Há dois comerciais novos circulando na TV que eu, pra variar, só vi na internet, por indicação de leitor@s que gostam de me ver sofrer. Este é de um carro novo da Volkswagen. O filho, adolescente, pede ao pai que não o deixe na frente da escola. E o pai res
ponde com uma saraivada de perguntas: “Você saber surfar? Voce sabe tocar guitarra? Você já pegou alguma garota?”. Diante das negativas do filho, o paizão conclui: “Então desculpa, mas se alguém tinha que ter vergonha de alguém aqui era eu, né?”. Tudo bem, entendo o conceito ― filhos adolescentes têm vergonha dos pais. É uma fase. É normal. São adolescentes, pô. É uma idade confusa. Eu lembro quando passei a ter vergonha de andar de mãos dadas com meu pai. Se dependesse dele, ele nunca teria largado minha mão. E isso deve doer nos pais. Eu me arrependo dessa minha atitude. Mas dava pra fazer um comercial levinho e divertido em cima desse rito de passagem, não? Precisa
mesmo ser um pai tão antipático assim, tão bully? E também não fica claro por que o garoto tem vergonha. Não deve ser do pai, um modelo de masculinidade (ele nem sorri!). É do carro então? O Space Cross é uma bela de uma porcaria? (o nome pelo menos é, convenhamos). Ah, então o menino não tem motivo algum pra ter vergonha? Se não tem, por que o pai tem que ser tão grosso?


O machismo do comercial fica explícito na questão de “pegar mulher”. Term
o nojentinho esse. Alguém pergunta pra uma menina se ela já pegou homem? Não, porque os nossos padrões sexuais insistem que isso cabe ao macho. Ele tem que ser o ativo, o predador, o que corre atrás, o que come. Já a mulher é a que dá, a que libera, porque de jeito maneira que ela pode estar interessada. Quando a gente incentiva a figura do “pegador”, estamos, ao mesmo tempo, incentivando o preconceito de que mulher não pode tomar a iniciativa (quem faz isso é vadia), e de que mulher não pode ser "pegada" demais (ou será uma vadia). Muita gente no mundo ainda vê o p
ai como fundamental pra ensinar o filho a ser um pegador, um grosseirão com desconhecidas na rua, um machão. Não há um gene pro machismo ― é um comportamento ensinado (e não só de pai pra filho). O comercial deixa claro que pai deve se envergonhar do filho que nunca pegou uma mulher. O próximo passo é levá-lo pra zona, pra que o garoto possa se livrar dessa terrível chaga social chamada virgindade.
O outro comercial na realidade é uma campanha de três da Hope com a Gisele. Não tenho muito contra a Gisele, até gosto dela em alguns pontos (vou e
screver um postzinho a respeito), mas ela não prima exatamente pelo combate ao machimo nos comerciais que protagoniza, certo? Primeiro aquela campanha detestável da Sky, e agora esta. A mulher já tem uma fortuna pessoal de 150 milhões de dólares. Ela poderia dizer “Não, obrigada, não quero participar de propaganda que difama as mulheres”. Mas não. A campanha da Hope já vem com um slogan pra lá de duvidoso: “Você é brasileira, use seu charme”. “Usar charme” é seduzir o marido para que ele te deixe fazer o que você quer, ou para que ele não te puna pelas coisas que você fez de errado. “Usar charme” é desfilar de lingerie e fazer vozinha infantil. A campanha ainda tem um tom condescendente, “Hope ensina”, em voz masculina.
Porque mulher é tão burra que até pra seduzir precisa ser instruída. Ai, ai. Qual é a marca de lingerie que a gente vai boicotar pela associação com o Bolsonaro? Era a DuLoren? Daqui a pouco teremos tão poucas marcas de lingerie pra usar que nem precisaremos mais queimar sutiã.
No primeiro, Gisele avisa, do jeito “certo” (fazendo pose de lingerie): “Meu amor, sabe quem vem morar com a gente? Mamãe! Não é o máximo?” Bom, pelo menos aqui ela comunica, em vez de implorar. Este é o menos ofensivo dos três comerciais, se bem que ainda cai naquele clichê de que sogra é a inimiga número um dos homens.
O segundo aborda um outro lugar-comum: de que mulher é descontrolada e gasta demais. Gisele anuncia: “Amor, estourei o limite do cartão de crédito. Do seu e do meu”. Gisele é uma mulher multimilionária ― mais do que o limite do cartão, ela teria como gastar os lucros que uma empresa de cartão de crédito tem. Mas, no comercial, ela ainda depende do cartão do marido, na pior alusão à “teúda e manteúda” (alguém lembra de Tieta?).
O terceiro é o mais deplorável. Gisele diz: “Amor, eu preciso te falar uma coisa: bati seu carro... De novo!” Em uma só frase os publicitários passam que mulher não sabe dirigir (vive batendo o carro ― deve ser por isso que paga uma apólice de seguro muito menor em todas as faixas etárias), e que é um serzinho tão dependente
que não pode ter seu próprio carro. Note que ela bateu o carro do marido!
E não vou nem entrar no mérito de como Gisele tem um biotipo tão parecido ao da mulher brasileira. O que me lembra uma capa de revista que a Gisele fez que foi acusada de racista. O pessoal que não viu racismo algum em Gisele posar ao lado de um negro imitando um King Kong disse: “Mas Gisele não é branca! Ela é brasileira!” (prometo falar mais dessa capa). Sabe, por mais que brasileiro realmente não seja considerado branco nos EUA, mesmo sendo muito branco, é ridículo aplicar isso a um padrão nórdico como o da Gisele. Aliás, desde quando não ter ci
ntura é sinônimo de padrão de beleza? Toda vez que eu leio sobre as curvas de Gisele eu me pergunto: “Curvas? Onde?”. Mas isso sou só eu implicando com a pobre Gi. Minha queixa não é com ela, é com as propagandas que aceita fazer (e, se esses são os comerciais que ela faz de bom grado, eu a-do-ra-ria saber quais são os que ela recusa).
E pensar que eu já fui redatora publicitária em outra reencarnação...


