Monday, March 14, 2011

GUEST POST: MEU AMIGO FOI AGREDIDO POR BEIJAR O NAMORADO

A Sueli, que é documentadora de software, cantora e estudante de Letras, me enviou um email no sábado contando sua revolta. Um amigo seu foi agredido na sua frente em plena R. Augusta, ao lado do bar O Pescador, a menos de trinta metros de dois dos maiores points gays de SP. O motivo? Ele beijou seu namorado. Compartilho e me solidarizo com sua revolta: “Foi um choque. A Augusta tinha o status de terra da liberdade. Os recentes casos de violência estão aumentando em número, e agora chegaram à banalização. Bater em viado na rua Augusta e imediações agora é justificado, apoiado, e em nome do respeito. Precisamos alertar as pessoas que não são só as lâmpadas fluorescentes, não são só os casos extremos de violência. É a violência 'corretiva'. Às abertas, com pessoas em volta, pra colocar as beeshas 'no seu devido lugar'. É uma forma de opressão e segregação baseada na orientação sexual”. Fiquem com seu relato.

Era uma noite normal de sexta-feira.
Quem me conhece sabe que eu adoro a Augusta. O clima de liberdade, o astral bom de todo mundo reunido, ver emos, homos, girls and boys, drags and queens, black and white sempre me fez pensar que independentemente de quão estranha fosse a natureza humana haveria sempre um local para dar vazão à essa necessidade básica: expressão.
Até que na porta de um bar, meu melhor amigo rouba um beijo no mocinho tímido com quem estava flertando.
O tapa veio e nem sabíamos exatamente de onde.
Olhamos pro lado de onde partira a agressão, um homem branco, de seus vinte e poucos, vestindo roupas normais e boné vociferava juntamente com uma mocinha minúscula que clamava respeito por sua presença, e gritava que era um absurdo os garotos se beijarem ali, na frente 'deles'.
Primeira reação, perplexidade.
Em seguida, raiva. A discussão esquentou, eu estava absolutamente indignada. Foi esse tipo de mentalidade que colocou plaquinhas nos lugares dizendo onde negros não podiam entrar. Que impediu mulheres de votarem até 1930.
“Mas eles eram seis”, alguém disse pra relevar. Acabamos trocando de bar. O mocinho do flerte, assustado e dizendo: "É assim mesmo!".
Já num bar gay ouvimos o que mais me chocou: "O que você esperava? Lá é um bar hetero".
Onde é que estava a maldita placa pra avisar o meu amigo para não demonstrar seu afeto, ou do contrário ações de violência estariam justificadas?
Onde é que estava a placa naquele mesmo bar, gay, onde eu, heterossexual por acidente do destino, fora em busca de compreensão com um amigo?
Me perguntei mil vezes onde estava o movimento GLBT, tão forte e atuante em tantas questões.
Onde estavam os protagonistas das paradas de orgulho? (Pergunto porque sou simpatizante do movimento há anos. A minha dor foi contra a postura geral de imobilidade de 90% dos gays com quem falamos naquela noite. Ali, no Ecléticos lotado e mesmo nas imediações d'A Loca, sabemos que há uma concentração considerável de 'participantes' do movimento, mas a impressão que tivemos foi que como em igrejas, alguns são um tanto não praticantes. Não conseguimos, na hora, a trinta metros, nem dois casais para um beijaço. Tem ideia do impacto disso ali, naquela hora, no momento em que a coisa aconteceu? Seria combater o ódio com uma demonstração em massa de amor. Essa foi a nossa grande decepção, a falta de mobilização, e até a incompreensão de alguns).
Eu fiquei ali ouvindo, pasma, eles dizerem que meu amigo devia ter parado no lugar x e não y. Em nenhum momento a questão da inadmissibilidade da agressão foi levantada. A questão era o lugar. Qual era o lugar dos gays, e qual o lugar dos heteros.
Pessoas agora têm lugares que não podem mais frequentar? Qual era o lugar de alguém como eu que acha que pessoas são só pessoas?
E seguindo a linha simplista da categorização, todo hetero é violento e todo gay precisa se isolar no gueto?
Me perguntava qual das segregações é a pior, a de fora pra dentro, ou a que eles mesmos se impuseram...
Não sei se volto àquele bar, o hetero, não digo que não volto à Augusta, mas um dia temo encontrar plaquinhas only hetero, only black, only drag...
Mas a pergunta é, e o nosso direito de ir e vir? Quem decide onde e quando podemos ir?

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