
Ser feminista não tem sido fácil por aqui. E é aí que o seu blog entra, Lola: é bom saber que eu não estou so

Os sutiãs foram a gota d’água porque esse é um tema comum aqui em casa -– minha mãe anda atrás de mim reclamando “Vai pôr um sutiã! Seus peitos vão cair!”, como se eu estivesse tentando enfiar os dedos na tomada. Quer dizer, peitos caídos? É o armagedom da existência feminina!
Mas toda família tem uma ovelha negra, e adivinha, a feminista do clã sou eu.
Quando eu comecei a comentar sobre feminismo com a minha mãe, eu achei que ela fosse agir como sempre, debatendo o assunto comigo. Mas ela fez cara

Descobri também que ela, que sempre condenou qualquer demonstração homofóbica, odeia lésbicas. Gays, dois homens, tudo bem. Gays, duas mulheres, um horror! Engraçado, será porque eu sou mulher? Quer dizer, tudo bem ser homossexual, contanto que não seja a minha filha. Pra sorte dela, sou hétero. Mas e se não fosse? E pensar que ela é conhecida na família, cheia de preconceit

Minha mãe é gorda. Eu também sou. Nunca dei bola pra isso, minha saúde sempre foi de ferro, e sinceramente, quem precisa de cintura escultural? Eu fui ensinada a valorizar o que se tem por dentro. Porque esse é o certo, e porque é isso que importa, se a história dos meus pais me ensinou algo sobre caráter. Eu acreditava nisso, piamente. Entre as minhas amigas, sempre fui a do discurso anti-ditadura-da-magreza, a que mandava cuidar da saúde e fugir das dietas malucas. Minha mãe sempre me alertava sobre as propagandas enganosas na TV e os distúrbios alimentares, e como não valia a pena se arriscar.

Aí um dia ela chega em casa: “quase te trouxe aquele remedinho pra emagrecer que a gente viu na tv...”.
Não era piada.
Ah, é. Esqueci de dizer: ela é médica.
Uma profissional da saúde sugerindo remédio fajuto pra própria filha.
Para o mundo que eu quero descer!
Eu tenho um sério problema em me enfiar em suplex e sair pra fazer exercícios que eu odeio porque outra pessoa acha que eu devo. Vai contra a minha natureza.
O sutiã?

Tenho inveja dos homens. Poder andar por aí sem ficar se importando com a harmon

Toda vez que eu vou sair de casa, preciso ficar de olho em um possível estuprador. Parei de ir à praia aos 13 anos, porque sempre pareci mais velha e era impossível andar sem ser alvo de olhares e cantadas (eu queria usar uma camiseta por cima do biquíni, que pra começo de conversa era pequeno demais pro meu gosto, mas a mulherada da família entrava em pânico se eu não me bronzeasse direito). E ao contrário do que pensam os mascus, ca

Ah, os mascus. Sem palavras pra descrever como eu fiquei pasma quando descobri que eles existem. “Nós homens somos criados com contos de fadas que nos ensinam a ser gentis”. Oi? Quem cresce assistindo as princesas da Disney somos nós, mané. Vocês assistem Transformers. Que aliás é muito mais legal. E violência doméstica, cantadas, estupros, que bela maneira de ser gentil. Gosto desse argumento dos fairy tales porque me lembro das minhas amigas que eram populares com os garotos. Eu gostava de observar a diferença de comportamento dos rapazes: quando elas estavam presentes, era "eu te amo"; quando ausentes, "me deixou

Outro exemplo muito bom dos mascus é “A mulher não tem sua sexualidade reprimida”. Ah, não. Não mesmo. A gente fala de sexo o tempo todo, sem se preocupar em ser tachada de puta, de safada, de pervertida. A gente assiste pornografia, tem revistas voltadas pra nós, somos incentivadas por nossas mães a passar o rodo. Masturbação não é sinal de lesbianismo, é só uma coisa corriq

Ai, Lola. Não disse que eu ia escrever pra caramba? Acho que vou parar por aqui.
Mas taí, uma amostra da realidade de uma das tuas leitoras. Vou continuar acompanhando o blog. Escreva, Lola, escreva! Não me deixe sozinha à mercê da lavagem cerebral. Eu também quero queimar os sutiãs.
No comments:
Post a Comment