

Na terça-feira, o Sciences Po, Instituto de Estudos Políticos de Paris, entregou a Lula o título de doutor honoris causa. Não é a primeira nem a última homenagem que Lula recebe, mas nossa elite só falta pegar em armas a cada novo agrado. O que mais repercutiu pelo mundo foi a hostilidade que a imprensa brasileira presente na França dedicou ao diretor do Instituto por ter ousado conceder um título tão importante (foi apenas o 16o em 140 anos, e o primeiro entregue a um latino-americano) a um ex-presid
ente corrupto, sem diploma universitário, praticamente analfabeto, e sem um dedo. Por que Lula e não FHC, bradou em coro a imprensa brazuca ― que não, não representa os interesses da elite no país. É só impressão. Complexo de viralata, a gente se vê por aqui. Você consegue imaginar a mídia de algum outro país se queixando que o homenageado não merecia tal graça, mas seu antecessor, sim? Acho que não. Esta entra pra série “Só no Brasil”.
Bom, Lia esteve na homenagem e conta tudo.
Antes mesmo de sair de casa, falei super animada pro meu namorado alemão, pelo skype, porque ele está no
Rio, que iria ver o Lula numa conferência na Sciences Po, e ele respondeu: Preferiria ver o Fernando Henrique Cardoso. Eu pensei que ele estava brincando e soltei: que cerdo capitalista! [cerdo é porco em espanhol]. E aí ele me veio com mil argumentos que uma conferência de FHC seria muito melhor que a de Lula e blablabla, que FHC é doutor, seria de muito mais aproveitamento acadêmico, que o Lula só teve a sorte de ter pegado o bonde andando, que as primeiras reformas e ajustes econômicos foram feitos pelo FHC, que o bolsa família foi criado por ele, etc etc. E inclusive falou dos episódios de corrupção e de como foram tolerados pelo Lula. Nossa, tive que resumir 25 anos de história numa
discussão de 40 minutos. Isso você já sabe, mas o alemão não sabia que corrupção sempre existiu, que isso não ia mudar da noite pro dia no governo do Lula, que a corrupção foi mais denunciada durante seus dois mandatos porque a imprensa está na mão de quem faz oposição, que a Globo conspirou para que Lula fosse derrotado em 89, que essa mesma Globo estava com medo (vide Regina Duarte) do Lula em 2002, que historicamente a elite tem o controle dos meios de comunicação.
Era tanto argumento desfavorável ao Lula que eu apelei para o que mais me toca no seu governo. Lula começou uma revolução social, no sentido de diminuir as desigualdades sociais e econômicas entre as regiões do país, levando investimentos e projetos ao Norte-Nordeste, que antes só ficavam n
o eixo Sul-Suldeste. Os benefícios dessa descentralização já se podem ver na economia brasileira, porque a classe C é a que mais consome, e é essa classe que está sustentando o desenvolvimento do país, além de outras consequências como a inversão dos fluxos migratórios e a implicância econômica das migrações internas. Eu disse pra ele que ele tinha que parar de ser pessimista, e que às vezes o senso comum também é correto e sábio (Lula saiu com mais de 80% de aprovação).
Esse meu namorado é do tipo que não sabe terminar uma discussão sem vencer
(nem eu!) e me chamou de nordestina que se faz de vítima. Nossa! Aí foi uma nova discussão sobre privilégios (que "aprendi" no seu blog). Ele Homem, Branco, Europeu, da Capital Berlim não pode falar nada sobre discriminação, porque nunca sofreu nenhuma, pelo contrário; em todo lugar que ele chegou, principalmente na Argentina (que é racista pra caramba), as portas se abriram pra ele.
Bom, assim que cheguei para a conferência em Paris percebi o tumulto de gente esperando para receber Lula. E eu que pensava que o status de Lulinha popstar só existia no Brasil.
Me juntei à multidão num lugar estratégico por onde passaria Lula para tirar uma foto bem de perto, já que aos
alunos nos cabia o segundo andar do auditório. Troquei um par de palavras com conterrâneos brasileiros que não conseguiram entrada para o evento, e pasmem, eles eram estudantes de doutorado da conceituadíssima Universidade Sorbonne. Eu me senti uma privilegiada, mas mesmo assim, arrisquei meu valioso lugar no auditório para ficar na entrada à espera.
O ex-presidente Lula iria ser condecorado com o 16o diploma de Doucteur Honoris Causa em 140 anos de história. Finalmente, após a conferência fechada à imprensa, Lula iria passar por nós. Toda a f
ormalidade do presidente, diretor e professores em becas de gala, quase vai por água abaixo devido à informalidade das pessoas gritando o nome de Lula ao som de uma das nossas inspiradas batucada. Momento único em que essa instituição secular se rendeu ao barulhento carnaval brasileiro para recepcionar Lula.
Eu, que deveria ter ido ao espaço reservado aos estudantes, entrei junto com a comitiva de seguranças. Sorte. E tinha um lugarzinho pra mim. Eu estava emocionada, o Lula parecia emocionado, isso só pela calorosa recepção, mas muito ainda estava por vir.
Os discursos foram emocionantes do começo ao fim. Foi minha primeira oportunidade de escutá-lo e vê-lo a
o vivo. Lula improvisou antes e depois do seu pronunciamento formal. Seu carisma é indescritível. Sobre o conteúdo dos discursos, aqui estão na íntegra. E aqui está o pronunciamento formal do presidente.
Foi um discurso emocionante para mim, que votei nele nas suas duas eleições (inaugurando meu título de eleitor em 2002), e também para os não brasileiros. Sou testemunha!
Mas o mais impressionante estava por vir. Impressionante, para não dizer ridículo, foi o papelão que fez a imprensa brasileira perante o resto do mundo. No dia seguinte, vejo o resultado da entrevista c
oletiva feita pela nossa imprensa tão imparcial. Pareciam indignados porque Lula, e não FHC, que estudou e lecionou na Sorbonne, foi agraciado com o título. Tão ridícula foi a pergunta da jornalista Deborah Berlinck, do Globo, que virou piada.
Resumindo: a instituição francesa teve que sair em defesa do presidente Lula pelos mais diversos ataques por parte da imprensa nacional. Houve até jornalista que sentiu vergonha alheia, como o argentino Martín Granovsky, que publicou uma crônica sobre o episódio, intitulada "Escravistas contra Lula".
Ah... não podemos esquecer o Jornal Nacional, que deu uma notinha de 17 segundos (!) à homenagem, e depois passou uns bons 5 minutos se autoelogiando na mesma edição. Ou da Folha, que não deu uma mísera linha ao título dado a Lula, mas falou sobre um evento no Instituto FHC.
Bem, o que dizer?
Eu moro fora do país há quase três anos e isso não é novidade. Aqui fora o Brasil é destaque pelos seus feitos, pela redução da pobreza, pelo aumento do poder de compra dos brasileiros (famosos por serem turistas gastadores), e pela projeção internacional que o país conquistou e segue buscando. Já dentro do Brasil não parece que há esse respeito e admiração. Há um derrotismo que a imprensa prega e a antiga classe tradicional acredita. Nunca os empresários ganharam tanto dinheiro no nosso país. Multinacionais brasileiras florescem e tomam o mercado mundial e já dominam grandes mercados latino-americanos. Só que a class
e média se queixa por ter que engolir um “pobre” comprando carro novo, pobre no Orkut e no Facebook, porque agora eles têm computador e conexão de internet, pasmem!
Pois é Lola, não tenho muito mais a dizer, porque mais uma vez a imprensa brasileira deixou a piada quicando, pronta pra chutar: #PorquenaoFHC?

