Monday, November 14, 2011

A SENHORA ESTÁ NO CÉU

Senhoras usam chapéus?

Como hoje é praticamente um feriado pra muita gente (não pra professor universitário, chuif, que sempre tem milhares de textos pra corrigir, provas pra preparar, papers pra escrever etc), não espere nenhum post super profundo. Ontem recebi um e-mail muito gracioso de uma leitora recente, a Patrícia:

"Googando vida afora eu fui bem sozinha e encontrei o blog da Lola! A estrada (do auto conhecimento) é longa e o caminho é deserto... Que bom, Lola! Vou ter que ir devagar porque senão vicio, até os comentários são ótimos e as 'brigas' ali são boas, hein? Belos cérebros se digladiando com uma elegância que dá gosto!
Tava gugando sobre 'ser chamada de senhora' que eu odeio com todas as minhas forças, rsrs, e caí num post seu, deixa ver... ah, tá, esta séria senhora assina, lembra? O que me enoja é a forma cheia de pejo (disfarçada de deferência!) com que esse senhora muitas vezes é dito. É quase como se nos dissessem 'Escuta aqui sua velha escrota e feia, vc está fora dos padrões do minimamente aceitável, não é jovem nem bonita...' Tá. Posso estar exagerando e certamente estou colocando minha mágoa em cima de algo, talvez, sem grande importância, mas acho que vc concorda que isso acontece sim, muitas vezes. Infelizmente. Pois é, eu fiz 42 agora em setembro, mas sou chamada de senhora desde os meus 20 e poucos, mesmo dentro de um contexto em que não cabia senhora, saca, tipo, não era em ambiente de trabalho, ou, sendo atendida por um vendedor, e isso sempre me incomodou muito porque, olha só, Lola, na sociedade em que vivemos onde as pessoas deixam de comer pra comprar um pote de creme anti age de 100 reais, vai falar que aparência jovem não importa? Agora, foda mesmo é ser chamada de 'sênhóóóóra' por senhores/as que são bem mais velhos que eu... Deixa prá lá... O que importa é que achei seu blog e agora sou mais feliz!) e só queria que você soubesse que considero tê-lo descoberto um presente!
Beijo bem grandão pra você e um domingo amazingly happy! (Putz, a mulher é doutora em língua inglesa e eu aqui com meu inglesinho áimi nóti dógui nôu! Hahahahaha)."

Seja bem-vinda, Patrícia, e obrigada pelo carinho! Incrível que alguém tenha chegado e, pior ainda, ficado no blog por causa de um dos textos mais estranhos que já escrevi. Aquele post atira em todas as direções. Não quero me repetir muito, mas resumindo: também detesto ser tratada de senhora. Parei de chamar os mais velhos desta forma desde que, quando eu era criança, pedi as horas prum senhor na praia, que respondeu com “o senhor está no céu; são … horas”. Em compensação, minha mãe automaticamente condena qualquer um (tirando, talvez, os filhos) que não a chamem de senhora. Ela acha o cúmulo do desrespeito. Não deve estar tendo muito motivo pra reclamar em Fortaleza, porque por aqui o “senhora” é muito comum. É uma questão cultural, e não tenho vontade de lutar contra todo mundo o tempo todo. Meus queridos aluninhos e aluninhas (o diminutivo é carinhoso) sempre me chamam de senhora. Felizmente, a maior parte das nossas aulas é em inglês (é que eu tenho uma disciplina, Inglês Técnico, que é em português, e os alunos não são os de Letras, mas de todas as outras áreas imagináveis), e quando dizem “you” não precisam decidir se estão me chamando de você ou de senhora. É uma vantagem do inglês, convenhamos. Só que, em qualquer intervalo, em qualquer troca de palavras que seja fora da sala de aula, lá vem o pessoal me chamar de senhora. E acho que não tem muito o que fazer mesmo, Pat. Afinal, eu, com 44 anos nas costas, sou muito mais velha que meus aluninhos de 18, 20, 23... Alguns poucos têm mais de trinta anos, mas são poucos (bem diferente da faculdade em que cursei Pedagogia, em que metade das alunas era recém-saída do ensino médio, e a outra metade tinha mais de 30 anos, eu inclusa).
Agora, sobre isso de ser chamada de senhora como se fosse insulto, como se fosse sinônimo de velha escrotossaura, ou eu sou muito ingênua e nunca notei (mais provável), ou nunca aconteceu comigo. Praticamente todos os insultos que recebo na vida vêm da internet, e por aqui a galera trollística costuma ser mais direta. Mal posso esperar pelo próximo “A senhora é uma ingrata com o patriarcado feia, chata e gorda, além de ser uma comunista de esquerda que defende o genocídio em massa e não penteia o cabelo, não necessariamente nessa ordem”.

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