Na terça, fiquei sabendo pelos Trending Topics do Twitter (sabia que eles serviam pra alguma coisa) que o mundo vai acabar hoje. Minha primeira preocupação, lógico, foi mandar um recado pr@s minhas querid@s seguidor@s perguntando se a data estava confirmada mesmo, porque, se fosse verdade, eu tinha uma lista enorme de coisas pra não fazer até lá. É por isso que eu
adoro filmes de zumbis, epidemias, e julgamento final – porque minha procrastinação habitual ganha justificativa. É aquele negócio: se o mundo acabar, eu precisarei entregar aquele artigo acadêmico que venho evitando escrever há dias? Uma leitora atenciosa respondeu que a data pro fim do mundo neste dia 21 de outubro está 100% certa, de acordo com o cara que falhou em 21 de maio.
Pois é, um senhor bem velhinho, pastor de igreja evangélica (adivinha onde?) nos EUA (dãã: only in USA), vem tentando acertar sua previsão desde 1994. Em maio deste ano
ele conseguiu muita publicidade, principalmente graças à ideia do rapture (arrebatamento), que, vamos admitir, é fascinante. A previsão é que entre 2% e 3% da população mundial será erguida pro céu, e o resto de vocês ficará aqui sofrendo com o julgamento final. O quê?! Você estranhou o “resto de vocês” na outra frase? Ah, qualé! Alguma dúvida que eu vou direto pro paraíso, sem escalas? Ué, só porque eu sou ateia eu não iria? Maior discriminação! Não, sério, por eu ter que aguentar alguns dos piores trolls da internet, acho que minha vaguinha já está mais que garantida. Sorry, periferia.
Em maio vários seguidores do velhinho (seguidores mesmo, não seguidores de Twitter, esses que te
abandonam por motivos fúteis) tiveram certeza que o fim aconteceria e se livraram de seus bens. Um senhor gastou 140 mil para anunciar o fim do mundo. Taí uma coisa que não entendo: anunciar pra quê? Faz diferença?
Como pudemos perceber, não foi daquela vez que o mundo puff, cabou. Isso obviamente deixou muita gente chateada, como aqueles que limparam as economias guardadas pra faculdade dos filhos pra realizarem últimos desejos. Claro que teve gente que ficou feliz, como as empresas de babá de animais, que lucraram os tubos prometendo cuidar dos bichinhos de estimação do pessoal que seria erguido pro céu -– parece que nos portões do paraíso há uma grande placa de “Proibida a entrada de cães e gatos”. Minha parte favorita da reportagem é esta: “Segundo o jornal The Washington Post, centrais de atendimento a suicidas estão de sobreaviso para o caso de f
iéis caírem em depressão após a falha na previsão.” Ô pessoal teimoso, viu? O mundo não acaba mas eles querem se acabar de qualquer jeito, na marra! (E perceba a sutil sacanagem do verbo cair depois que o pessoal tava esperando subir pra se encontrar com o criador).
Se errar a previsão do fim do mundo duas vezes pode ser um mico, ela também tem seu lado bom: se você ler as duas matérias, verá que o pastor que anunciou o the end perdeu quase dez anos de idade de maio pra outubro. Em maio ele tinha 89 anos, e agora tem apenas 80. Descobrimos a fonte da juventude! Deixa eu ver... Eu também gostaria de rejuvenescer uns dez anos, então acho que vou marcar o fim do mundo pra novembro, o que vcs acham? Ruim? Ah é, novembro já te
m vários feriados. Não quero que coincida com as férias, portanto, vou fixar pra depois do carnaval, ok? Estejam avisad@s.
Tive uma discussão não muito esclarecedora com o maridão sobre o que faríamos se tivéssemos certeza que o mundo acabaria em dois ou três dias. O maridão não tem muita certeza do que ele faria, mas tem certeza do que eu faria: segundo ele, passaria o tempo todo comendo chocolate. Eu disse que não é bem assim, porque eu poderia passar mal, e é coisa de fracassado morrer antes do fim do mundo. Houve a insinuação que faríamos muito sexo, mas não ficou claro se, após 21 anos de casados, seria um com o outro. Acho que, viciada em internet como sou, eu blogaria até o último segundo antes do
meu glorioso rapture, que, apesar do meu peso, seria um sucesso, porque deus é pai. Meu tweet final seria “Adeus, pessoas! Divirtam-se com o apocalipse enquanto eu curto o Groelândia Fashion Week!” (essa é do Laerte; ele que cunhou que todas as pessoas que vão pro céu vestem bata branca).
Muito antes de saber da existência do arrebatamento (percebam as sílabas bata dentro do arrebatamento -– tudo faz sentido), eu já fantasiava com o fim do mundo. Lembro quando, em Joinville, os Adventistas do Sétimo Dia passavam direto na minha casa pra me converter. Infelizmente eles não passavam direto pela minha casa, mas na minha casa, se é que você me entende. Depois de alguns anos eu não aguentava mais, mas no começo considerei aquela uma experiência antropológica interessante (já que em SP eu morava em prédio e não tinha esses encontros furtivos com religiosos). Nunca vou me esquecer de uma adventista que, na hora de falar comigo, não conseguia tirar os olhos do meu gato Fru,
que, crente que estava agradando, dava cambalhotas pra se exibir pra ela. Eu perguntava: “Sim? No que posso ajudá-la?” E ela: “Hã?”. A mulher ficou totalmente arrebatada pela beleza felina, e disparou um “As coisas lindas que Deus faz!”. Adorei a frase dela!
Teve uma outra vez que tentei dialogar com a pessoa que queria me converter e me convencer que o fim estava próximo.
Eu: “Tem prazo de carência, sabe, que nem plano de saúde?”
Ele: “Como assim?”
Eu: “Eu preciso ser da religião escolhida durante quanto tempo antes do julgamento final pra ir pro céu?”
Ele: “Hum... Não tem um prazo certo. Pode se converter quando quiser, desde que seja de coração”.
Eu: “Bom, sendo assim, será que você poderia passar aqui na véspera do fim do mundo, por favor?”
Estou certa que, se eu ainda morasse em Joinville, o rapaz teria batido na minha porta ontem. E me encontraria ou comendo muito chocolate ou fazendo muito sexo. Ou os dois. Só deus sabe onde estaria o maridão.
P.S.: Na hipótese muito improvável que o mundo não acabe hoje, estarei numa mesa redonda às 14 horas na UFC, campus Pici, bloco da Prograd, para falar sobre assédio e discriminação contra os religiosos na porta de casa, digo, contra alunas em sala de aula. Apareça lá antes que seja tarde demais.

