Sunday, December 25, 2011

TRÊS DIAS ESPETACULARES EM PARACURU

Eu, maridão, mar à espreita

No final de semana passado eu não estava aqui, em Fortaleza. Eu e o maridão fomos passar três dias maravilhosos numa cidade linda do Ceará chamada Paracuru. Não é longe, dá mais ou menos uma hora de Fortaleza. Ficamos nesta colônia de férias da Associação de Jornalistas. Parece que a Lívia, futura médica, vai sempre pra lá com a família. Desta vez ela decidiu levar alguns amigos, como esta sortuda que vos fala.Ficamos praticamente numa praia particular, porque não tinha mais ninguém naquele longo trecho, com exceção de um pescador simpático (e seus três cães com quem tentei fazer amizade, mas não fui bem sucedida) que tecia sua rede à tarde. Ainda não falei isso pra ninguém, mas eu pensava na promessa que Clarice Starling fez pro Hannibal Lecter caso ele colaborasse com as investigações –- uma semana por ano de praia numa ilha com centro de doenças de animais. “Every day of that week you may walk on the beach, you may swim in the ocean, for up to one hour, under Swat team surveillance, of course” (“Todo dia dessa semana você poderá andar na praia, nadar no mar, por no máximo uma hora, vigiado pelo Swat, é claro”).
Certo, nada a ver esse pensamento! É que não era fácil chegar à praia. Tínhamos que descer uma longa escada. Até a metade, tudo bem. Mas depois começava a ficar cheia de musgo que escorregava. E o último degrau era um degrauzão. 1a etapa das escadas. Ao fundo, no alto, porta que dá pra nossa casa.

Mas valia super a pena, porque a praia era um paraíso. Tinha sombra de árvores, um mar lindo e cristalino (com algumas algas na parte da tarde, mas nada perigoso, como tubarões ou águas-vivas), e até algumas bicas de água doce. Eu provei, dava pra beber numa boa.
Agora, não sei porque os navegadores insistem em dar nome aos oceanos. É só pra confundir as pessoas que nunca sabem se é o Atlântico ou o Pacífico ou o Ártico, nas praias do sul. Todos os mares do mundo podem ser divididos em duas categorias: mar com ondas de afogar Lolinhas, e mar sem ondas de afogar Lolinhas. Infelizmente, a maior parte dos oceanos no planeta encontram-se na primeira categoria.Essa praia particular em Paracuru parecia ser calma e não ter ondas de afogar Lolinhas, mas era pura ilusão. Era só eu entrar na água que uma onda se quebrava em cima de mim e me levava pra longe. O Heltinho, namorado da Lívia, foi super gentil e virou meu BFF (best friend forever). Ele me deu a mão e me puxou pra lá longe no mar, onde a gente só fazia pé na ponta dos pés, na maioria das vezes. A vantagem é que ficávamos num ponto antes das ondas quebrarem. Quer dizer, quase sempre. Ás vezes elas conseguiam se organizar pra quebrar em cima de mim, e era terrível. A Manu também tinha medo, mas ela é durona, e fingia que não tinha. Quando vinha uma onda grande, eu gritava “Salvem a Manu!”.Mas geralmente eu gritava “Mayday! Mayday!”, e isso servia pra alertar os incautos. Então o maridão, do jeito pessimista dele de ser, ensinou que o ideal era gritar “Jacaré!”. Por que jacaré? Porque a pessoa esperava uma onda enorme pra poder fazer jacaré, mas aí vinha uma ondinha de nada e frustrava suas expectativas. Pior é que quase sempre funcionava. Num momento calmo, pedi pra ele falar japonês romântico comigo. A gente tem essa brincadeira em que ele imita (que nenhum falante de japonês o ouça) algumas palavras de forma que lembre japonês, e que sejam românticas. Um dia eu gravo pra vocês, porque é imperdível. Mas desta vez lá estava ele e eu no mar, e de repente, no meio do japonês romântico, ele grita um “Tenaka!”. Era uma ondona vindo em nossa direção.- O que é Tenaka?, eu perguntei.
- É jacaré em japonês, inventou ele.Lalá, e eu no meio, segurando a mão do Helton, num quase Mayday.

Mas na maior parte do tempo eu ficava mais romântica era com o meu BFF, que segurava a minha mão pra eu não ser levada por uma onda de afogar Lolinhas. Por conta disso, tive que ouvir sem parar da Lívia que roubei seu namorado. Eu dizia que não, que só peguei emprestado! E se mais gente fosse menos egoísta e compartilhasse seus namorados (tô pensando na Manu), eu não teria que ficar segurando mão do Helton o tempo todo. Não que eu esteja reclamando, Heltinho!E alguém pode perguntar: onde estava o Silvio, vulgo maridão? Pois é, quando ele não estava se empaturrando de caju (que ele pegava das árvores) e fotografando pedras ou pegando tenakas, digo, jacarés, ele e o Helton até disputaram um campeonato de nado pra ver quem ficava com a minha mão. Até seria romântico, se o Helton, ao chegar milhas depois do maridão, não tivesse me dado uma braçada bem em cima da minha cabecinha. Deu galo e tudo. Acho que isso foi represália por eu ter acabado com ele no gamão (placar: Lolinha 10, Heltinho 3. Isso porque chegou num ponto que paramos de jogar). Aí ele ensinou Monopoly Deal pra gente. É muito, muito legal (compre e jogue. Custa só uns dez reais). É quase um Banco Imobiliário, só que com cartas. E pra quê, né? Assim que o maridão e eu aprendemos, não perdemos mais. A gente só se revezava nas vitórias. É muito triste isso. A pessoa vem, toda entusiasmada, ensinar um joguinho pra gente, e nunca mais ganha. E daí a pessoa, pra tentar justificar, diz que é sorte nossa, que somos as pessoas mais rabudas do universo, que deveríamos jogar na Mega Sena.
Na volta, o maridão até falou pra mim: “O Helton foi um paizão pra você. Mas, meu anjo, a gente precisa deixar a Lívia ganhar de vez em quando”.
É uma pena que nunca mais serei convidada pra ir a Paracuru, porque amei o lugar.
Manu, Livia, eu, Laís. Duas são futuras médicas e uma já é enfermeira. Eu não ia me afogar lá nem que o Helton não me desse a mão.

Dois dias depois, já de volta a Fortaleza, fomos à vernissage do Diego (que também esteve em Paracuru). Diego é fotógrafo profissional e ganhou um concurso para expor suas belas fotos no Dragão do Mar. A gente de vez em quando faz um jogo de mímica de filmes em casa, mas quando dividimos as equipes em meninas vs meninos é uma covardia. A gente ganha de lavada. Na exposição, em foto da Manu: Livia, Silvio, Helton, Caio, eu, Diego.

Adoro todos esses amiguinhos com metade da nossa idade. E sabe como conheci essa gente? Através da Manu, que era leitora do blog (ela diz que ainda é; eu duvido). Ela foi generosa o bastante pra me apresentar a sua rede de amizades. Mas emprestar o namorado que é bom, até agora, nada!

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