O outro comercial na realidade é uma campanha de três da Hope com a Gisele. Não tenho muito contra a Gisele, até gosto dela em alguns pontos (vou e


No primeiro, Gisele avisa, do jeito “certo” (fazendo pose de lingerie): “Meu amor, sabe quem vem morar com a gente? Mamãe! Não é o máximo?” Bom, pelo menos aqui ela comunica, em vez de implorar. Este é o menos ofensivo dos três comerciais, se bem que ainda cai naquele clichê de que sogra é a inimiga número um dos homens.

O segundo aborda um outro lugar-comum: de que mulher é descontrolada e gasta demais. Gisele anuncia: “Amor, estourei o limite do cartão de crédito. Do seu e do meu”. Gisele é uma mulher multimilionária ― mais do que o limite do cartão, ela teria como gastar os lucros que uma empresa de cartão de crédito tem. Mas, no comercial, ela ainda depende do cartão do marido, na pior alusão à “teúda e manteúda” (alguém lembra de Tieta?).
O terceiro é o mais deplorável. Gisele diz: “Amor, eu preciso te falar uma coisa: bati seu carro... De novo!” Em uma só frase os publicitários passam que mulher não sabe dirigir (vive batendo o carro ― deve ser por isso que paga uma apólice de seguro muito menor em todas as faixas etárias), e que é um serzinho tão dependente

E não vou nem entrar no mérito de como Gisele tem um biotipo tão parecido ao da mulher brasileira. O que me lembra uma capa de revista que a Gisele fez que foi acusada de racista. O pessoal que não viu racismo algum em Gisele posar ao lado de um negro imitando um King Kong disse: “Mas Gisele não é branca! Ela é brasileira!” (prometo falar mais dessa capa). Sabe, por mais que brasileiro realmente não seja considerado branco nos EUA, mesmo sendo muito branco, é ridículo aplicar isso a um padrão nórdico como o da Gisele. Aliás, desde quando não ter ci

E pensar que eu já fui redatora publicitária em outra reencarnação...
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