

Os assessores narram que esse sucesso lhe subiu à cabeça e fez com que sua personalidade mudasse. Tornou-se arrogante e mandão, adorando a fama. Mas ao menos num ponto os assessores estavam tranquilos: Edwards, embora muito asse
diado pelas mulheres, era esperto o bastante pra não ser seduzido. Ele sabia que não poderia cometer nenhum deslize num país conservador como os EUA, em que Clinton por pouco não perdeu seu mandato por causa de sexo oral. Ainda mais tendo ao lado uma esposa querida do público, e com câncer.
Mas Edwards se envolveu com Rielle Hunter, uma mulher que prestava serviços para sua campanha, ocupando-se da produção de vídeos. Eles se tornaram inseparáveis, atraindo atenção demais de a
ssessores, que tentaram alertá-lo do risco de um escândalo em sua carreira. Nada foi feito até que Elizabeth conheceu Rielle, percebeu de cara que havia algo entre ela e o marido, e ordenou que Rielle fosse despedida. Mas boatos já haviam vazado, e o estrago estava feito.
O jornal National Enquirer, desses tabloides sensacionalistas vendidos em supermercados, publicou em outubro de 2007 uma matéria que mencionava um email de uma certa assessora dizendo que estava apaixonada por Edwards, mas que era difícil, porque ele era casado e tinha filhos. O comitê conseguiu contornar o escândalo, falando pra mídia mais respe
itável que aquela matéria não passava de uma mentira trash de um tablóide. Por incrível que pareça, a história não se espalhou para blogs e jornais sérios, e o pior que ainda se podia dizer de Edwards é que ele andava com um corte de cabelo que custava 400 dólares. A Newsweek até deu capa para o candidato em dezembro, analisando suas possibilidades na corrida. Mas o tablóide sensacionalista atacou novamente. Desta vez o nome de Rielle era mencionado. Havia até uma foto dela e sua gravidez de seis meses. O texto afirmava que ela havia dito a uma amiga que o pai da criança era Edwards.
Como a equipe de Edwards já sabia de antemão da publicação dessa segunda reportagem, apresentou um antigo assessor pessoal do candidato, Andrew Young, que declarou ser o pai da criança de Rielle. Pegou mal: alguns colaboradores lembravam que Andrew havia mencionado ter feito uma vasect
omia. Outros perceberam que era só uma questão de tempo para o bafão aparecer com força total, e pensaram no que fazer: deveriam conversar com os repórteres? Porque imagina só o que teria acontecido se Edwards tivesse conseguido a indicação e saído candidato a presidente pelo Partido Democrata. John McCain, o candidato republicano, venceria fácil, fácil, assim que o escândalo estourasse.
Enquanto a mídia continuava fechando os olhos pras matérias do National Enquirer e os assessores discutiam sua reponsabilidade em dar de bandeja o terceiro mandato cons
ecutivo pros republicanos, a força do candidato Edwards foi se esvaindo. Ele perdeu a preliminar em Iowa e fez uma oferta a Obama: se retiraria da campanha, dando-lhe seu apoio contra Hillary, mas em troca queria a vaga de vice. Obama não topou, porque queria ganhar de Hillary sozinho, sem ajuda.
O bebê de Rielle e Edwards nasceu em fevereiro de 2008. Em julho, o tablóide publicou uma reportagem do senador secretamente visitando a filha. Algumas semanas depois, o Enquirer incluiu
uma foto (fora de foco) de Edwards com o bebê no colo. A essa altura, óbvio, Obama não queria mais Edwards nem pra discursar a seu favor na convenção. Numa entrevista para a TV, Edwards desastradamente seguiu mentindo, inclusive para Elizabeth, ao mesmo tempo em que se recusava a fazer o teste de paternidade.
O que já estava ruim foi piorando. Quando finalmente ficou provado que a filha era mesmo de Edwards, Elizabeth entrou com pedido de separação formal. Assessores do senador decidiram contar a história num livro. Rielle ameaçou divulgar um vídeo em que ela e Edwards faziam sexo. E assim a promissora carreira do jovem político chegou ao fim. Em 2009 Edwards foi eleito a figura pública mais desprezível dos EUA, com o dobro dos votos de Tiger Woods. Elizabeth morreu no final de 2010.
E agora o Departamento de Justiça americano permitiu que fosse instaurado um processo contra Edwards. A acusação (feita pelo Enquirer anos antes!) é de que ele usou dinheiro da campanha para ora comprar o silêncio da amante, segundo algumas fontes, ora pagar pensão à filha. O futuro parece sombrio.
O que sempre me chamou a atenção nessa trama toda foi a cumplicidade da mídia. Ok, lógico que Edwards não era conhecido por suas puladas de cerca, ao contrário de Dominique Strauss-Kahn, o ex-chefe do FMI e ex-principal candidato socialista a presidente da França (que foi acobertado pela imprensa francesa por anos a fio), mas muitos jornalistas sabiam do seu adultério. Parece até
a nossa imprensa, que soube durante mais de uma década do filho bastardo de FHC, e nunca deu um pio. No caso de Edwards, foi um tablóide desacreditado quem deu o furo de reportagem. Uma coisa é certa: se Edwards tivesse saído candidato, hoje o presidente dos EUA seria McCain ― que, ironicamente, também traiu a esposa, mas foi perdoado.

