Leia na íntegra o poema Ele da obra inédita Ode Triste para Amores Inacabados do poeta e jornalista ribamarense Fernando Atallaia
Ele
Todos olham com os olhos dele
Todos sentem como ele sente
Nascido para ser rei mendigo doente
Ele ver aquilo que somos
Que sois entre as paredes
Todos amam como ele ama
E se não imitam até as brechas parecidas
Todos tocam como ele toca
Mas só a ele o sentir e os sentidos
Todos beijam como ele beija
Para serem bocas que nunca viram
Todos gritam quando ele grita
Mas só a ele a língua e o beijo em silêncio
Todos partem quando ele parte
Casam-se calados quando ele casa
Mas ele assombra a solidão e a tempestade
A ele o amar convicto e a beleza aos cantos
Nenhuma dor o alucina certamente
Filho de Deus dos deuses e das majestades
Senhor dos tristes e desesperados
Palavra que o alimente de luz e razão
Todos mentem se ele mente
Mas ninguém mente como ele na guarnição da verdade
A ele todo ódio inexistente e o amor em gotas fustigado
Como sem ele nada se vira se lança se exaspera
Todos menos ele nas fachadas
O esperam as noivas de outrora de hoje e do sempre
Irmão das éguas e das putas disfarçadas
Todas elas o querem ao lado eternamente
Ninguém mais que ele ama mais que todos os obstinados
E só com ele é ter os muitos caminhos para além da dor
Amar sem ele é chorar no dia as madrugadas
A seus pés toda sorte de reclames e a lâmina em flor
Há quem lance as trevas sem conhecer a escuridão
Há quem olhe nele lampiões adormecidos
E no mural que dele surge em presentes apagados
Há a mão que o procura tateante
Com ele a morte e a vida dos instantes
A rigidez equânime dos passados
Assim com ele as muitas aves e as muitas vozes
Nos voos da beleza e das abóbodas
Me ensinou ele os hemisférios das ideias e do gozar
Assim perplexos alguns sem ele escarnecem
Rejeitados
Ele sabe dos tumores da guerra e da paz dos corações estraçalhados
Todos com ele a nado a nadas de espera
A tudos em troca de nada
Mas com ele o belo é mais belo
E as aves de rapina são passarinhos de calçadas
Cantarolam por ele e morrem se necessário.
2011
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