Vi os três primeiros programas de uma atração do SBT, o SOS Casamento, e co
nfesso que gostei bastante (vi em vídeo, não na TV, o que é melhor, porque não tem comerciais, dá pra pausar, eu é que controlo). No fundo eu adoro esses programinhas bregas do tipo Troca de Família e tal. Neste SOS Casamento, como o próprio nome diz, um casal com sérios problemas de relacionamento, prestes a se separar, recebe a ajuda de uma orientadora, que promove montes de exercícios. Claro, parece absurdo expor sua intimidade para milhões de espectadores, m
as e se de repente funciona a remendar um casamento? (Metade dos casamentos acabam em divórcio mesmo). Imagino que existam casais que não aceitariam fazer terapia juntos, mas, nesta época de celebridades instantâneas e grandes irmãos nos observando, vejam com bons olhos aparecer na TV. Percebi também que, nesses três episódios, sempre fiquei do lado da mulher. Não sei explicar, mas houve uma empatia imediata. E olha, nem sempre foi assim. Sinal que estou mudando? 
No terceiro episódio (segunda parte aqui) uma moça gordinha, que não conseguiu emagrecer depois da gravidez e tem problemas de autoestima por causa disso, precisa ouvir constantemente do marido que ela "embarangou" (que palavrinha horrível, hein?) e que é uma gorda nojenta. Ela o ofende também, mas, né, pelamor. E uma das principais reclamações do marido é que eles não transam mais, ou transam pouco. Eu fico pasma de alguém pensar que, depois de insultos tão pesados, dá pra apagar tudo e fazer sexo. Este casal foi, disparado, o que eu achei que
tem menos chance de acertar, e que não vai durar muito. Porque, com os anos, a mulher passou a odiar o cara (e, digamos, com um pouco de razão). Já ouvi muitos relatos de mulheres que ouvem de seus parceiros (ou familiares) que estão horrorosas. Pô, isso que é dormir com o inimigo! Eu não suportaria um relacionamento desses. Já sou bastante bullied no Twitter e no blog, obrigada.
No segundo episódio, a moça é casada com um zumbi. Desses que aproveitam todas suas horas vagas não pra dar atenção à mulher e aos filhos, mas pra ver qualquer porcari
a na TV. A moça fala com ele (e ela fala demais, é chata, repetitiva), e ele não responde, nem olha pra ela. Na origem desse casamento, há o problema dos dois terem ficado juntos por causa de uma gravidez indesejada. Cabe à consultora mostrar que, apesar desse acidente, os dois tiveram que fazer escolhas nas várias etapas do relacionamento. Ele aprende a se colocar no lugar dela (através de um ótimo exercício em que precisa pedir ajuda a estranhos na rua, sem saber que veste uma faixa escrito “Não me a
jude”; dessa forma, ele compreende como sua esposa se sente). Já ela aprende a fazer menos cobranças, abrir espaço caso o sujeito decida falar alguma coisa, e descobrir que príncipe encantado não existe.
Mas foi no episódio de estreia (que na realidade foi o terceiro que vi) que a coisa pega. É bem triste. Como feminista, tive que fazer um esforço de empatia maior, porque minha tendência seria gritar “Separa logo desse homem, muié!”. E ela o ama. Ele é um machista assumido, do tipo que não
permite que a mulher trabalhe fora de casa, porque é missão dela na Terra cuidar dos filhos, e que gosta de sair e beber com os amigos, mas de jeito nenhum que a esposa pode fazer isso. Então, após duas décadas de casamento, é possível ver como ela se anulou completamente. Um exercício que a consultora faz com ela é mostrar um painel de fotos em tamanho real, com o marido e os filhos, e ela vai tirando parte das fotos, até sobrar apenas a mulher em questão. Ao ser perguntada como se sente, ela responde: “Não sobra nada”. Através dessa atividade, a esposa nota que, depois de tantos anos, ela não é ninguém sem
o marido e os filhos. Convenhamos: deve ser uma descoberta avassaladora.
E em tudo, em todos os seus gestos, na avaliação que a esposa faz do relacionamento e do marido, percebe-se uma total submissão. O jeito do programa lidar com essa situação é devolver algum poder a ela. Ou seja, o casamento só poderá dar certo se houver equilíbrio de poder na relação. Uma atitude feminista, certo? (o programa não menciona instâncias de violência doméstica, o que não é nada incomum numa dinâmica dessas).
A orientadora também tenta educar o marido. Primeiro ele tem que assistir uma encenação (moralista, mas bem realista) do que pode acontecer com ele no futuro, sozinho
, sem família: seria ele na praia sendo grosseiro com as mulheres, frustrado e rancoroso. Ele se identifica com aquela situação, e revela que seu maior medo é mesmo a solidão. “Tô acordando agora pra vida, tô reaprendendo a viver. Eu nunca tinha pensado nisso”, diz ele um pouco depois.
A resistência quando a orientadora propõe uma inversão de papéis é imensa, da parte de ambos. A mulher é que vai sair com uma amiga, enquanto o marido vai ficar em casa, cuidando da casa e dos filhos. O cara já fica completamente indignado por ter q
ue lavar a louça: “Eu detesto cozinhar na sujeira”.
O problema maior eu vi quando chegou na parte da dança. Porque dança de salão tem toda uma coisa machista de que o homem é que conduz. E isso já existia no relacionamento dos dois sem música. Se a lição é “conduzir gentilmente”, “a dama se entregar e confiar no cavalheiro”, aí eu acho bem fraquinho.
Mas talvez, no estágio que estava essa relação, ter um casamento em que o macho coordena com leveza seja menos ruim que uma total ruptura. Quero dizer, se dependess
e de mim, não é que aquela mulher se separaria -– ela nem se casaria com um machistóide desses! Mas ela se casou. E, pelo jeito, foi ela que escolheu. Aí entramos em outra seara delicada: até que ponto o feminismo deve apoiar as escolhas individuais de uma mulher, mesmo se essas escolhas forem as piores possíveis?