Pois é, um senhor bem velhinho, pastor de igreja evangélica (adivinha onde?) nos EUA (dãã: only in USA), vem tentando acertar sua previsão desde 1994. Em maio deste ano

Em maio vários seguidores do velhinho (seguidores mesmo, não seguidores de Twitter, esses que te

Como pudemos perceber, não foi daquela vez que o mundo puff, cabou. Isso obviamente deixou muita gente chateada, como aqueles que limparam as economias guardadas pra faculdade dos filhos pra realizarem últimos desejos. Claro que teve gente que ficou feliz, como as empresas de babá de animais, que lucraram os tubos prometendo cuidar dos bichinhos de estimação do pessoal que seria erguido pro céu -– parece que nos portões do paraíso há uma grande placa de “Proibida a entrada de cães e gatos”. Minha parte favorita da reportagem é esta: “Segundo o jornal The Washington Post, centrais de atendimento a suicidas estão de sobreaviso para o caso de f

Se errar a previsão do fim do mundo duas vezes pode ser um mico, ela também tem seu lado bom: se você ler as duas matérias, verá que o pastor que anunciou o the end perdeu quase dez anos de idade de maio pra outubro. Em maio ele tinha 89 anos, e agora tem apenas 80. Descobrimos a fonte da juventude! Deixa eu ver... Eu também gostaria de rejuvenescer uns dez anos, então acho que vou marcar o fim do mundo pra novembro, o que vcs acham? Ruim? Ah é, novembro já te
Tive uma discussão não muito esclarecedora com o maridão sobre o que faríamos se tivéssemos certeza que o mundo acabaria em dois ou três dias. O maridão não tem muita certeza do que ele faria, mas tem certeza do que eu faria: segundo ele, passaria o tempo todo comendo chocolate. Eu disse que não é bem assim, porque eu poderia passar mal, e é coisa de fracassado morrer antes do fim do mundo. Houve a insinuação que faríamos muito sexo, mas não ficou claro se, após 21 anos de casados, seria um com o outro. Acho que, viciada em internet como sou, eu blogaria até o último segundo antes do

Muito antes de saber da existência do arrebatamento (percebam as sílabas bata dentro do arrebatamento -– tudo faz sentido), eu já fantasiava com o fim do mundo. Lembro quando, em Joinville, os Adventistas do Sétimo Dia passavam direto na minha casa pra me converter. Infelizmente eles não passavam direto pela minha casa, mas na minha casa, se é que você me entende. Depois de alguns anos eu não aguentava mais, mas no começo considerei aquela uma experiência antropológica interessante (já que em SP eu morava em prédio e não tinha esses encontros furtivos com religiosos). Nunca vou me esquecer de uma adventista que, na hora de falar comigo, não conseguia tirar os olhos do meu gato Fru,

Teve uma outra vez que tentei dialogar com a pessoa que queria me converter e me convencer que o fim estava próximo.
Eu: “Tem prazo de carência, sabe, que nem plano de saúde?”
Ele: “Como assim?”
Eu: “Eu preciso ser da religião escolhida durante quanto tempo antes do julgamento final pra ir pro céu?”
Ele: “Hum... Não tem um prazo certo. Pode se converter quando quiser, desde que seja de coração”.

Eu: “Bom, sendo assim, será que você poderia passar aqui na véspera do fim do mundo, por favor?”
Estou certa que, se eu ainda morasse em Joinville, o rapaz teria batido na minha porta ontem. E me encontraria ou comendo muito chocolate ou fazendo muito sexo. Ou os dois. Só deus sabe onde estaria o maridão.
P.S.: Na hipótese muito improvável que o mundo não acabe hoje, estarei numa mesa redonda às 14 horas na UFC, campus Pici, bloco da Prograd, para falar sobre assédio e discriminação contra os religiosos na porta de casa, digo, contra alunas em sala de aula. Apareça lá antes que seja tarde demais.
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