Mas Edwards se envolveu com Rielle Hunter, uma mulher que prestava serviços para sua campanha, ocupando-se da produção de vídeos. Eles se tornaram inseparáveis, atraindo atenção demais de a

O jornal National Enquirer, desses tabloides sensacionalistas vendidos em supermercados, publicou em outubro de 2007 uma matéria que mencionava um email de uma certa assessora dizendo que estava apaixonada por Edwards, mas que era difícil, porque ele era casado e tinha filhos. O comitê conseguiu contornar o escândalo, falando pra mídia mais respe

Como a equipe de Edwards já sabia de antemão da publicação dessa segunda reportagem, apresentou um antigo assessor pessoal do candidato, Andrew Young, que declarou ser o pai da criança de Rielle. Pegou mal: alguns colaboradores lembravam que Andrew havia mencionado ter feito uma vasect

Enquanto a mídia continuava fechando os olhos pras matérias do National Enquirer e os assessores discutiam sua reponsabilidade em dar de bandeja o terceiro mandato cons

O bebê de Rielle e Edwards nasceu em fevereiro de 2008. Em julho, o tablóide publicou uma reportagem do senador secretamente visitando a filha. Algumas semanas depois, o Enquirer incluiu

O que já estava ruim foi piorando. Quando finalmente ficou provado que a filha era mesmo de Edwards, Elizabeth entrou com pedido de separação formal. Assessores do senador decidiram contar a história num livro. Rielle ameaçou divulgar um vídeo em que ela e Edwards faziam sexo. E assim a promissora carreira do jovem político chegou ao fim. Em 2009 Edwards foi eleito a figura pública mais desprezível dos EUA, com o dobro dos votos de Tiger Woods. Elizabeth morreu no final de 2010.

E agora o Departamento de Justiça americano permitiu que fosse instaurado um processo contra Edwards. A acusação (feita pelo Enquirer anos antes!) é de que ele usou dinheiro da campanha para ora comprar o silêncio da amante, segundo algumas fontes, ora pagar pensão à filha. O futuro parece sombrio.
O que sempre me chamou a atenção nessa trama toda foi a cumplicidade da mídia. Ok, lógico que Edwards não era conhecido por suas puladas de cerca, ao contrário de Dominique Strauss-Kahn, o ex-chefe do FMI e ex-principal candidato socialista a presidente da França (que foi acobertado pela imprensa francesa por anos a fio), mas muitos jornalistas sabiam do seu adultério. Parece até

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