Sunday, July 24, 2011

VOCÊ VIU AQUI PRIMEIRO

Então, gente ótima, cá estava eu, com preguiça pra escrever sobre a viagem, mas escrevendo (ainda vou publicar, é só que tá tudo desorganizado), quando vi o comentário de um troll no post anterior corrigindo a gramática dos outros. Era muito engraçado. Um troll totalmente incapaz de escrever uma linha coerente corrigindo os outros! Como disse a BruxaOD, uma blogueira que tive o prazer de conhecer recentemente pelo Twitter, “Minha nossa senhora da concordância gramatical, dai-me paciência!”. Claro que eu tinha que tuitar sobre isso, e foi o que eu fiz. Pelo lado negativo, esse tweet levou a outros, que interferiram no meu (ha ha) processo criativo. Mas, pelo lado positivo, foi graças ao tweet sobre o troll que descobri um excelente blog que quero compartilhar com vocês. Uma jornalista de 30 anos, a Letícia, me mandou um tweet dizendo que esse troll aí com avatar do Michael Jackson (tadinho do Michael, o que ele fez pra merecer isso?) também já deixou uns comentários no blog dela, e ela não entendeu patavinas, porque, bom, digamos que o troll em questão tenha um jeito único de se expressar. Um jeitinho todo pessoal que torna 90% do que ele diz totalmente ininteligível, sabe? E mesmo sem entender a gente já sabe que não tá perdendo muita coisa. Bom, apesar da minha crônica falta de tempo, ou talvez por causa dela, entrei no blog da Letícia pra ver do que se tratava... e adorei. Olhem só que proposta interessante: ela vai transar com cem homens (não ao mesmo tempo, tá mais pra um a cada três dias), e falar um pouco sobre cada ueba (é como eu e o maridão nos referimos a sexo: "E aí, hoje vai ter ueba?", geralmente no natal).
Por que adorei? Primeiro porque gosto desses blogs que, ao contrário do meu, têm um propósito na vida (outra Letícia também recomendou este). De cara pensei no fofíssimo filme Julie & Julia, aquele em que uma blogueira decide experimentar uma receita por dia. Segundo porque me remeteu a quando eu tentava me recordar dos meus parceiros sexuais. Isso foi antes de eu virar a Santa Padroeira da Monogamia, ainda no tempo em que os dinossauros dominavam a Terra. Não existia internet naquela época, e eu anotava algumas características sobre os parceiros num caderninho... Até que minha irmãzinha descobriu o caderno e veio com perguntas do tipo “O quê?! Você transou com o Fulano?!”. E eu achei que minha vida sexual deveria ser só minha, particular, e dei um fim no caderninho. Só que, infelizmente, praticamente todos os carinhas que eu papei desapareceram da minha memória. É que, como diz uma amiga, faz tempo, né? Faz. Ainda bem que não tenho mais contato com quase nenhum deles, porque ia ser humilhante perguntar pro carinha, a la Harry e Sally, “Você e eu, eu e você, nós, tipo assim, fizemos?" (e olha que eu nunca bebi na vida). Passa a impressão que não foi a transa mais espetacular da sua vida. E até pode ter sido, mas mais de duas décadas depois, perde um pouco da perspectiva.
Gostei do blog da Letícia por essa identificação, e porque ela escreve bem, é sincera, e trata bem os respectivos (anônimos, lógico). E por outras coisinhas, como, por exemplo, ela não ter vergonha em dizer que não sente tesão por mulher (sei lá, parece que hoje uma mulher hétero declarar que não tem vontade de beijar outra mulher é coisa de recatada), e afirmar pras gordinhas e gordinhos que somos tod@s lind@s. E ela é responsável, incentiva o uso de camisinha sempre, diz pras meninas nunca se deixarem filmar ou fotografar (a menos que seja nas câmeras delas!), e não é exibicionista (desculpe, mas tenho pouca paciência com blogs sobre sexo de gente que quer mais é contar vantagem).
Minha única queixa é que Letícia ainda usa termos como “dar” e “comer”. Detesto essas expressões que denotam total passividade por parte da mulher (que “dá” e “é comida”). Sei que as pessoas não usam isso por mal, mas, à medida em que vamos discutindo o sexismo na língua (como escreveu o Robson, tá na hora de não usar mais homem quando queremos dizer humano), e em que criticamos o uso de homossexualismo (que implica doença; afinal, não falamos em heterossexualismo) em vez do correto homossexualidade, é bom buscar um tratamento mais igual também ao conversarmos sobre sexo.
Enfim, o Cem Homens em Um Ano é o tipo de blog que tem tudo pra ficar famoso rapidinho, e (sempre quis usar isso!) você viu aqui primeiro. Como disse um leitor, um blog desses, escrito sem moralismos por uma mulher que adora sexo e está se descobrindo, é importante para quem tenta se desfazer do seu arraigado machismo.
Sem falar que Letícia me prometeu que não vai transar com um mascu nem que ele seja o último homem na Terra e falte apenas um pra ela chegar ao número cem. Porque, né, pra quê? Pro sujeito chamar de vadia alguém que exerce sua sexualidade livremente? Que foi, inclusive, o que fez o nosso troll com avatar do Michael Jackson e problemas de comunicação...

Outro blog que venho recomendando direto no Twitter é o da Jux (linkado aí ao lado faz tempo). Os dois últimos posts escritos por ela estão imperdíveis. Um é sobre o Miss Brasil 2011. Não houve uma só candidata negra entre as 27 representantes. Mas claro, se não apenas metade da metade da população brasileira fosse negra ou parda, aí sim certamente teríamos candidatas negras e pardas. A Jux ainda me contou que a Miss Bahia, originalmente loira, tingiu o cabelo de castanho pra não fugir tanto do padrão num estado com 80% dos habitantes negros. Não se preocupe, Miss Bahia, que aqui no Brasil ninguém é racista ou dá bola pra esse negócio de cor! É só coincidência que 27 entre 27 candidatas sejam branquinhas! Enquanto isso, a Miss Suíça e a Miss Noruega são negras.
Por falar em Noruega, Jux, que mora na Alemanha, escreveu sobre os bárbaros atos terroristas que mataram (até agora) 93 pessoas por lá, na pior tragédia do país desde a Segunda Guerra Mundial. Ontem no almoço o site da IstoÉ ainda falava de terrorista muçulmano, mesmo depois da foto do loirão alto de olhos azuis ganhar o mundo. O autor do massacre foi um extremista de direita (redundância?) e fundamentalista cristão, e, como aponta J
ux, tá longe de ser o primeiro a se encaixar nesse perfil. Então por que sempre que acontece algo assim a mídia (e nós mesm@s) falamos em terrorista muçulmano? Por que, quando o atentado é mesmo obra de um fanático islâmico, seu autor representa toda a comunidade islâmica, enquanto que, quando o autor é um fanático cristão, ele é pintado como um louco solitário e sua religião sequer é mencionada?
Boa leitura e um ótimo restinho de domingo, gente! Eu vou ao cinema ver o último filme do Woody Allen, que todo mundo vem falando tão bem. Todo mundo já viu, o que vem a calhar num post com este título.

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