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GUEST POST: PAREÇO JOVEM DEMAIS
Vitória, uma estudante de História de 19 anos, me enviou este relato sobre um preconceito que ainda não tratamos aqui: como é parecer sempre mais jovem, ainda mais num período conturbado como a adolescência?
Tenho olhos azuis, sou loira, magra, branca. Pelos padrões da sociedade eu me encaixaria perfeitamente
no "modelo", não teria nenhum problema, estaria tudo certo na minha vida, certo? Não. Eu sofro preconceito todos os dias. Sofro preconceito por ser pequenininha. Deixe-me explicar: sempre pareci mais nova do que sou. Quando tinha 13 anos, achavam que eu tinha 10, quando tinha 15 (aquele ano horrível, o primeiro colegial) achavam que eu tinha 12... hoje tenho 19 anos e acham que eu tenho 15.
Vocês imaginam o que era (e o que é) para uma pré-adolescente "estar presa" num corpo de criança? Todas as minhas amigas já haviam ficado menstruadas (eu só fiquei com 16), já estavam desenvolvendo seios, bunda, enfim, um corpo, e eu lá, estagnada, com cara de "anjinho". Todas elas também já ficavam com os meninos da sala, conversava
m entre elas sobre isso, e lá estava eu de fora do assunto, pois era muito "neném" pra participar de uma conversa dessas. Pois isso era um tremendo preconceito, já que eu nunca fui menos inteligente ou capaz do que qualquer uma delas!
Nunca vou esquecer de um dia que fui numa festa de 15 anos, e eu era uma das 15 meninas que seguravam a vela, dançavam a valsa e todas essas coisas de festas de debutante. Primeiro, eu não cabia no vestido, tive que ajustar um monte para fazer caber em mim (o tamanho P era grande demais!), depois, tive que colocar um bojo no lugar do sutiã, pois meu peito não enchia o vestido (tudo isso já me fez querer chorar, me enfiar num buraco, morrer, sei lá). Cheg
ando na festa, minha "dupla" era um menino de 10 anos, primo de aniversariante (viva!). E, por fim, o fotógrafo não entendeu quem eu era e me colocou junto com as crianças da festa na hora da foto. Eu sei que é uma história bem boba, mas na hora eu dei muita importância pra isso. Vejam, foi A festa mais falada da turma, e lá estava eu ridicularizada pelo fotógrafo (e pelos olhares e risinhos de graça enquanto eu passava).
Eu vivo esse tipo de situação até hoje. É sempre horrível não ser tratada como você merece, e eu sou tratada todos os dias como alguém de 15 anos, e pior, por pessoas que me conhecem. São amigos, familiares, conhecidos, que não conseguem entender que a image
m não é o que conta. E eu tentava tanto, tanto, me encaixar dentro dos padrões! Brigava com minha mãe para achar "A calça jeans" mais moderna, bonita, pagava uma nota, ajustava... e ninguém reparava, pois nada era o bastante, eu podia me vestir com a roupa mais madura, me maquiar, cortar o cabelo, falar palavrão, ler demais, ser inteligente -- que sempre iriam me tratar como a criança que eu aparentava. Só de pensar nas horas que fiquei na frente do espelho olhando meu corpo, tentando pensar em jeitos de ficar mais de acordo com a idade, me deixam muito triste. Tudo que eu me fiz, tudo que fiz minha mãe passar, o tanto que chorei, que deixei de aproveitar. Antes eu ficava brava, irritada, agora ando ficando triste, deprimida.
Eu achava que
na faculdade ia ser diferente, as pessoas iam entender, enfim, agora eu tenho 19 anos... mas não! Na faculdade anda sendo pior ainda! Eu nunca tive namorado. Nunca! Sempre quis, nunca consegui. Sei que é falta de autoestima, mas aí já é pedir demais, né? Além de sofrer preconceito todos os dias, ainda tenho que ligar o "sou mais eu" e sair dando em cima de tudo e todos?
Tocando em outra questão de preconceito: eu, como nunca ficava com ninguém, tinha fama de lésbica! Ah, então é assim! A pessoa é reprimida e ridicularizada, não tem coragem nem de falar com os meninos (que riam da minha cara) e por isso é vista como lésbica. Bonito, muito bonito.
E, saindo da questão amorosa, tem ainda o problema profissional. Não sou leva
da a sério! Fui numa entrevista de emprego e o cara (nossa, nem quero pensar nesse ser) simplesmente riu (riu!) na minha cara: "Achei que você tivesse 18 anos!" Eu disse que tinha, ele continuou rindo e me despachou de lá rapidinho. Pra dar mais exemplos, tem também o eterno problema da praia (eu pequeniníssima e minhas amigas mulherões), do bar (só pedem o meu RG), da balada (idem), da aula de autoescola (autoexplicativo), são infinitos!Lola, quis escrever esse relato para falar que não são só as pessoas negras, gordas, homossexuais, narigudas, orelhudas, testudas, barrigudas, olhudas, bocudas, enfim, todas que por algum motivo estão fora do padrão, que sofrem preconceito. Nós, os pequenos, sofremos também! É incrível como, pra se sentir bem nessa sociedade, tem que se encaixar em tantos, tantos padrões... E
reiterando: é preconceito, sim! Preconceito é receber tratamento diferenciado, é não ser levado a sério, é não ter tato com o outro. É muito, muito chato. Às vezes não tenho vontade de sair de casa. Mas são blogs como o seu, Lola, que andam me fortalecendo. Foi através de textos seus que fui entendendo o quão absurda é essa situação de preconceito, e só isso para deixar mais tolerável esse mal que vivo diariamente. Não-perfeitos, uni-vos!
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