Wednesday, September 21, 2011

GUEST POST: O RACISMO DE TODOS OS DIAS - COMO SABER?

A Capitã Amélica, que tem um blog, deixou um comentário poderoso no post sobre as declarações ultraracistas contra a Miss Universo e as negras em geral. Sabem, aquele que deixou tant@s de nós passando fisicamente mal. A resposta da Amélica nem é uma resposta. É ao mesmo tempo uma constatação sofrida e um tapa na cara do preconceito.

Esse tipo de coisa só não me choca apenas porque já vi e vejo isso.
Sabem, o que me assusta mais do que o que esses idiotas dizem em fóruns e blogs, é pensar que eu trabalho com eles, estudo com eles. Pego ônibus, esbarro no metrô. Compro deles, recebo atendimento médico! Aprendo, faço parte do grupo de amigos. Toco neles por um motivo ou outro. E nesse momento casual eles estão sentindo NOJO de mim.
Ou dó. Eles podem também sentir dó. Por presumirem uma condição a partir de um preconceito, podem interpretar incorretamente um sinal e sentirem dó, dó de mim que não tenho dó deles e lhes cagaria na cara, um a um.
Ou seja, enquanto penso que estou me relacionando de forma saudável com as pessoas, algumas dessas estão me avaliando, cada qual com um nível de racismo aplicado. Fazendo considerações sobre a minha beleza, que aparentemente não pode coexistir com a opinião delas nem com a consciência coletiva.
A mocinha do caixa do restaurante de repente não quer que minha mão toque na dela. Ou o médico já pensando que sou pobre e fodida, algo inerente a minha cor obviamente, me atende mais displicentemente.
Difícil saber com quem se está lidando. Saber qual rejeição é por sua chatice real e qual é por causa da sua pele. Quando não te acham bonita, ou quando não te acham bonita porque você é negra. Como saber?
Já imagino acéfalos refutando e dizendo isso é coisa da minha cabeça. Claro que é. Só que não fui eu que pus porque quis. O mundo não é como eu quero.
Acho normal que as pessoas se avaliem previamente, é natural, é instinto. Mas é foda saber que sua avaliação já sai prejudicada sem mal começar.
Acredito sinceramente que um dos gatilhos para a postura relativamente agressiva que adotei na minha vida é resultado desse receio. Porque já ouvi coisas feias. Hoje as pessoas não dizem mais como diziam (crescemos!). Esperam você virar as costas... só um pouco.
Mas isso me leva à infância. Esses comentários que ressaltam características genéticas étnicas como motivo de descarte imediato são feitos por pessoas com quem convivemos, as piores na minha opinião, aquelas que sentem caladas um desprezo secreto por você. E essas pessoas são os mesmos moleques da infância que diziam na tua fuça macaca. Os mesmos filhosdasputinhas que falavam de cabelo bombril, cabelo pichaim, duro. Que diziam a palavra preta com água na boca, babando, com intenção de ofensa.
Não, essas crianças malditas não foram dizimadas. Elas cresceram. Algumas livraram-se, acredito que até certo ponto, dessa visão equivocada, mas a maioria, ah, a maioria, a maioria... vocês sabem.
Perdoem o exagero, me empolguei, há tempos queria falar sobre isso... Costumo apenas ler... Aí, quando vou falar, dá nisso.

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