Friday, September 30, 2011

A "CONSAGRAÇÃO DO INSTANTE" - DANIELA GALDINO E MILENA PALLADINO

Na quinta edição da Série "A Consagração do Instante", um encontro grapiúna: o cruzamento dos olhares de Daniela Galdino (poesia) e Milena Palladino (fotografia). Os poemas de Daniela Galdino compõem o livro Vinte poemas CaleiDORcópicos, publicado em 2005 pela editora Via Litterarum.



Foto: Milena Palladino

AMPLIDÃO TÊNUE


O pudor nunca foi meu escudo.
Entre o pensar e o sentir
este foi o meu caminho.

... porém, há instantes
em que o viver
orna-se de espinhos...

E eu, que nunca
percorri os passos
dos que ladeiam os meus,

que jamais pronunciei
a palavra-chave

nem tampouco
fiz brotar na terra
a cobiçosa semente,

- mas inócuas gotas escarlates -

abro as mãos para
forjar  uma coroa
e reúno espinhos

para redesenhar
as linhas que cortam
minhas duas palmas.

Na assimétrica via,
ensaio uma marcha
sob os ecos do silêncio.
 
(Daniela Galdino)



Foto: Milena Palladino

 
AVE-TE!

O defunto
e o cocar imaginário
jaziam
no colchão ortopédico.

Afogaram-se
em penas
- por isso emigraram.

Pássaros
nunca são
os mesmos.

Os ovíparos sabem
das coisas
e dos homens:

anunciam a manhã
dormem nas árvores
dialogam ninhos
e morrem a trinta pés.


(Daniela Galdino)



Foto: Milena Palladino
 

PARIDADE INSANA

 

Somos intrusos.

Entramos sem convite
na arca de Noé

Navegamos...

Não por sobre o mar
mas num imenso rio

onde hoje trafegam
espermas esquecidos,

descompensadas
lembranças
de palavras não-ditas

e em cuja margem
estão os homens

à espera do dia
em que serão
                        redimidos.

(Daniela Galdino)



Foto: Milena Palladino

AD INFINITUM


E a pomba
desceu à terra
para contemplar
a seta da flecha.

Viu-se num caleidoscópio.
para ficar,
faltou
gesto impetuoso.

(Daniela Galdino)



Foto: Milena Palladino


SEM ESPAÇO


Quando eu disse
que a terra era azul
tu me acolheste
sob a asa esquerda
e voamos (juntos) 
para fora de nós.


(Daniela Galdino)




Foto: Milena Palladino


INVERSA

Entraves a céu aberto
e um certo ar que nos falta.
Dentro da asa
de cada pomba
viaja a escuridão,
pulsa a lua apagada
do desenredo
      - réu confesso do desejo:
involução.
(Daniela Galdino)








Daniela Galdino, baiana de Itabuna, é poetisa, professora e pesquisadora de Literatura na Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Mantém o blog “operariadasruinas”. Vive nas fronteiras.

Email:operariadasruinas@gmail.com



 
Milena Palladino, estudante de Jornalismo. Através de uma máquina fotográfica tenta, a toda prova, transformar o comum em poesia. 
Atualmente reside em Itabuna (BA)

Saiba mais em:
Email: milenapalladino@live.com

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