

Muito prazer, meu nome é Ana, tenho 17 anos. Acompanho seu blog há algum tempo. Já pensei muitas vezes em escrever pra você, mas sempre acabava mudando de idéia – porque eu sou daquelas que não nasceu pra escrever duas linhas, sabe? Eu com um teclado ou papel e caneta sou um risco... eu escrevo pra caramba, pra caramba mesmo!

Mas aí eu li o post de março de 09, “Sim, eu quero queimar sutiã”, e não pude me aguentar. Então, me desculpe por torrar a sua paciência desse jeito, eu sei que esse e-mail vai acabar sendo quase um livro e que você provavelmente tem muitas outras coisas pra fazer; mas se você tivesse um pouco de paciência, eu ia gostar de trocar uma idéia. Só pra deixar o meu depoimento pessoal sobre a vida de uma feminista.
Nunca me dei muito bem com toda a história de ser mulher. Na verdade, quando eu era pequena e estava muito distraída correndo por aí eu não ligava; mas eu tenho que dizer que desde que entrei na adolescência isso se tornou um saco. Do nada vieram com uma história de que eu tinha que passar uns pós coloridos na cara, torrar meus cabelos na chapinha, usar uns brincos compridos que machucavam as minhas orelhas... O que, na minha singela opinião, não fazia sentido nenhum. Seria exagero se eu me comparasse a um vaso de flores? Porque era exatamente assim que eu me sentia – uma coi

Sabe, sou filha de uma mãe solteira. Minha mãe comeu o pão que o diabo amassou nas mãos do meu pai, mas enfim. Ela deu a volta por cima e com muita garra me criou. Modéstia à parte, ela fez um ótimo trabalho. Eu não devia me gabar, mas eu sempre fui o exemplo a ser seguido. Responsável, competente, inteligente, notas 10 pra dar e vender. Meu cérebro sempre foi a prioridade; eu fui criada pra ser independente, madura e justa. Minha mãe sempre abominou todo o tipo de preconceito e sempre me incentivou a questionar, a ter opinião. E ela própria era o exemplo perfeito disso.
Então quando todas essas coisas deixaram de importar, foi muito confuso. Sim

Que outras mulheres queiram ser bonitas não me irrita. Mas ser obrigada a ser bonita, ou a ser o que os outros acham que é bonito, isso me irrita demais. Não quero a extinção da vaidade, quero a opção de gostar disso ou não. Por que eu tenho que me submeter a uma série de coisas que eu não gosto de fazer, se ninguém tem nada a ver com a minha vida? Não gosto de maquiagem, D

Parece que desde que eu entrei na adolescência, as coisas viraram de cabeça pra baixo. Adeus ética, adeus coerência, adeus ser você mesma. Vale tudo para ser aceita. Arriscar perder a vida numa mesa de cirurgia por um motivo estético, pode. Ser feminista, não. Não li uma linha sobre o assunto, mas dizem que as feministas querem matar os homi!
Eu acho isso tudo tão estúpido. Mas não precisa ser um gênio pra perceber que ninguém a minha volta concorda com isso – tenho uma amiga que não descansou até fazer uma cirurgia pra aumentar o bumbum, porque se sentia a criatura mais infeliz do mundo sem uma bunda (que é uma parte vital do corpo, a gente sabe). A mãe dela quase pôs o mundo abaixo quando soube, fez uma baita pregação religiosa sobre "o valor da vida"... Depois

Então eu fico de boca fechada porque se começar a dar opinião na ordem natural das coisas (que inclui mulheres que não vivem sem bunda e têm medo de gordura e da gravidade) eu vou ser vista como a louca, a rebelde, a sapata...
E quer saber? Eu fiquei com cicatrizes nos meus joelhos. Tenho toneladas delas por todo o corpo, aliás.
Me pergunto, de que adianta usar salto alto, maquiagem e chapinha? Pra quê fingir que eu tenho 5cm a mais, olheiras a menos e cabelo liso se na verdade eu não sou assim? Um banho, e já era. Se eu acho inútil, por que tenho que usar?
Meu problema não é estar fora dos padrões. O meu problema é não querer entrar nos padrões. É achar que os padrões são imbecis. E não conseguir convencer ninguém disso.
Leia a segunda parte do guest post da Ana.
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