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GUEST POST: ARTE INSPIRADA EM UM ARTIGO MEU
Como já falei aqui, não sou mais colaboradora do jornal A Notícia, de Santa Catarina, em que escrevi durante 14 anos. Uma das muitas alegrias que tive nesse período foi receber, no ano passado, o email de Marineusa
Fossa Bernardy, de 39 anos, que mora na pequena cidade catarinense Vitor Meireles. Pedi para ela desenvolver mais o que me contou no email. Publico aqui, com todas as lindas fotos que Mari me mandou. Muito obrigada pela honra de um artigo meu servir de muso inspirador, querida! Faz 10 anos que eu me interessei por pintura. Sempre achei maravilhoso e sempre sonhei em pendurar na minha sala trabalhos meus! Mas não imaginava que fosse me identificar tanto! Moro
numa cidade de interior, mas interior mesmo que somente há quatro anos possui ligação asfáltica (antes se chovia a gente quase não conseguia sair daqui). Mesmo assim, consegui me formar em Pedagogia, porém nunca exerci a profissão. E foi na pós-gradução em Psicopedagogia que descobri o meu amor pela arte.
Ingressei em cursos de pintura em cidades vizinhas, até encontrar um na cidade de Rio do Sul onde a professora exigia nosso envolvimento com a arte, o pensar e o fazer arte. Hoje faço parte do IBIART da cidade de Ibirama, um grupo que pensa e tenta desenvolver a arte e a cultura naquela cidade e região.
Eu não vivo da arte
(infelizmente ainda não dá pra viver disso). Sou dona de uma empresa na minha cidade e nas horas que posso (além da noite, sábados, domingos e feriados) me dedico a minha arte. Muitas vezes já me senti incompreendida e desvalorizada, pois na minha família e na cidade não existem pessoas ligadas à arte. Aí você precisa provar que é possível! É possível pintar tudo aquilo que a gente sente, tanto as coisas belas como as nem tanto. A arte está na minha alma e eu sinto necessidade de colocar isso na tela!
Procuro transmitir os meus valores, a minha forma de ver o mundo, as emoções e s
entimentos que ele me provoca, mas principalmente gosto de transmitir os valores feminimos, que sempre aparecem nos meus trabalhos. Então, quando surgiu a possibilidade de realizar a exposição com o tema RECICLAR a minha primeira ideia foi: RECICLAR MULHER! Mas no início não conseguia pensar em como colocar isso na tela. Fiquei quase um mês pesquisando e pensando, e nada... Até que vi a matéria no jornal, na coluna Cartas da Lola: "Cirurgia para padronizar vaginas". E logo pensei: ACHEI! Era tudo aquilo que eu estava querendo dizer, mas a minha forma de dizer não é escrevendo, é pintando! Então encomendei uma tela grande, 1,20 x 1,20, e comecei a planejar o trabalho. Fiz m
uita xerox do texto, de algumas palavras e até de frases que eu achei importantes e comecei a montar a tela. Foram mas de 30 dias de estudo e pintura e lá estava ela... quase pronta! Mas aí bateu a paranoia! Será que estou no caminho certo? Será mesmo que posso falar em reciclar mulher? Será que falar de menstruação, copinho de silicone, coletor menstrual e cirurgias plásticas vai pegar bem? Cheia de dúvidas, mas certa que estava no caminho por pintar algo que mexia e mexe tanto comigo, fui em frente. Terminei o trabalho e o levei para a exposição. No final das contas, foi muito legal e chamou a atenção das pessoas.
O Reciclar Mulher é tudo aquilo que sempre lutei e acreditei na minha vida: a minha valorização como mulher! Mulher que corre atrás de ser mãe, profissional, amiga, amante, irmã, filha e tudo aquilo que somos. Mas principalmente mulher que nunca perde a sensibilidade, que carrega o mundo nas costas todos os dias sem perder a firmeza naquilo que acredita. Mulher que deve ter clareza da beleza da sua condição de mulher. Que precisa reciclar o amor ao seu corpo de mulher para descobrir a beleza única que cada uma de nós possui. Que precisa reciclar seus conceitos de ser "normal" e ser diferente. Deixar aflorar e saber respeitar o belo que existe nas nossas partes mais íntimas. Reciclar nosso desejo de ser "normais" e desco
brir que na diferença encontramos a beleza!
E termino escrevendo uma frase que gosto muito da nossa querida Clarice Lispector (ela sempre me inspira muito): "Sabe o que eu quero de verdade? Jamais perder a sensibilidade, mesmo que às vezes ela arranhe um pouco a alma. Porque sem ela não poderia sentir a mim mesma."
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