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PSICOPATIA SANCIONADA PELA SOCIEDADE
Que brasileiro é um péssimo motorista todo mundo sabe. O que não se sabe é porque não temos vastas campanhas para tentar mudar este quadro. No Brasil, há 6300 atropelamentos com morte por ano, de acordo com o Denatran. Como o órgão contabiliza apenas mortos no
local, o número sobe para 8520 segundo o Ministério da Saúde, que calcula os atropelados que sobrevivem até chegar ao hospital. Ou seja, matamos mais que o dobro de pedestres que matam os americanos. E aqui reina a total impunidade. Eu sempre ouvi falar que, se a gente quiser matar alguém sem correr o risco de ter que passar um só dia na cadeia, o ideal é atropelar a pessoa. Outro dia vi uma curta reportagem sobre a impunidade no trânsito brasileiro. Uma repórter entra num barzinho à noite para entrevistar clientes que estão bebendo e vão dirigir daqui a pouco. Ela encontra um jovem
que bebe e diz, risonho, que sente-se muito seguro hoje em dia, porque seu carro tem freios ABS e airbag. “Mas e se você atropelar alguém que não tenha ABS ou airbag?”, quer saber a repórter. “Ah, aí a gente paga a fiança e sai”, responde o rapaz. É isso que a cultura do automóvel promove: a sensação de um universo particular em que só o motorista importa. Atropelou e matou alguém, paciência. Quem mandou cruzar o meu caminho?Claro que existem pedestres imprudentes que surgem do nada, e claro que acidentes acontecem. Mas o modo como dirigimos certamente ajuda a causar esses acidentes. E quem leva a pior é
sempre o pedestre. Infelizmente, uma decisão recente do STF abriu jurisprudência para que todos os casos de acidente de trânsito por embriaguez sejam vistos como "culpa consciente". Um atropelamento causado por um motorista bêbado só será considerado "dolo eventual" quando o motorista beber antes com o propósito de atropelar alguém. Ou seja, o rapaz que diz que, em caso de atropelar alguém, só precisa pagar a fiança pra ser liberado, tem cada dia mais motivos pra sorrir.
Assine a petição "Não Foi Acidente", que exige que pessoas que
bebem, dirigem e cometem crimes não fiquem impunes. Eu já assinei. Mas não é só isso. A gente precisa reaprender a dirigir. Precisa repensar o lugar e a hierarquia do carro nas nossas cidades, e nas nossas vidas.
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