Tuesday, April 5, 2011

NOS ANOS 70 SUPERHERÓIS JÁ DERROTAVAM O FEMINISMO

Super usa arma fálica para destruir o monstro do feminismo

Uma leitora fez uma grande sacanagem comigo no Twitter: me recomendou um post do Cracked. Pra quê? Euzinha aqui, doente e sem tempo, fiquei horas lá, me divertindo pacas. Eu já conhecia o site, até tinha feito um post baseado num texto deles, mas evito entrar lá porque é viciante. E muito engraçado.
Bom, o post em questão é sobre as barbaridades que algumas histórias de superheróis cometeram quando tentaram abordar assuntos mais sérios do que homens de collant salvando o mundo (ou pelo menos a parte do mundo que importa) de insetos gigantes radiativos.
Aproveitando, porque é a única vez que vou falar nisso, estão dizendo que a Mulher Maravilha ganhará uma nova série na TV e que seu uniforme agora incluirá uma calça, ao invés do maiô azul com estrelinhas brancas (tem 50 estrelinhas lá, como tem na bandeira americana, uma pra cada estado?). O que me incomoda nem é o maiô e nem os saltos altos que, aparentemente, são pré-requisito pra qualquer superheroína ou supervilã (e dane-se que, na vida real, correr e se equilibrar num salto alto seja tarefa hercúlea), mas o modelito tomara-que-caia. Eu nunca usei tomara-que-caia porque meus peitos gigantes, maiores que os insetos radiativos do parágrafo acima, não permitem tal extravagância. Mas devo dizer que toda santa vez que vejo uma amiga usando roupas assim ela precisa ficar ajustando e subindo o troço o tempo todo, porque, como o nome diz, ele tem uma tendência grande a cair. Quer dizer, tente usar um tomara-que-caia e levantar os braços pre pegar uma caneta numa estante mais alta, por exemplo. É complicado. Imagina a Mulher Maravilha erguendo os braços pra levantar um carro? Numa sociedade moralista que fez aquele mega escândalo quando um dos mamilos da Janet Jackson apareceu em rede nacional durante um Super Bowl, o que aconteceria se, no meio de uma dessas brigas, o bustiê inteiro da Mulher Mara fosse parar na cintura?
Ok, já desabafei. Agora voltando ao Cracked. Então, o site escolheu algumas histórias em quadrinhos que falavam de temas mais reais como homossexualidade, feminismo, drogas, imigração ilegal, e de como, apesar das boas intenções dos autores (será?), essas histórias falharam absurdamente e só reforçaram preconceitos. Tipo: Mickey, que não é estritamente um superherói, em 1931 descobre um gato afeminado. E o que ele faz e ensina as criancinhas leitoras a fazer? Ele dá uma de Bolsonaro! Mas Mickey era criação do tio Walt, que era conservador até a medula. E era a década de 30, bem no meio da Depressão. Quatro décadas mais tarde, no clímax das lutas das minorias, seria diferente, certo? Uh-huh. Pois é, o que me chamou a atenção foi uma história de uma série (que nunca ouvi falar, mas supers não são a minha praia) de filhos de superheróis. Superman Jr e Batman Jr vão parar numa cidadezinha dominada por mulheres, em que os homens são jogados na cadeia por qualquer motivo fútil como... importunar uma mulher na rua, ó absurdo! (encontrei mais quadrinhos da revista neste post mais antigo). Superman Jr diz à prefeita que lhe explica o funcionamento da cidade: “Coisas realmente do Movimento Feminista! Mas, baby, sem homens, como vocês farão para ter amantes, maridos, famílias?” E a prefeita responde: “A Grande Irmã Sybil nos prometeu que quando os homens mudarem suas atitudes dominadoras nós permitiremos que eles nos toquem de novo”.
Ha ha, adoro! Até quando o super fala com uma feminista ele usa uma palavra condescendente como baby! Pra quem não sabe, infantilizar as mulheres é uma velha estratégia machista. Chamar mulheres de meninas e garotas pode ser visto como uma tentativa de diminuí-las, até porque pense em quantas vezes homens chamam homens de meninos e garotos. Sem falar que é mais bacana tratar uma mulher que conhecemos pelo nome, não por fofura, amorzinho, flor, be, boneca, e sei lá mais o quê (fica parecendo que o cara não lembra o nome da mulher, que mulher é tudo igual mesmo: tem vagina, é o que conta!). Outro parênteses: lembro quando o Obama, durante sua campanha eleitoral, sem querer se referiu a uma mulher como baby, e teve que se retratar, porque hoje em dia não é mais socialmente aceito em alguns círculos americanos se dirigir a uma adulta como baby, a menos que seja um apelido carinhoso do casal, o que não era o caso. Imagina alguém usando um “Mas, boneca, eu já te disse que...” numa conversa com a Dilma. Outra coisa que adoro nesse quadrinho é a prefeita dizendo que algum dia as mulheres permitirão que os homens as toquem de novo (no quadrinho acima, outra personagem ameaça os supers e diz: "Ninguém toca em mim ou no meu trabalho!"). Greve de sexo total! E claro que mulher não toca em homem por livre e espontânea vontade... ela só permite ser tocada! Ai ai, esses seres femininos que odeiam sexo!
Mais pra frente, nossos intrépidos superheróis jovens encontram uma mulher morta. “Isso é muito triste”, diz uma moça de verde, observando o cadáver da colega, “Mas não tem jeito. A irmã Jane sabia que fazendo trabalho de homem ela corria os mesmos riscos”. Trabalho de homem, no caso, é consertar o telhado. É isso que acontece quando nós, mulheres, tentamos fazer trabalho de homem: morte certa! No final, descobre-se que a Grande Irmã Sybil é uma hedionda ET gigante que quer que todas as mulheres do universo sejam solitárias como ela. Além da dupla dinâmica derrotar a monstra e o feminismo por tabela, há um efeito colateral: para se proteger dos raios espaciais alienígenas, o antídoto é as mulheres terem homens por perto. Os últimos quadrinhos são esses aí, com uma moça dizendo: “Sara e Diana mortas... E a Grande Irmã Sybil era uma criatura alienígena horrorosa que nos fez cometer todas essas atrocidades. É incrível! Terrível!”. Batman Jr então fala: “Mas a pior parte... O único antídoto pra parar a mudança... é este! Entrem na fila, meninas!”, diz o rapaz, agarrando e beijando na boca a única mulher que falava, enquanto todas riem e Supeman Jr dá uma de Robin pra proferir palavras sábias como “O brother!” (algo como “Pô, cara!”). The End.
Como explica a legenda do Cracked: “Feminismo é a morte. Agora venham receber seu assédio sexual”.
O que me choca é que esse tipo de material foi feito nos anos 70, durante o auge do feminismo. É, pelo jeito, tinha muita gente incomodada com as reivindicações e conquistas femininas...
Não entendo quase nada do assunto de supers, mas a impresão que tenho é que é um universo conservador, elitista, individualista, em que quase todos os heróis vestem vermelho e azul pra nos lembrar quem tem o poder no mundo. E vai por mim: não são os machistinhas brasileiros.

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