No terceiro episódio (segunda parte aqui) uma moça gordinha, que não conseguiu emagrecer depois da gravidez e tem problemas de autoestima por causa disso, precisa ouvir constantemente do marido que ela "embarangou" (que palavrinha horrível, hein?) e que é uma gorda nojenta. Ela o ofende também, mas, né, pelamor. E uma das principais reclamações do marido é que eles não transam mais, ou transam pouco. Eu fico pasma de alguém pensar que, depois de insultos tão pesados, dá pra apagar tudo e fazer sexo. Este casal foi, disparado, o que eu achei que

No segundo episódio, a moça é casada com um zumbi. Desses que aproveitam todas suas horas vagas não pra dar atenção à mulher e aos filhos, mas pra ver qualquer porcari


Mas foi no episódio de estreia (que na realidade foi o terceiro que vi) que a coisa pega. É bem triste. Como feminista, tive que fazer um esforço de empatia maior, porque minha tendência seria gritar “Separa logo desse homem, muié!”. E ela o ama. Ele é um machista assumido, do tipo que não


E em tudo, em todos os seus gestos, na avaliação que a esposa faz do relacionamento e do marido, percebe-se uma total submissão. O jeito do programa lidar com essa situação é devolver algum poder a ela. Ou seja, o casamento só poderá dar certo se houver equilíbrio de poder na relação. Uma atitude feminista, certo? (o programa não menciona instâncias de violência doméstica, o que não é nada incomum numa dinâmica dessas).
A orientadora também tenta educar o marido. Primeiro ele tem que assistir uma encenação (moralista, mas bem realista) do que pode acontecer com ele no futuro, sozinho

A resistência quando a orientadora propõe uma inversão de papéis é imensa, da parte de ambos. A mulher é que vai sair com uma amiga, enquanto o marido vai ficar em casa, cuidando da casa e dos filhos. O cara já fica completamente indignado por ter q

O problema maior eu vi quando chegou na parte da dança. Porque dança de salão tem toda uma coisa machista de que o homem é que conduz. E isso já existia no relacionamento dos dois sem música. Se a lição é “conduzir gentilmente”, “a dama se entregar e confiar no cavalheiro”, aí eu acho bem fraquinho.
Mas talvez, no estágio que estava essa relação, ter um casamento em que o macho coordena com leveza seja menos ruim que uma total ruptura. Quero dizer, se dependess

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