nossa tocaia em uma curva, na vereda das letras, das artes. Raptamos nossas primeiras vítimas e as estamos exibindo neste número: os poemas de Piligra, Heitor Brasileiro, Daniela Galdino, Rita Santana, Mário Prata, Adelmo Oliveira, Lamiae El Amrani; as fotografias de Pedro Montalvão e Milena Gantois Palladino; o conto de Daniel Prudente, o ensaio de Gustavo Felicíssimo e os haikais de George Pellegrini.
           Mas, os advertimos: nem só de raptos e seduções vivemos. A arma que ameaça também dispara. Cuidado, incautos! Os que se arvoram de donos da verdade, usurpadores dos espaços que deveriam ser de todos. Falastrões e demagogos da arte, pseudo novos colonizadores. Ainda que nossa palavra seja suave, o leitmotiv da tocaia é atirar... com a clara intenção de matar. Se você carrega algum desses adjetivos, um conselho: não passe por nosso caminho.


George Pellegrini
Gustavo Felicíssimo
(Editores)

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