Friday, December 23, 2011

NA PRÉ-HISTÓRIA NÃO HAVIA MARIDOTECA. EVOLUÍMOS!

Algumas leitoras pediram que eu comentasse uma reportagem do Fantástico do último domingo (veja aqui), e como eu tardo, tardo, tardo, mas não falho (ahan), tô na área. A matéria era sobre maridotecas, um espaço nos shoppings feito pra que os homens relaxassem enquanto suas esposas percorressem todas as lojas como as malucas incontroláveis que somos. O estranho é que eu já tinha lido algo sobre essa “tendência” bem antes da reportagem. Mas, enfim, algumas mulheres são entrevistadas pra provar que o senso comum está absolutamente certo: “Ah, eu adoro gastar!”, diz uma. “Toda mulher gosta demais de um shopping”, diz outra. Eu ouço essas coisas e meu cérebro faz cálculos: eu sou mulher. Eu não gosto de shopping. Logo, eu não sou mulher?
Puxa, mas como assim? Como uma mulher pode não gostar de shopping, ainda mais de shopping completamente lotado em época de natal? É o paraíso na terra!
Não. É ponto pacífico pra reportagem que 1) mulher adora shopping, e 2) homem odeia shopping. Então, pra eles, há um espaço com atendentes jovens e bonitas (não aquelas umas que eles têm em casa), massagem, pebolim, TV com jogos -– sabe, que nem tem brinquedoteca pra deixar as crianças? Nada como infantilizar os homens também e deixar alguém cuidando deles! “Mas antes de entrar, tem pedágio”, diz o repórter. E a câmera mostra os maridos dando dinheiro e cartão de crédito pras suas respectivas. Porque, óbvio, mulher não trabalha! Mulher não tem seu próprio dinheiro, já nos ensinou a Gisele naquele comercial! A preocupação do repórter com os maridos é genuína: “Vocês não 'tão lá pra controlar! E o prejuízo depois?” Pois é, como deixar sua mulher solta por aí? Coleira nela!
Não consegui prestar atenção no resto da reportagem porque ficava pensando como eu gostaria de receber massagem, comer petiscos e jogar pebolim (é tão legal!) enquanto o maridão vai às compras. Exceto que nenhum de nós dois compra muita coisa, graças aos céus. Mas eu queria entender a causa da matéria não fugir nem um tiquinho do senso comum e da vontade de fazer gracinha. Queria que a matéria tentasse resolver esse grande mistério: por que homem vai às compras com a mulher (que em geral, e principalmente no natal, não compra presentes pra ela, mas pros outros)?
Possíveis hipóteses:
- Pra controlar a mulher.
- Pra carregar as sacolas de compras.
- Pra, no caso de um pote de azeitona aparecer na frente deles, o macho conseguir abri-lo.
- Pra olhar feio pra esposa e lembrá-la que o sagrado matrimônio só é sagrado pro papa.
- Pra estacionar o carro (mulher não sabe dirigir; mulher nem tem carro, como já disse o comercial da Gisele).
- Pra participar de um ritual sofrido e sentir-se mais que um provedor -- um grande caçador.
Pode ser isso? Fui atrás de mais informações, e só encontrei um post antigo num blog que parece ser de marketing. O nome do post é “Porque as mulheres gostam tanto de comprar?”, que também poderia se chamar “Por que a reforma ortográfica não reduziu as quatro formas de porque a apenas duas?”
E a resposta é científica. Quer dizer, de um jeito PsicoEvo de ser:
Na pré-história, cabia ao homem a tarefa inglória de ir à caça, buscar carboidratos para alimentar sua família. À mulher, cabia a missão de cuidar do lar, ou melhor, da caverna. Sua rotina era limpar o ambiente, cuidar dos filhos, preparar a comida. Por sua iniciativa, a mulher também gostava de sair da caverna e buscar, na natureza, objetos, vegetais e frutas que pudessem ampliar a dieta da família. Uma frutinha aqui, uma lenha ali, a mulher era a grande colhedora da natureza. O tempo passou, mas este hábito ficou na gene feminina. Hoje, o hábito de consumir representa uma evolução daquela mulher colhedora da pré-história. Não podendo simplesmente colher, a mulher de hoje compra, e adora comprar! Portanto, caras leitoras, não se sintam culpadas por gostarem tanto de um shopping. Isto é genético!

Não é possível, eu devo ter vindo com um cromossomo Y! Defeito de fábrica!
Puxa, a julgar pelo post (puro senso comum), as mulheres já eram parasitas desde a mais tenra idade da humanidade. Enquanto os machos iam com suas potentes clavas buscar carne de mamute, uma tarefa inglória, as fêmeas tinham a tarefa obviamente gloriosa de limpar a caverna, uma caverna sem luz elétrica e alguns séculos antes da invenção do aspirador em pó. A rotina tranquila das fêmeas deixava tanto tempo livre que elas, por sua sua vontade mesmo, e pra se distanciarem do choro dos Bambans e Pedritas, saíam por aí em busca de coisas absolutamente fúteis, porque, né, quem precisa de frutinha se seu homem vai trazer um mamute? Mas hoje sim somos evoluídas: não colhemos, compramos! E pagamos com o cartão de crédito do marido! Uau! E não é pra se sentir culpada, Wilma Flintstone! Você não consegue sair de um shopping porque foi geneticamente programada pra isso!
Como esse tipo de pensamento está arraigado na sociedade! As pessoas acreditam nessas baboseiras sem piscar. Afinal, é ciência! Outro dia uma amiga minha, a Manu, contava o que viu num programa de TV verspertino, cujo público-alvo é composto de mulheres. Um especialista explicava que a gente não pode querer discutir a relação com o companheiro nunca, porque homem não gosta mesmo de ouvir, mas, nos raros casos em que a gente de repente quiser se comunicar com nossos machos, deve escolher a parte da manhã. Por quê? Ah, porque é genético. Na pré-história, os homens saíam pra caçar, geralmente de manhã (por isso, já explicou um psicólogo evolucionista, a cor preferida do homem é azul. Céu azul, sacou? Nós amamos rosa por causa das frutinhas). E à noite os machos estavam exaustos, após tanto esforço físico. Só queriam se jogar no sofá, ver uma partida de futebol na TV, e beber cerveja. Mas, na falta disso tudo, só lhes restava dormir mesmo, pobrezinhos. Nós mulheres precisamos compreender nossos provedores.
Pois é. Cadê o meu mamute?

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