Adorei este comentário que a Yssy deixou no post Feio é o seu racismo, e decidi reproduzi-lo aqui. Ele trata do padrão de beleza racista que determina que só um tipo de cabelo é bonito, e como isso afeta a autoestima de montes de meninas. Aproveitando o tema, ontem recebi vários tweets de leitoras indignadas com o novo anúncio de uma marca de lingerie.
Vamos boicotar a marca, pessoal. Esta e todas as outras que insistem em ser racistas num país em que mais de 50% da população é negra ou parda. Não devemos tolerar racismo e outros preconceitos em lugar nenhum, menos ainda num país com maioria negra. Temos poder como consumidor@s e cidad@s. Da próxima vez que ouvir a expressão cabelo ruim, critique.

Lola, este post me tocou especialmente porque eu cresci exatamente com esse padrão de beleza mart

Tenho a pele clara e o cabelo muito crespo mas um pouco claro também, o que as pessoas chamam de "Sarará". Minha mãe é branca de cabelo liso. Eu nunca tive contato com meu pai, que já faleceu e era negro.
Fui levada por todos os lados a acreditar que eu era feia por causa do meu cabelo, que era “de preto”, “ruim”, e vivi muitos anos em luta com ele. Eu não saía na rua quando ele estava natural, alisei o cabelo sistematicamente desde os nove anos de idade, usei até ferro de passar roupa para alisá-lo (como muita gente) e fiquei careca duas vezes por alisamentos com soda cáustica, uma dessas vezes no dia da minha “formatura” da quarta série, aos dez anos de idade.
Quando eu era menor, queria ser paquita. E minha mãe, que também era mu

Eu demorei décadas para perceber que o que eu sofri na infância na verdade era racismo! Estudei em uma escola pequena, privada, classista e racista -- que só tinha um aluno negro, bolsista, claro. E as crianças lá cantavam para mim a música “Reggae Night” e eu não percebia na época porque aquilo para eles era uma ofensa e porque eu realmente me ofendia tanto.
Minha mãe conta que, quando eu nasci, uma das primeiras coisas que falaram pra ela foi “Ainda bem que nasceu branquinha”… E outras pessoas da família da minha mãe falavam que meu cabelo

Enfim, hoje, aos vinte e cinco anos, com o cabelo crespíssimo, totalmente natural, formada em Antropologia e morando na África, em Moçambique, eu olho para trás e percebo quantas formas e diferentes expressões o racismo pode adquirir na nossa sociedade, principalmente nessa fábula da miscigenação que é o Brasil e na formação de uma auto-estima feminina, o que por si só já é um processo complicado nesse bombardeio de padrões que a sociedade machista nos impõe.
Fico revoltada por imaginar quantas crianças, principalmente meninas, da minha e de tantas outras gerações cresceram sem imaginar que podiam ser consideradas bonitas -– por elas e pelos outros!

Por outro lado, vejo uma luzinha no fim do túnel em algumas coisas como o clipe da Willow Smith de uma música chamada “Whip my Hair”. Tudo bem, sei que não é uma coisa lá muito progressista e reproduz vários clichês, mas é a linguagem da molecada mostrando uma menina negra, de cabelo crespo, trançado como a “popular”, incentivando as outras crianças a “whip your hair” seja lá como ele for… Precisamos de mais expressões desse tipo no Brasil, que ajudem a empoderar as crianças negras, f

Quem sabe o fato de a maioria da população brasileira já ter “coragem” de se auto-intitular parda ou negra seja também um indício de que esta caminhada contra o racismo pode começar a andar a passos um pouco mais largos… porque o caminho ainda é muito longo!
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