Começa hoje, em Salvador, Bahia, o VII Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual.
Na programação do evento está a Avant première do filme "O Homem Que Não Dormia"
(em 29 de julho, no Teatro Castro Alves). O filme é a mais nova produção do
baiano Edgar Navarro (“SuperOutro”, “Eu me lembro”). No elenco, nomes de peso, como
Luis Paulino dos Santos, Bertrand Duarte, Evelin Buchegger, Jorge Washington, Carlos
Betão, Pisit Mota, Nélia Carvalho, dentre outros. Para nós, sulbaianos, é grande o orgulho
em saber que o ator e poeta Ramon Vane também compõe o elenco.
Nesta entrevista, Navarro fala a respeito de “O homem que não dormia”, filme que tem trilha sonora original assinada por Tuze de Abreu e Andre T, Produção Executiva de Sylvia Abreu, Di Moretti na Consultoria de Roteiro, Direção de Fotografia de Hamilton Oliveira e Direção de Arte de Moacyr Gramacho.
Edgard Navarro. Foto: Calil Neto |
Operária das Ruínas – Quais as expectativas relacionadas com a primeira exibição do filme O Homem Que Não Dormia, por ocasião do VII Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual?
Edgard Navarro - A expectativa é grande. Afinal, foram muitos anos de espera até concluir o trabalho e trazê-lo a público. Fico ansioso em relação à recepção que o filme terá em sua estreia, com a certeza de que nossa equipe, nosso elenco e eu fizemos o melhor que pudemos pra traduzir em fotogramas esta metáfora que pra mim é tão significativa.
OR – Edgard, você se refere ao filme O Homem que não dormia como o “fechamento de um ciclo”. Em que consiste isso?
Foto: Calil Neto |
EN - A rigor, não há nada de concreto; nem poderia haver, acho; tudo o que sinto em relação a essa coisa de fechamento de ciclo e tal é de natureza intuitiva; o que (pelo menos pra mim) não quer dizer que não mereça ser levada a sério – eu levo! Levo tão a sério que dediquei muitos anos de minha vida na realização desse filme. Sempre foi assim, aliás: filmes que buscam respostas pra minhas inquietações, as quais terminam sendo comuns a muitas pessoas. Através da empatia se dá o fenômeno da catarse coletiva que a arte propicia. Talvez por ter chegado à maturidade, sinto (sempre intuitivamente) que este é um momento de conclusão de uma busca que já dura tempo demais, até. Ansiedade... Anseio por transpor esse instante de misterioso sortilégio que me tem chegado pelas vias do sonho e do desejo. Entretanto aprendi: enquanto o tempo não trouxer teu abacate...
OR – Quem é e o que representa esse personagem – o homem que não dormia?
Luis Paulino dos Santos interpreta O homem que não dormia. Foto: Calil Neto |
EN - De um modo mais abrangente, ele representa o lado trevoso do ser, prenhe de culpas; aquilo que em nós teima em se boicotar em face da vida, que se nega a sentir alegria. O filme vai tratar da etiologia da doença e do único caminho que se oferece para uma cura possível; trata do resgate da integridade primordial da qual fomos apartados ao longo do processo de adequação às regras da vida em sociedade, etc. O desmascaramento e o enfrentamento da verdade de cada uma daquelas personagens coloca-se como uma saída possível, uma brecha por onde talvez a luz do espírito possa fulgurarsuas vidas. Será possível? A resposta está no vento.
OR – A sinopse do filme indica que os personagens, ao serem “lançados num vórtice de acontecimentos insólitos”, libertam-se do “jugo perverso das hipocrisias, medos e doenças”. Seria esse um estado de alucinada lucidez?
Ramon Vane interpreta Pafrente Brasil. Foto: Calil Neto |
Jorge Washington, o "lubisone". Foto: Calil Neto |
EN - Alucinação e lucidez. Interessante notar que ambas as palavras descendem de uma matriz – luz; e que encerram sentidos opostos. É justamente por aí, nesse limite fronteiriço entre sanidade e loucura que essa parábola expõe seu jogo de mão dupla. De qualquer forma, acho que definir esse estado requer mais profundidade do que a permitida pelo exíguo espaço de uma sinopse. A fazer lucubrações prévias, prefiro que as pessoas assistam ao filme e sejam tocadas por todos os possíveis timbres que o drama evoca e tenta fazer soar no espírito de cada um.
Fernando Neves, o "coronel Abilio" |
OR – Parece que novamente você constituiu uma constelação de personagens provocadores, “escandalosos”... Você pode falar a esse respeito?
