

Um dos detalhes que mais gostei nos EUA é que, em qualquer restaurante que você vá, o primeiro item que te servem, totalmente grátis, é uma jarra d'água de torneir
a, geralmente com gelo. Portanto, quando eu saía pra comer, nunca gastava um tostão com bebida. Não sei por que não fazem isso no Brasil. Nossa água é bastante boa, apesar do que prega nossa mentalidade classe média consumista (que jura que quase nada que é público é bom). Eu bebo água de torneira direto (em casa eu fervo água), e nunca passei mal. O único lugar no mundo em que não pude beber água de torneira foi em Moscou, porque o líquido que saía era branco e parecia mais leite. Eu provei, e o gosto não era bom. Tive que recorrer a garrafinhas d'água. E adivinha qual era a marca? Uma multinacional de refrigerantes!
Não sei se você viu um
a excelente série chamada A História das Coisas. É fácil de encontrar no YouTube, e tem sido passada com frequência nas escolas. A direita não gosta nem um pouco, porque os vídeos tratam de consciência ecológica e mostram como o capitalismo desenfreado é nocivo. Um dos vídeos chama-se A História da Água Engarrafada, e é interessantíssimo. É assim: nos anos 70, as companhias de refrigerante perceberam que suas vendas não cresciam. Havia um limite, porque os consumidores notaram que tomar refri não era a coisa mais saudável do mundo. O povo americano (o mais consumista do planeta)
bebia água de torneira. Pô, beber água de torneira é praticamente de graça. Como pode um capitalista sobreviver dessa forma?! A saída dessas empresas foi lançar água em garrafinhas. Mas não funcionou, porque o público achou ridículo pagar por algo que tinha de graça. Logo, o primeiro ato das empresas foi vender a ideia que a água de torneira, essa mesma que os americanos consumiam há séculos, era de péssima qualidade, e reforçar tanto esse conceito que as pessoas associariam água de torneira apenas a tomar banho e lavar a louça. A segunda etapa foi a de sedução. Não adiantava apenas mostrar que a água de torneira era asquerosa. Era preciso inventar que a água vendida
em garrafinhas vinha de fontes cristalinas (apesar das duas maiores empresas de água engarrafada nos EUA pegarem sua água... da torneira).
O capitalismo mais uma vez triunfou: criou uma demanda e fez com que os americanos comprassem mais de meio bilhão de garrafas d'água por semana, pagando duas mil vezes mais pelo mesmo produto que sai da sua torneira. E é claro que a maior parte dos consumidores, ao comprar uma garrafinha, vê no rótulo uma imagem paradisíaca de cachoeiras, e não todo o processo industrial feito pra engarrafar essa água. Os custos ambientais são gigant
escos. Usa-se petróleo para fazer as garrafas, e também para enviá-las a vários cantos do mundo. E depois tem o problemão do que fazer com as garrafinhas. Menos de 20% são recicladas. A enorme maioria é mandada pra virar lixo em algum país em desenvolvimento, como a Índia ou... ói nóis aquitravez!
É verdade que em vários lugares a água de torneira é poluída, devido a empresas (incluindo aí as que vendem água engarrafada) que jogam seus resíduos tóxicos nos rios. Mas, em geral, a água é potável, o que por si só já é um privilégio e tanto, pois vivemos num mundo em que mais de um bilhão de pessoas não têm acesso à água (e ninguém morre sem chocolate, mas morre-se sem nosso líquido mais precioso, que ― surpresa! ― não é o petróleo).
Ao ver o víd
eo, eu me lembrei daquele filme, Idiocracia, em que refrigerante é usado pra tudo, de irrigar as plantas (que morrem) à única bebida possível. Será que estamos caminhando pra essa mentalidade do “Ó! Não beba esse veneno chamado água de torneira!”?
Não se depender de mim. Assim como, num escritório responsável, substituem-se copos descartáveis por um copo fixo ou uma xícara pra cada funcionário, não custa nada se organizar e sair de casa com uma garrafinha d'água (com água fervida dentro, já gelada). É o que faço faz décadas. Nunca saio de casa sem água e um livro.
Quando cheguei em Fortaleza, no ano passado, imediatamente notei dois pontinhos.
Primeiro, por causa do calor constante (a mesma temperatura o ano todo), o pessoal bebe muito mais água que em SC. Segundo, é raro alguém beber água de torneira. Foi colocado na cabeça de todos que a água não é boa. Os mais tolerantes ainda dizem que a água é potável, só não tem gosto bom. Eu demorei um tiquinho pra descobrir isso e, até lá, já tinha tomado litros e mais litros de água de torneira. E eu sei que é fantástico, mas sobrevivi. Aliás, sequer passei mal. Aqui a maior parte das casas têm um garrafão de 20 litros de água em cima de uma maquininha que a gela. Quando me falaram que eu não deveria tomar água de torneira, até pensei em comprar uma. Mas a máquina é cara, cerca de 450 reais. E um garrafão de 20 litros, que teria de ser trocado a cada três ou quatro dias aqui em casa, custa entre 3 e 6 reais, dependendo do bairro (lógico que no meu bairro o p
reço é 6). Não. Prefiro continuar fervendo água, numa boa.
E já provei uma pá de vezes água engarrafada de várias marcas, e posso dizer que algumas têm gosto ruim pacas e muitas impurezas. A gente tem mesmo que copiar o modelo americano de criar um desejo incontrolável por algo que não precisa? Quer dizer, todo mundo precisa de água. Mas ninguém precisa de água engarrafada, algo tão natural quanto a tinta que uso pra tingir meus fios brancos a cada seis meses.

Não sei se você viu um



O capitalismo mais uma vez triunfou: criou uma demanda e fez com que os americanos comprassem mais de meio bilhão de garrafas d'água por semana, pagando duas mil vezes mais pelo mesmo produto que sai da sua torneira. E é claro que a maior parte dos consumidores, ao comprar uma garrafinha, vê no rótulo uma imagem paradisíaca de cachoeiras, e não todo o processo industrial feito pra engarrafar essa água. Os custos ambientais são gigant

É verdade que em vários lugares a água de torneira é poluída, devido a empresas (incluindo aí as que vendem água engarrafada) que jogam seus resíduos tóxicos nos rios. Mas, em geral, a água é potável, o que por si só já é um privilégio e tanto, pois vivemos num mundo em que mais de um bilhão de pessoas não têm acesso à água (e ninguém morre sem chocolate, mas morre-se sem nosso líquido mais precioso, que ― surpresa! ― não é o petróleo).
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Não se depender de mim. Assim como, num escritório responsável, substituem-se copos descartáveis por um copo fixo ou uma xícara pra cada funcionário, não custa nada se organizar e sair de casa com uma garrafinha d'água (com água fervida dentro, já gelada). É o que faço faz décadas. Nunca saio de casa sem água e um livro.
Quando cheguei em Fortaleza, no ano passado, imediatamente notei dois pontinhos.
E já provei uma pá de vezes água engarrafada de várias marcas, e posso dizer que algumas têm gosto ruim pacas e muitas impurezas. A gente tem mesmo que copiar o modelo americano de criar um desejo incontrolável por algo que não precisa? Quer dizer, todo mundo precisa de água. Mas ninguém precisa de água engarrafada, algo tão natural quanto a tinta que uso pra tingir meus fios brancos a cada seis meses.
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