Thursday, September 22, 2011

GUEST POST: EU SEMPRE GOSTEI DE MULHER

A Susanna me enviou este lindo email que eu pedi autorização pra transformar em guest post. Vocês vão ver que o título (que eu que criei) se contradiz logo no começo, mas no final talvez dê pra entender. E espero que concordem comigo que o post é uma delícia de ler.

Diariamente acompanho o seu blog, tenho que minimizar a tela, vejo no trabalho. Que meu chefe não me leia, o que duvido muito que aconteça.
Sei que no “Escreva Lola Escreva” você, com maestria, aborda inúmeros assuntos: amor, sexo e sexualidade, religião, violência, dentre outros.
Eu vim aqui, para deixar meu testemunho a você, e quem sabe caso isso vire um post a seus milhares de seguidores, de como é complicado ser mulher e ser gay/lésbica/sapatão/cola-velcro ou qualquer outro adjetivo que as pessoas sintam-se confortáveis a nomear.
Oitenta por cento de minhas relações amorosas foram com homens. E, de repente, não mais que de repente, conheci a mulher da minha vida. Para mim foi tudo bem, surpresa, mas tudo bem. O “problema” foi social. Minha família é nordestina/machista/sexista/chauvinista e o pior: é do tipo falsa preconceituosa. Finge que aceita, mas no fim não aceita nada; o maior auê por trás. “Ok” com o filho da vizinha, que é descolado, mas com minha filhinha não. Entre amigos, muitos me apoiaram (e lá tinham o que apoiar?), alguns não sabem e muitos pediram para que eu os avisasse quando essa fase passasse. Enfim, não devo exigir que eles reajam da forma que eu gostaria.
E isso é só uma pincelada para que você entenda o que eu quero falar.
Ninguém crê que exista preconceito com relação à mulher. Parece algo surreal. Como? Século XXI? Isso não existe!
E imagina uma mulher homossexual?! Como ela não é tachada? Já escutei de tudo, mas o mais engraçado foi: "Nossa, você é tão bonita, tão feminina, nunca pensei". Parece doença. Do tipo quando o médico fala: “Então, você sofre de uma doença conhecida como ‘lesbianismo crônico’. É contagioso. Avise seus familiares e não esqueça de lavar as mãos, utilizar álcool em gel e tomar cuidado para não proliferar o vírus no metrô". Ou seja, se reprima.
Ter um amigo/conhecido homossexual é cool. Mas ter uma amiga/conhecida lésbica? Fala sério! Logo te definem como problemática, mal-amada, feia, gorda, ou algo assim. Aliás, se é lésbica é porque não atrai/satisfaz os homens. É uma pária. Uma aberração. Não é o estereótipo inventado pela mídia, pelos homens e por esse mundão repressor que só faz com que as mulheres se sintam feias por não serem iguais às capas da Boa Forma.
Isso é só porque as pessoas até nesse aspecto preterem ao sexo masculino. A homossexualidade feminina é totalmente marginal. Submundo.
Então eu comecei a entender o porquê de se andar em guetos, se camuflar, fingir, inventar personagens e namorados que moram no Alasca e nunca estão presentes.
São muitos dedos apontados. É medo de violência. É medo de arriscar. De serem as primeiras a se expor. Um beijo e pronto, você vira o guaxinim do rabo azul-celeste. Todo mundo olhando, querendo tirar foto e postar no youtube. Isso é se você não levar uns safanões, ou então ser excomungado até sua trigésima-oitava geração.
O que é engraçado: um mundo tão moderno, tão aberto, e as pessoas tão limitadas. Numa era em que nem mesmo para procriar precisa-se de ato sexual, por que cargas d’água tanto medo? Medo do novo? Acho que não é, porque que eu saiba Safo é mais antiga que a Bíblia.
Outro dia meu chefe, inconformado com minha sexualidade, me perguntou: "Mas como você gosta de mulher?!"
E eu respondo para ele e para vários: eu gosto de mulher, sim. Sem vergonha. Eu sempre gostei de mim. Do meu sexo, nada a ver com minha opção sexual. Sempre gostei da fragilidade e ao mesmo tempo da força, da coragem, da feminilidade, da pureza, dos sorrisos. Mulheres são guerreiras que num mundo opressor ainda assim conseguem conviver, harmonizar, e a cada insulto erguem a cabeça e dão a volta por cima.
Nós só temos que nos dar conta disso. Ser feminista é se amar. Ser feminista é não cair no conto da carochinha “Toda mulher é invejosa, toda mulher quer tomar seu namorado...”.
Gostem das Anas, Joanas, Marinas, Paulas, Teresas, Lolas, Penhas, Ritas... De todas elas que buscam um lugar ao sol. Vamos nos unir para que um dia possamos olhar para trás e aí sim acharmos um absurdo quando alguém falar em opressão qualquer que seja.
Ah, e a mulher?! Ela é uma delícia!
Obrigada por me inspirar todos os dias. Me fazer um pouco mais consciente e definitivamente melhor.

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