Bertho filho, o "cego jovem". Foto: Calil Neto |
EN - O mundo em que se vive é cheio de tipos provocadores; apenas colho a matéria de meus delírios poéticos do grande manancial que se oferece a nossos olhares e à nossa sensibilidade. Mas sempre tive uma queda, sim, pelo torto, pela contramão, por aquilo que não é de fácil digestão; ainda não alcancei a leveza que pretendo (talvez consiga essa dádiva através do mote que venho propalando desde o Superoutro: Abaixo a Gravidade!). Mas até hoje as personagens que se impõem a mim são como teoremas a serem demonstrados, enigmas propostos à mítica esfinge – e já sabemos que a resposta a ser dada acho que é justamente: “não sei”.
OR – O filme foi rodado na cidade de Igatu (Chapada Diamantina), também conhecida como a “Machu Picchu do garimpo”. De que maneira essa produção mobilizou a população local?
EN - A população de Xique-Xique de Igatu foi de uma cooperação comovente. Eles se empenharam em nos ajudar em tudo o que precisamos. Pudemos atestar esse fato numa cena final que se dá durante a procissão do Divino (padroeiro local), quando quase todos os habitantes se tornaram figurantes participativos e fervorosos, o que deu mais realismo à cena referida.
OR – Quais são os planos para a divulgação e circulação de O Homem Que Não Dormia?
EN - Primeiro vamos cuidar de nossa estreia em Salvador; depois queremos levar o filme pra uma exibição especial lá em Igatu; num terceiro momento, iremos participar do Festival de Brasília, confiantes de que teremos uma boa acolhida. Depois gostaria de fazer o lançamento do filme com a maior brevidade possível, sem grande estardalhaço, uma cidade de cada vez, com poucas cópias; esse é o meu perfil; talvez avançando aos poucos possamos consolidar a trajetória do filme junto ao nicho que nos é destinado – o público do cinema de arte e quem sabe possamos atingir uma fatia de público das plateias do circuito comercial convencional.
OR – Gostaria de destacar algo que não foi contemplado por esta entrevista?
Fabio Vida, Mariana Freire, Evelin Bucchegger, Bertrand Duarte, Ramon Vane. Foto: Calil Neto |
EN - O empenho da equipe e do elenco; todos vestiram a camisa, como se diz, e não mediram sacrifício para alcançarmos o nível de excelência que alcançamos. Desde a turma da arte, do figurino, da fotografia, da produção, sem falar da turma da pesada (literalmente)... Enfim, não é pra nos gabar, não, mas nosso filme está muito bonito!
Blog do filme “O Homem que não dormia”:
O HOMEM QUE NÃO DORMIA
FICHA TÉCNICA
ROTEIRO E DIREÇÃO: EDGARD NAVARRO
CONSULTORIA DE ROTEIRO: DI MORETTI
PRODUÇÃO: SYLVIA ABREU, EDGARD NAVARRO
PRODUÇÃO EXECUTIVA: SYLVIA ABREU
DIREÇÃO DE FOTOGRAFIA: HAMILTON OLIVEIRA
DIREÇÃO DE ARTE: MOACYR GRAMACHO
SOM DIRETO: NICOLAS HALLET
MONTAGEM: CRISTINA AMARAL, PABLO OLIVEIRA
MÚSICA ORIGINAL TRILHA SONORA: TUZÉ DE ABREU, ANDRÉ T
DIREÇÃO DE PRODUÇÃO: TAÍSSA GRISI
1º ASSISTENTE DE DIREÇÃO: ADLER KIBE
2º ASSISTENTE DE DIREÇÃO : DAVI CAIRES
3º ASSISTENTE DE DIREÇÃO : THIAGO GOMES
SELEÇÃO E PREPARAÇÃO DO ELENCO: MARCONDES DOURADO
PRODUÇÃO DE ELENCO E FIGURAÇÃO: BERTHO FILHO
STILL: CALIL NETO
ASS. DE ARTE: CAROL TANAJURA
ASS. DE ARTE: RAQUEL ROCHA
COORDENADORA DE PRODUÇÃO: RITA CORREIA
ASS. DE PRODUÇÃO: TIAGO CAVALCANTI
ASS. PRODUÇÃO IGATU: MARIUCH
PRODUÇÃO DE BASE: GUISELA
PLATÔ/PRODUTOR LOCAÇÃO: MACARRA VIANNA
CHEFE DE ELÉTRICA: ORLANDO FERNANDES
STEADY CAM: PAULO HERMIDA
FIGURINISTA: DIANA MOREIRA
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