

A segunda coisa é uma passagem do fantástico livro da Naomi Wolf, O Mito da Beleza (tem grátis em português aqui, gente! Mulheres e homens, leiam!). Ela diz que vivemos numa sociedade muito perversa se somos convencidas que partes perfeitamente saudáveis dos nossos corpos precisam ser removidas, cortadas, costuradas. Corremos risco de vida (porque toda cirurgia envolve risco) em nome da vaidade. A vaidade passa a ser mais importante que a própria vida.
Uma leitora querida, a Sandra, me enviou um email em que fala de tudo iss

Mais uma vez um post seu me comove. Eu finalmente consegui entender minha própria linha de raciocínio através do que você escreve, porque você o faz com uma clareza

Seu post sobre cirurgia vaginal mexeu comigo de uma maneira particular. Eu tenho 37 anos, sou divorciada e tenho um filhinho de quatro anos. Quando ele nasceu, eu já estava separada do meu então marido fazia cinco meses e o processo todo foi muito triste, porque tive que enfrentar, ainda durante a gravidez, a realidade de que teria que cuidar sozinha do meu bebê. Agora ele está crescidinho e eu consegui conciliar, muito bem, aliás, a maternidade e o mestrado, que concluirei este ano. Admito que me sinto orgulhosa!
Depois dessa digressão, volto ao assunto do post: fiquei tocada e ele me fez pensar sobre mim mesma. Explico: dois anos e meio depois que meu filho nasceu, tomei uma atitude drástica que jamais imaginei ser capaz de tomar: fiz uma cirurgia plástica. Na verdade, uma não, mas três ― fiz lipoaspiração nos “flancos” e nas costas, diminuí e levantei os seios, e fiz um procedimento

Esses três procedimentos juntos levam no mínimo seis horas de cirurgia e por isso é necessário anestesia peridural, com sedação. Nós frequentemente ouvimos notícias escabrosas sobre mulheres que morrem ou ficam vegetando depois de uma “simples” lipo! Então no dia em fui ser operada, fiquei com tanto medo de morrer e deixar meu filhinho sozinho, que minha pressão subiu até a estratosfera e a operação teve que ser adiada. Depois de meses de dolorosa recuperação ― dolorosa não, excruciante ― fiquei magérrima e minha forma corporal passou a se encaixar no padrão de mulher perfeita. Cintura fininha, barriga que fica incrível em qualquer blusa, calça que fecha sem apertar, camiseta tamanho “P”. Tudo lindo, né?

Não, não ficou não! Na verdade, as cicatrizes ficaram IMENSAS, porque eu tinha muita pele excedente na barriga e muito peito “pra tirar”, então o médico teve que cortar muito. E minha cicatrização, que sempre foi muito boa, nesse caso foi péssima: as cicatrizes não apenas se alargaram, ficando enormes no sentido vertical, como ficaram muito escuras. Ou seja, vestida fica tudo maravilhoso, mas se eu precisar tirar a roupa, ou fazer algo trivial, como ir à praia, eu não terei coragem. No único relacionamento que tive depois da plástica, fiquei semanas transando de luz quase apagada e sem tirar o sutiã, com vergonha das cicatrizes.
Enfim, contei tudo isso para no fim te contar o que me fez entrar nessa roubada da cirurgia plástica: não me sentir vista! Não penso que eu tinha um problema de baixa autoestima, mas uma sensação que beirava a não-existência, porque fosse saindo com amig@s, fosse no ambiente da univer

Talvez tenha sido um problema de autoestima, mas causado por essa “não-visibilidade” e no fim, como você diz no seu post, meu problema era não me sentir dentro de uma norma, não imposta somente a mim, mas a todas as mulheres. Quando eu engordei e quando meus seios ficaram flácidos depois de amamentar por dois anos, foi como se eu já soube

O que eu queria te dizer é que a norma nos atinge diariamente, como você sempre nos diz no blog, especialmente nas coisas triviais, no dia a dia, naquilo que quase não percebemos, como gastar tempo precioso com maquiagem ou com manicure. Mas para mim, que sempre me considerei “esperta”, que achava que não me deixaria ser pega pelo sistema, leitora de Susan Faludi, eu fui fraca, e cedi a essa norma. Mesmo que isso implicasse em colocar minha vida e o futuro do meu f

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