Bom, Lia esteve na homenagem e conta tudo.
Antes mesmo de sair de casa, falei super animada pro meu namorado alemão, pelo skype, porque ele está no


Era tanto argumento desfavorável ao Lula que eu apelei para o que mais me toca no seu governo. Lula começou uma revolução social, no sentido de diminuir as desigualdades sociais e econômicas entre as regiões do país, levando investimentos e projetos ao Norte-Nordeste, que antes só ficavam n

Esse meu namorado é do tipo que não sabe terminar uma discussão sem vencer

Bom, assim que cheguei para a conferência em Paris percebi o tumulto de gente esperando para receber Lula. E eu que pensava que o status de Lulinha popstar só existia no Brasil.
Me juntei à multidão num lugar estratégico por onde passaria Lula para tirar uma foto bem de perto, já que aos

O ex-presidente Lula iria ser condecorado com o 16o diploma de Doucteur Honoris Causa em 140 anos de história. Finalmente, após a conferência fechada à imprensa, Lula iria passar por nós. Toda a f

Eu, que deveria ter ido ao espaço reservado aos estudantes, entrei junto com a comitiva de seguranças. Sorte. E tinha um lugarzinho pra mim. Eu estava emocionada, o Lula parecia emocionado, isso só pela calorosa recepção, mas muito ainda estava por vir.
Os discursos foram emocionantes do começo ao fim. Foi minha primeira oportunidade de escutá-lo e vê-lo a

Foi um discurso emocionante para mim, que votei nele nas suas duas eleições (inaugurando meu título de eleitor em 2002), e também para os não brasileiros. Sou testemunha!
Mas o mais impressionante estava por vir. Impressionante, para não dizer ridículo, foi o papelão que fez a imprensa brasileira perante o resto do mundo. No dia seguinte, vejo o resultado da entrevista c

Resumindo: a instituição francesa teve que sair em defesa do presidente Lula pelos mais diversos ataques por parte da imprensa nacional. Houve até jornalista que sentiu vergonha alheia, como o argentino Martín Granovsky, que publicou uma crônica sobre o episódio, intitulada "Escravistas contra Lula".
Ah... não podemos esquecer o Jornal Nacional, que deu uma notinha de 17 segundos (!) à homenagem, e depois passou uns bons 5 minutos se autoelogiando na mesma edição. Ou da Folha, que não deu uma mísera linha ao título dado a Lula, mas falou sobre um evento no Instituto FHC.
Bem, o que dizer?

Eu moro fora do país há quase três anos e isso não é novidade. Aqui fora o Brasil é destaque pelos seus feitos, pela redução da pobreza, pelo aumento do poder de compra dos brasileiros (famosos por serem turistas gastadores), e pela projeção internacional que o país conquistou e segue buscando. Já dentro do Brasil não parece que há esse respeito e admiração. Há um derrotismo que a imprensa prega e a antiga classe tradicional acredita. Nunca os empresários ganharam tanto dinheiro no nosso país. Multinacionais brasileiras florescem e tomam o mercado mundial e já dominam grandes mercados latino-americanos. Só que a class

Pois é Lola, não tenho muito mais a dizer, porque mais uma vez a imprensa brasileira deixou a piada quicando, pronta pra chutar: #PorquenaoFHC?
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