

Depois de ver

Foi então que me surpreendi: todas as críticas, sem exceção, falavam que o filme era muito marcado pelo “homossexualismo”, traço do diretor, e trazia uma crítica à Igreja. A crítica à Igreja, ok, concordo, embora pra mim isso seja apenas uma tangente que toca o filme. Minha surpresa aconteceu quando li que o filme tratava do “homossexualismo.”
Antes de mais nada, pra quem não está familiarizado com esse debate, “homosse

A razão da minha surpresa? O filme conta, sim, com inúmeros personagens homossexuais. Alguns transsexuais. Há cenas de sexo entre homens. Isso tudo deveria me alertar que o filme trata de homossexualidade. Por que a surpresa, então?
Talvez seja porque eu sou gay. Por ser aberta e orgulhosamente gay, não consegui ver que as histórias de amor (e interesse) que permeiam o filme tratavam “da homossexualida

“Ah, mas você deveria saber! Quando você vê uma cena de sexo entre homem e mulher, não nota que é uma cena hétero?” Sim, noto. Mas isso não importa. Em geral, estou pensando em outros aspectos do roteiro, ou admirando a beleza da atriz e do ator. Não penso: “Nossa, como esse filme retrata a heterossexualidade!”

Claro, por possuir orientação sexual minoritária, sei que há amor e desejo sexual além da heterossexualidade. Deve ser por isso que, desde sempre, quando via as representações artísticas do amor e do sexo, não via apenas a heterossexualidade. Sempre soube que há um mundo lá fora.
Mas e os héteros, que são a maioria? Pelo menos @s crític@s de cinema que escrevem para a internet não estão sabendo disso não. Ou, se o sabem, ainda lhes causa espanto, a ponto de a bela imagem

Isso me lembra as ideias de uma autora feminista: Iris Marion Young. Diria ela: a imparcialidade é impossível. Qualquer símbolo do amor e do sexo está associado a uma determinada experiência do amor e do sexo, e não representa os amores e os sexos. Da mesma forma que a palavra presidente não representa qualquer pessoa que ocupa esse cargo -– representa os homens.
Não representa a nós, as minorias. Oprime-nos. Serve para dizer que mulheres nã

São em momentos de surpresa como esse que toda a raiva que sinto dos vetos às representações anti-opressivas volta à tona. Exemplo desse veto: Globo vetando beijo gay na novela. Quanto tempo demorou mesmo pra termos uma protagonista negra, hein?
Héteros, por favor, não me entendam mal: não é errado achar estranho um filme com tantos gays e trans. É errado que haja tão poucos filmes com gays e trans. É errado que haja tão poucas representações artísticas com gays e trans. É errado que haja tão poucas representações

Apareçamos!
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